dezenove

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Tudo começou com uma manhã que saiu apenas um pouco errada. Eu acordei (dois) minutos depois do normal, minhas meias tinham tons diferentes de preto, e os ofensivos ônibus vermelhos estavam tampando minha habitual faixa de pedestres.

Dessa forma, busquei uma desculpa para atrasar alguns minutos. Encontrei uma cafeteria e rapidamente abri a porta, esperando um café meio gelado e um sorriso, mas, ao invés disso, recebi amor e uma língua queimada.

Parecia tão louco que, se eu tivesse levantado da cama apenas alguns segundos mais cedo, se os ônibus andassem um pouco mais devagar que o normal, eu provavelmente nunca teria sentado embaixo de Paris. Eu nunca teria me apaixonado pelo jeito que Harry tropeça em seus pés enquanto anda, e eu definitivamente não estaria segurando sua mão no meio do aeroporto de Paris.

"Está gostando até agora?"

Olhei ao meu redor, observando tudo. Havia, pelo o que parecia, milhares de pessoal, milhares de luzes. Eu senti um repentino instinto de correr, de escapar. Todo lugar para onde eu olhava tinha muito pares de olhos encarando de volta, barulho demais.

"Talvez devêssemos começar a explorar agora." Harry ofereceu, me olhando um pouco confuso.

Era claro que ele estava confuso - Eu estive sonhando com isso por todos os meus (22) anos. O jornal que guardei da segunda série tinha a Torre Eiffel esboçada na frente, e eu tinha orgulho do meu nome, Louis, já que é carregado de francês.

Eu quis isso por tanto tempo que fiquei com medo de sair para a rua.

E se o lugar que eu vim sonhando não fosse igual que o da minha imaginação?

Harry começou a andar em direção à saída, me puxando gentilmente. Eu dobrei meu ritmo para acompanhar seus longos passos, tentando me acalmar.

Passamos pela segurança outra vez, recebendo nossas bagagens e, finalmente, deixando o aeroporto. Era fim de tarde, o céu já estava em um tom escuro de cinza. Havia barulho em todo lugar, porém eu não congelei.

Apertei a mão do Harry com um pouco mais de força, aliviado por ele não ter soltado. Ele não era do tipo que tinha vergonha de afeição, ele era aquele que encorajava isso. Ele não se importava com a minha palma estar suando contra a sua, ele não se importava com meus dedos o apertando de leve enquanto eu tentava permanecer calmo.

Centenas de táxis estavam alinhados no pavimento, e nós seguimos para perto de um que tinha acabado de deixar um casal de idosos. Andamos bruscamente, temendo que uma das outras cem pessoas tentando conseguir um táxi poderia pular em nossa frente antes que conseguíssemos alcançá-lo.

O taxista balançou a cabeça, abriu a porta e nós ajudou a descarregar nossas bagagens. Ele completou a tarefa tão rapidamente que eu fiquei admirado. Ele tinha uma barba áspera e um colar segurando uma cruz ao redor do pescoço, e antes que eu percebesse, estava sentando no banco de trás encarando sua cabeça calva.

Ele dirigiu rápido demais, me jogando contra Harry, pois lá não tinha cintos de segurança. Harry colocou seu braço ao redor do meu peito quando o taxista fez uma parada abrupta, como se aquilo fosse me proteger. Ele percebeu que estava um pouco atrasado, então abaixou o braço quando o carro começou a andar novamente, com um sorriso acanhado no rosto.

"Vocês dois são irmãos, então?" O taxista perguntou, seu sotaque era francês e maravilhoso.

Eu, de verdade, deixei escapar uma rápida risada ao pensar nessa ideia tão absurda. Harry era quase trinta centímetros mais alto, com pele com de oliva e olhos mais escuros, e eu pequeno. Percebi que, se o taxista nos imaginou como irmãos, então ele pensou que eu era o caçula. Droga, Harry e suas impossíveis pernas e altura.

"Bem... Nós... Erm..." Harry travou, tentando não rir como eu. "Nós nos beijamos de vez em quando, então se fossemos irmãos seria um pouco estranho."

Estávamos nos aproximando do nosso pequeno hotel, e o taxista pisou nos freios mais repentinamente do que o normal.

"Os dois estão juntos?" Ele perguntou, seus olhos se encontraram com os de Harry pelo espelho do carro. Seu tom de voz foi acusatório e eu senti uma onda de tristeza.

"Sim", Harry respondeu com orgulho, se virando para me olhar. Meu coração (saltou) e minhas bochechas queimaram de leve. Harry me olhava como se eu fosse bonito.

"Isso é pecado, você sabe." Ele exclamou, segurando a cruz do colar como se aquilo fosse o proteger contra a gente.

Ele parou em frente do nosso hotel, então virou completamente para trás, olhando para ambos de nós.

Meu coração caiu para o estômago, eu conseguia sentir meus olhos marejando um pouco.

O que é a cidade do amor se você não pode amar a pessoa que quer porque vocês são do mesmo gênero? O jeito como eu amava Harry era tão completo, tão forte, como isso podia ser errado?

"Assim como você dirigindo." Eu retruquei, abrindo a porta do carro e saindo antes de ele, ao menos, ter tempo de processar o que eu tinha dito. Peguei nossas bagagens e comecei a andar para a entrada do hotel, então senti Harry pegando sua mala da minha mão.

Andamos em silêncio até a recepção para pegar nossas chaves. A mãe do Harry morava a uma hora de lá e nós decidimos visitá-la na tarde do próximo dia, conseguindo passar algum tempo sozinhos antes. Estávamos indo ao nosso quarto quando Harry limpou a garganta e deixou seu corpo cair levemente para cima do meu, diminuindo a velocidade com que andava.

"Alguém tem uma língua afiada."

Me virei e o encontrei rindo, sua expressão mostrando um pouco de constrangimento também. O sorriso dele não estava totalmente aberto e seus olhos pouco iluminados.

Sorri de leve, e decidi tentar animá-lo.

"É muito boa em outras coisas também." Sussurrei, ficando na ponta dos pés para falar em seu ouvido. "Minha língua, digo." Esclareci.

"Ah, Lou, que pecador você." Ele piscou, e eu estava tentando manter a pose.

Ele passou a chave no quarto 11, e eu beijei sua clavícula, o distraindo. 

"Estamos em Paris, depois de tudo." Suspirei contra seu peito.

"É tão bom quanto você esperava?" Ele ficou sério de repente, fazendo nossos olhos se encontrarem. "Eu sei que o taxist-"

"É quase perfeito." Confessei, olhando nosso quarto. A janela estava aberta e as luzes da cidade cintilavam atrás do vidro.

"Quase?"

Olhei para seus lábios, e depois, de novo para os olhos. Ele entendeu e acabou com a distância entre nós.

Os lábios dele estavam entre os meus, suas mãos exploravam minhas costas. As preocupações sobre minha experiência em Paris foram substituídas quando os dedos de Harry chegaram ao meu cabelo, e eu conseguia sentir seu coração batendo contra o meu. Como eu poderia desejar algo mais?

Me afastei apenas o suficiente para respirar, "Perfeito".

Underneath Paris » Larry (Portuguese Version)Where stories live. Discover now