Ice Castles [l.s.] new version

O Lago Perto Da Sua Casa

[n/a] Oi. Erica, se você está lendo isso, só quero deixar claro que você é uma péssima amiga que só quer o meu mal. Te adoro mana <3

27 de Dezembro

Já era noite quando Anne e Des chegaram no hospital para buscar Harry. Sua mãe ainda estava muito abalada com o que tinha acontecido, mas tentava passar tranquilidade para não deixar o filho ainda mais transtornado. Dr. Jane havia conversado a sós com eles para lhes explicar melhor a situação e os aconselhar sobre o que fazer nesse momento. Ele foi levado ao estacionamento numa cadeira de rodas porque ainda poderia estar com o senso de direção um pouco abalado, ainda mais num ambiente que ele não conhecia. Decidiram que seria melhor levá-lo para a casa de seus pais ao invés de seu apartamento. A viagem de volta foi angustiante de tão silenciosa. Gemma pediu dispensada do trabalho e também foi para casa ajudar.

Harry só conseguia imaginar como seria a sua vida agora. Como ele iria terminar a faculdade? Será que ele ao menos conseguiria voltar a fazer seu curso de Direito, ou iria apenas se trancar no quarto como o inútil que ele era? A segunda opção parecia a mais viável. Ainda que tivesse ajuda de colegas e da tecnologia, uma hora ele teria que aprender braile. Um idioma novo sempre é difícil, ainda mais quando ele é baseado em pontinhos numa folha de papel. Aliás, quem iria confiar um caso a um advogado cego? Um homem que não seria nem capaz de ler um processo sem ajuda? Essas coisas exigem sigilo, ele não poderia pedir para um juíz que a sua mamãezinha lesse a acusação para ele.

Se você o perguntasse quais eram as piores sensações do mundo ele diria isso: 

1- Acordar, abrir os olhos cheio de expectativa e não conseguir distinguir nada. Era como se estivesse preso em um pesadelo eterno, uma paralisia do sono sem fim.

 2- A única coisa que ele podia ver eram figuras embaçadas. Sabe quando uma foto sai borrada? Era isso todo dia, e a claridade perceptível para ele era muito baixa. Ele tentava abrir a porta e acabava dando de cara na parede, porque para ele era tudo igual.

3- Não ter nem noção de como seria seu futuro.

Ele nem conseguia ver seu pôster de Disney On Ice mais. Era o pôster daquela primeira apresentação de patinação no gelo que ele viu com sua irmã quando os dois eram crianças. Só Deus sabe como ele amava aquele pôster e quantas memórias ele trazia. 

Sua família estava fazendo de tudo para tentar ajudar, o conduziam de cômodo em cômodo, narravam o que passava na televisão, o ajudavam a cortar a comida... mas aquilo apenas não parecia certo, ele não queria ser dependente, ser um fardo para eles. Aquilo não traria sua visão de volta, então porquê tentar? Seus amigos haviam o bombardeado de mensagens quando souberam, até perceberem que ele não podia ler as mensagens. Então eles vieram visitar, quase que em uma excursão, até mesmo os meninos que faziam parte do time de futebol e agora estavam de férias. Menos Louis. Ele não apareceu.

Ele passava o dia ouvindo o que acontecia ao seu redor, tentando assimilar os sons, mas tudo parecia uma barulheira. Ele não conseguia separar o barulho dos carros, dos gritos da sua vizinha, dos latidos dos cães... tudo parecia uma confusão, um misturado de coisas para lhe confundir. E enquanto pensava nisso ele ouviu a sua porta abrir e também os passos de alguém, provavelmente sua mãe.

"Harry, são 11:30 da manhã e eu sei que você está acordado desde cedo. Levante dessa cama agora, vamos para a sala, eu vou fazer o almoço." Era Anne, assim como ele havia desconfiado. Ela sabia que aquilo era uma situaçõa muito difícil, não conseguia nem imaginar o que faria se fosse com ela, mas ver o seu filho naquele estado depressivo partia o seu coração. Se fosse possível ela trocaria de lugar com ele em um piscar de olhos. E por mais que ela sentisse empatia sentia também raiva. Ele sempre teve tanta vontade de viver, de fazer coisas, não podia desistir daquele jeito, porque isso não é algo que o seu Harry faria.