Capítulo 12 - Memórias ruins aparecem a qualquer hora

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Você está parecendo um zumbi de mil anos.

— Obrigada, Julie – ironizei fechando meu armário. — É maravilhoso ser recebida logo de manhã cedo sendo comparada a uma anomalia apocalíptica.

Minha amiga revirou os olhos. Bem, eu não tinha culpa.

A verdade era que conciliar os treinos com Nicholas, os estudos e o time de hóquei estava sendo bem mais complicado do que eu imaginei. Eu estava tão sem tempo que meus avôs estavam começando a reclamar do meu sumiço. E eu não estava nem há um mês em São Francisco! Novamente eu não tinha culpa, quero dizer, quem praticamente tinha me expulsado foi vô Hermes e ele nem parecia estar querendo me chamar novamente para sua casa.

— Sinto muito por você, amiga – Juliette falou. — Sinto ainda mais por você ter que enfrentar as aulas de mademoiselle Désirée com tanto sono acumulado.

Entrei na sala ainda rindo, mas em questão de segundos uma senhora de mais ou menos um metro e meio me fuzilou com os olhos. Calei a boca imediatamente, finalmente entendendo o que Julie havia me dito.

O que Juliette não contou, no entanto, era quão insuportável era aquela mulher naturalmente francesa, bem como ela mesma fez questão de frisar. Juro que se não fosse por Sally, eu já teria pegado meus livros e jogado na cara da professora. Mademoiselle Désirée havia me repreendido no mínimo cinco vezes em trinta minutos por motivos absurdos. Ela me deu bronca pela maneira a qual eu me sentava, pelo jeito que eu escrevia, pela minha postura e pela minha pronúncia. Segundo a própria, eu parecia uma ornitorrinco em trabalho de parto pronunciando os verbos anotados no quadro. Eu estava quase ao ponto de matá-la!

No fim da aula, precisei controlar meus impulsos de sair soltando serpentinas pelos corredores do colégio. Segui sozinha para minha próxima aula e lamentei não compartilhar mais matérias com meus amigos. Sobreviver ao ensino médio era muito entediante sem companhia. 

A próxima aula seria de Química, matéria a qual eu me auto declarava uma excepcional e grande bosta. Eis uma disciplina que veio das profundezas obscuras do Tártaro para tornar minha vida tão fria e deprimente quanto a de seus habitantes. Eu falava sério! Na minha cabeça era um milagre como eu havia conseguido passar pelo primeiro ano sem reprovar. Para piorar, Evelyn também estava naquela aula e era demasiado irritante ter que atura-la sozinha.

A bruxa ruiva não perdia uma oportunidade de me tirar do sério: ela zoava meu cabelo, ria das minhas perguntas e fazia piadas sobre minhas sardas. Achei isso um absurdo porque, para início de conversa, se ela fosse naturalmente ruiva como afirmava ser, Evelyn teria sardas até na bunda. Simpatizei com uma garota que havia mandando que Evelyn calasse a boca depois que ela teve uma crise de risos depois que errei uma questão no quadro. Juro que quis abraçar aquela menina e não soltar nunca mais.

Consegui permanecer viva depois de mais um dia cansativo na escola e me senti uma vitoriosa. Naquela tarde eu não teria treino de hóquei nem de patinação com Nicholas, uma vez que meu treinador iria ao médico.

Meu celular tocou dentro da minha bolsa justamente quando eu estava arrumando minhas coisas no armário. Era um número desconhecido e fiquei receosa de atender, mas quando o fiz, era apenas minha madrasta.

— Brise, aqui é a Sol – dei oi e deixei que ela falasse. — Você vai ter alguma coisa para fazer agora à tarde?

— Na verdade, não. Por que? – perguntei já indo para o estacionamento.

Estou em um shopping perto da sua escola com Matilde – disse. — Chamei os meninos para virem aqui e agora só falta você.

Aquilo me surpreendeu bastante. Eu tinha muita coisa importante para fazer, incluindo tomar banho na hidromassagem do meu pai a tarde toda e dormir lá mesmo. Além do mais, eu não esperava que seria inclusa tão rapidamente na vida de Alexander e sua nova família.

Por trás do gelo [Em revisão]Where stories live. Discover now