Capítulo 33 - Avalanche de azar

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Havia um ditado que dizia que a desgraça sempre vinha em três. Para a minha infelicidade, eu tinha provado isso na pele.

Tudo começou um dia depois que descobri que Clarisse queria a minha guarda. Eu ainda não tinha falado ao meu pai que eu ouvira sua conversa, e nem sei se o faria. No fundo, eu queria que ele mesmo me contasse sobre.

Além das provas que estavam chegando, forçando-me a estudar como nunca, ainda havia os meus treinos. Hank me liberou do time de hóquei naquela semana, mas só depois que Nicholas praticamente o obrigou a tal, o que eu achei que pudesse ser um tempo de folga, foi bem diferente, na verdade. Nick estava sugando toda a minha energia vital com seus treinos, até confesso que estava fora de órbita pensando em como Clarisse era uma egoísta dos infernos, mas continuava a ser exaustivo do mesmo jeito.

Quando fui liberada, duas horas depois do normal, eu estava literalmente destruída. Meus braços estavam doloridos e eu nem queria ver o estado dos meus pés. Assim que comecei a dirigir, comecei a vislumbrar como seria o meu funeral, pois, do jeito que meu corpo estava, um acidente fatal estava próximo. Meu celular tocou sobre o banco de carona, mas não me dei ao trabalho de ver quem era, muito menos atender. Desde a noite anterior vovô me ligava incansavelmente, embora eu não atendesse nenhuma vez. Sinceramente, não atenderia por tão cedo. Quando meu telefone tocou pela quinta vez consecutiva, fui obrigada a pegá-lo para pôr no silencioso, entretanto, o nome brilhando na tela, não era de vovô.

— Sua mãe está aqui. — Sally falou do outro lado. — Por que não me contou?

— Ela não é a minha mãe, Sally. — a ouvi resmungar. — Porque foi muito do nada! Em um segundo eu estava comemorando o jogo e no outro Clarisse estava aqui.

— Caramba, patinadora. — assobiou. — Como você está se sentindo?

— Como você acha? Passei a noite inteira planejando a minha fuga para o Tibete, onde eu vou dar aulas de inglês e ser babá.

Sally bufou do outro lado.

— Preciso que você passe aqui para me pegar. — pediu. — Sua... Digo, Clarisse veio aqui quando eu estava e me fez tantas perguntas sobre você que tive vontade de tacá-la na parede.

— Não preciso de motivos para fazer isso. — murmurei.

— Que seja, Bris. — resmungou. — Posso passar algum tempo na sua casa?

— Claro que sim. Sol não vai se incomodar, além do mais, aquela casa tem tantos quartos vagos que parece um hotel.

Não sei por que, mas Sally começou a gargalhar do outro lado da linha. Só depois de certo tempo ela voltou a falar, mas ofegante.

— Jesus, Bris! — respirou fundo. — Você está me dispensando só para poder dormir com Apolo!

Bufei.

— Claro que não, palhaça. — retruquei. — Vou te esperar na esquina, briguei com meu avô e não quero ter de vê-lo por tão cedo. Depois explico. — desliguei sem esperar sua resposta, pois eu já estava próxima de casa e queria que ela arrumasse logo as suas coisas.

Céus! Agora Clarisse interrogaria os meus amigos? Isso era o cúmulo da perseguição! Por que ela tinha que voltar? Ela mesma não disse que se casou e teve outra filha? Qual era a necessidade de sair da França? Aquela menina, que eu me recusava a chamar de irmã, não tinha escola não? Com tantos dilemas na cabeça, nem percebi quando cheguei ao lugar marcado.

— Você andou rápido! — falou com dificuldade, colocando sua mala no banco traseiro. — Só deu tempo de pegar os itens básicos.

— Básicos? — exclamei descrente. — Devem ter uns dez quilos de roupa aí dentro.

Por trás do gelo [Em revisão]Where stories live. Discover now