Prólogo

8.2K 365 11
                                    

Eu só quero que você entenda

O meu sentimento é verdadeiro

Não há segredos quando o amor chega

Seu olhar foi de encontro ao meu

O meu destino está junto ao seu

Meu vício, mania

Eu desvendei os mistérios do seu coração.

(Mistério - Jorge e Mateus)

Paula Andrade

- Gorda!

- Feia!

- Palhaça!

Era assim que eu era chamada na terceira série. Olhava-me no espelho para o meu corpo grande e arredondado, meu cabelo cor de fogo, minhas sardas no rosto e meu aparelho nos dentes e via que as crianças tinham razão.

Eu não era bonita.

Não me sentia bonita.

E minha mãe não ajudava em nada com a auto-estima de sua filha. Do contrário, constantemente fazia questão de expor, inclusive na frente de seus empregados, o quanto eu estava fora do peso.

- Espelhe-se nas modelos, Paula. – apontava ela quando eu a acompanhava em alguns desfiles de moda. Minha mãe era uma famosa estilista. Dona de uma marca de roupas e sapatos muito conceituada, ela dirigia sua empresa e sua vida de forma rígida. A única coisa que não conseguia controlar era a gordura de sua única filha.

– Vê como são magrinhas? – dizia para me "incentivar". – São amadas, desejadas, elas brilham. A única forma de ser ter o que elas têm é sendo magra, filhinha.

- Mas eu quero comer! Tô com fome, mãe! – dizia revoltada com aquele papo. Sempre fui um pouco rebelde e cheia de vontade, talvez até um pouco mimada pelos meus avôs.

- Não vai comer agora, sua malcriada! Acabou de fazer um lanche no carro!

Era sempre assim. O pouco tempo que passávamos juntas, brigávamos. Por isso eu preferia a presença dos meus avos maternos. Desde que nasci e meu pai faleceu logo depois, meus avôs decidiram morar junto com minha mãe para ajudar na minha criação.

Acho que já desconfiavam que sua filha jamais fosse capaz de cuidar de uma criança sozinha. Morávamos em um apartamento espaçoso na região do Morumbi em São Paulo.

Mas eu vivia triste na escola, pois não conseguia fazer amigos. Eu era tímida e sempre que procurava as outras crianças para brincar elas se afastavam e me xingavam horrores. As coisas só mudaram quando eu conheci Clara. Ela tinha vindo de outra escola e passou a andar comigo. No inicio, fiquei receosa pois tinha medo de que com o tempo, ela também fosse me odiar.

Mas não foi isso que aconteceu, na verdade aconteceu exatamente o contrário.

Clara insistiu comigo. E no dia que me ofereceu alguns adesivos do seu caderno da Barbie nossa amizade começou de fato.

É incrível como nossa vida pode mudar em apenas alguns segundos. A minha mudou completamente no dia em que conheci Clara.

Se não fosse ela não teria tido a coragem de morar em Londres sem o apoio da família.

Se não fosse ela, não teria voltado ao Brasil após anos morando na Inglaterra e com uma vida completamente estruturada por lá.

E principalmente, se não fosse por ela, não teria conhecido Alberto Sanchez.

O insuportável, energúmeno e estúpido homem que não consigo tirar do pensamento.

Alberto Sanchéz

Uma das paixões do meu falecido pai era andar à cavalo, e como eu vivia atrás dele sempre atento a aprender tudo que podia me ensinar, essa também se tornou uma paixão minha.

Aprendi a domar o animal, a dar-lhe carinho, a cuidar dos bichos antes mesmo de aprender a seduzir uma mulher. Descobri depois como fazer as duas coisas com precisão. A doma e sedução era artes que eu dominava sem qualquer modéstia.

Apesar de Duda Manfredini ter sido a minha primeira namorada, não foi com ela a minha primeira vez. Foi uma moça mais velha, empregada da fazenda, que me ensinou direitinho o bê a bá do sexo.

Eu, é claro, com meus hormônios de quinze anos à flor da pele, estava ávido para aprender. Passei a ter aulas práticas sempre com a moça que foi me mostrando todos os pontos de prazer do corpo de uma mulher.

Naquela época, sentia-me o rei do mundo. Com prestígio, dinheiro e uma boa pegada, poucas coisas eram negadas a mim em Arraial.

Logo depois acabei engatando um namoro sério, um dos poucos que tive na vida, com Duda.

Ela era de longe a menina mais bonita da região. Filha do segundo fazendeiro mais rico depois do meu pai, Duda era o sonho e objeto de desejo de muitos rapazes. Foi um orgulho pra mim quando aceitou ser minha namorada.

Mesmo depois que os Manfredini perderam suas terras, eu continuei ao seu lado, sedento pela sua atenção.

Mas Duda não sentia o mesmo.

E descobri que o que tivemos não foi nem sequer uma paixão.

Eu a achava linda, deslumbrante, e também admirava sua espontaneidade e alegria, mas aqueles eram sentimentos de amizade.

Tivemos nossos belos momentos, pois ela confiou em mim a sua virgindade, algo que me deixou ainda mais lisonjeado.

Porém Duda terminou tudo algum tempo depois, e descobri, quando ela saiu da minha casa naquele dia, que eu nunca a amei.

Nunca fui apaixonado por ela nem por ninguém.

Era parecido com um animal selvagem. Deixava meus instintos me tomarem e não tinha dono. Eu era o dono de mim.

Pelo menos até conhecer uma ruiva marrentinha que viraria meu mundo de cabeça pra baixo. Fazendo-me questionar tudo que eu julgava certo em minha vida.

Uma ruiva de nome Paula Andrade.

p&.@ƙ

Mais que Prazer (Livro 2 Série Segundas Chances)Onde histórias criam vida. Descubra agora