Capítulo sete

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— Não chame a polícia, cara. São só algumas empanadas – Gael respondeu, estendendo as empanadas no ar, com um meio sorriso. Eu prendi o riso. Percebi que apesar da descontração entre mim e Gael, para Stevie e Rose ele ainda era o filho da mãe que eu planejava matar. Percebi que a situação era muito mais grave quando vi Rose atrás de Stevie pegando sua arma.

— Rose, não – tentei dizer que aquilo não era necessário, mas ela já estava com sua arma em mãos. Aquela pequena mulher de cabelos castanho-avermelhados parecia inofensiva, mas a verdade é que ela podia ser mortal. Virei-me para Gael, para pedir que ele não se assustasse, pois eu explicaria tudo aos meus amigos e tive outra surpresa. Gael também tinha uma arma em mãos e ela apontava diretamente para Rose. — Por Deus, parem com isso. Abaixem essas armas, essa aqui é a minha casa.

— O que ele faz aqui? – Ela quis saber, sem tirar os olhos dele.

— Ele não é o Théo e se vocês dois abaixarem as armas nós poderemos explicar tudo.

— Depois de você – Rose disse para Gael, com um movimento de cabeça que a fazia parecer letal.

Com um suspiro, Gael jogou a arma no meu sofá e levantou os braços, rendendo-se. Eu olhei para Rose e percebi que ela ponderava suas opções. Olhei feio para ela, repreendendo-a por ainda pensar na ideia de matar alguém na minha sala e ela então suspirou derrotada. Ela levou a arma para dentro da calça e sorriu para mim, aquele sorriso fraco que não chega a mostrar os dentes. Quando a tensão finalmente parecia se esvair gradativamente, eis que Stevie passa como um furacão por mim, chocando-se contra Gael. Eu demoro um segundo para entender a cena toda.

Stevie e Gael pareciam um emaranhado humano. Eu não sabia dizer quem estava levando a melhor, já que os dois estavam no chão, embolados como duas crianças no meu tapete. Olhei para Rose desesperada e ela estava achando graça. Sim, graça!

— Faça alguma coisa, Rose – pedi desesperada e sem saber o que fazer.

— Eles que são homens que se entendam – respondeu, com um leve dar de ombros.

Senti, no bolso lateral esquerdo da minha calça, o canivete que Gael havia me dado. Mas que diabos eu faria com ele? Na melhor das hipóteses eu acabaria cortando a mim mesma. Aproximei-me e tentei separar os dois, mas tudo o que recebi foi um belo de um soco na coxa. Quando eu finalmente apelei para um grito histérico e ensurdecedor, a briguinha infantil e sem sentido chegou ao fim. Mas não de uma maneira muito agradável. Pelo menos não para Stevie.

Gael mantinha o pescoço de Stevie muito bem preso em seu braço esquerdo, de modo que a cada movimento de Gael, Stevie sufocava, o que o obrigava a ficar imóvel. Além disso, havia um pouco de sangue perto da boca do meu melhor amigo. Fui até os dois e me ajoelhei ao lado de Stevie.

— No que você estava pensando? – levei a mão até o ferimento em sua boca e ele fez uma careta. — Bem feito, isso é para você aprender a me ouvir.

— Eu não acredito nessa história de irmãos gêmeos, Mia – ele disse, com certa dificuldade. — E você também não deveria acreditar. Esse cara está te enganando e vai te machucar de novo, se você permitir.

— Gael solte o Stevie, por favor? − Pedi gentilmente. Ele não se moveu. — Stevie não tentará nada contra você novamente. Não é, Stevie?

— Hm, tá, que seja − ele disse, revirando os olhos quando finalmente foi solto.

Eu fui até a cozinha e preparei uma compressa de gelo para o meu melhor amigo, com quem eu ainda estava um pouco chateada. Voltei à sala e todos finalmente nos sentamos e conversamos como pessoas civilizadas. Contei a eles sobre a decisão de acertar contas com o passado e de contratar um detetive. Expliquei que fui à Midsy depois de ter conseguido algumas informações, que no fim se provaram falsas. Expliquei como Gael veio parar aqui – ainda que eu não soubesse muito bem o porquê – e ele então assumiu a fala e lhes explicou mais ou menos como começaríamos o nosso plano contra Théo.

Ponte de cristal (degustação)Where stories live. Discover now