Capítulo quinze

26 6 0
                                    

— Como assim toque de recolher? − Rose perguntou, bufando de raiva, os pulsos cerrados. — Eles não podem fazer isso.

— Não podem mesmo, minha filha – Dona Adelaída concordou, assentindo com certo pesar. — Mas estão fazendo. Eles estão fazendo um monte de coisas erradas.

— Primeiro... − eu disse, tentando organizar as ideias na cabeça. – Eles levam nossos homens jovens e fortes. Agora, nos impõe um toque de recolher.

— E a Província não concordou com nada disso e por algum motivo se tornou a nova inimiga − Gael acrescentou tão pensativo quanto todos nós.

— Alguma coisa grande está acontecendo... − foi a vez de Rose. – E o Théo está envolvido nessa merda até o pescoço.

— Vocês precisam visitar a Madame Florenza, meus queridos − Dona Adelaída disse e subitamente eu, Rose e Stevie ficamos extremamente confusos.

— Madame quem? − Stevie perguntou.

— Florenza − Mathias finalmente abria a boca. — É uma mulher, digamos, meio exótica − nosso olhar de descrença foi imediato. Nós estávamos falando de um problema concreto e real, e Mathias e sua avó estavam sugerindo que procurássemos uma mulher... Meio exótica?!

— Eles estão certos − Gael interviu meus pensamentos. — Madame Florenza realmente sabe das coisas. E tem muitos contatos. Ela, com certeza, poderá nos ajudar.

— Ok, tudo bem − concordei, apesar de relutante. — Então, o que estamos esperando para ir atrás dessa mulher?

— Se saírem agora, os guardas levarão os rapazes. E se saírem depois do toque de recolher, levarão todos vocês.

— E então? − Stevie quis saber. Todos queríamos saber.

— Partiremos de madrugada − todos olhamos para Gael. — Seguiremos pela mata até o início da Catedral e chegando lá, pensamos em algo − o plano não parecia nada bom, mas acredito que no momento, era o melhor que tínhamos.

A ida até a pequena cidade de Catedral foi mais tranquila do que podíamos imaginar. Passamos todo o dia arrumando nossas mochilas e separando alimentos e água. Cochilamos um pouco antes de partir e apesar de não me lembrar, sei que tive sonhos ruins.

Em Catedral, ao contrário de Midsy, havia poucos guardas. Havia também algumas pessoas trabalhando silenciosamente nas ruas. Elas estavam, provavelmente, instalando as nano câmeras que pretendiam vigiar todo o Lar – ou a maior parte dele – até o fim do ano. A casa da tal Dona Florenza era distante e isolada, assim como a de Gael, o que facilitou bastante.

Tudo envolvendo a Madame Florenza era exatamente o oposto do que eu havia imaginado. No lugar de uma casinha modesta e isolada, havia uma mansão de dois andares, cheia de vidros, espelhos e luzes. E no lugar de uma senhora simpática, com roupas largas e coloridas, um turbante na cabeça e maquiagem exótica, havia uma mulher jovem e deslumbrante. Ela era esbelta, o corpo cheio de curvas torneadas. Seus seios eram enormes – talvez até demais – e quase saltavam de seu vestidinho justo que terminava bem antes do meio da coxa. As pernas que se seguiam eram bronzeadas, tonificadas e sustentadas por uma sandália prata de salto alto número quinze. Seu cabelo platinado caía-lhe sobre as costas até a bunda – e que bunda! – e era de um liso perfeito, divido ao meio com precisão. Com quase o mesmo tamanho que Gael, eu precisava olhar para cima para mirar em seus olhos. Rapidamente, me senti pequena demais ao lado daquela mulher estonteante.

Adentramos a mansão da Madame Florenza boquiabertos. Não só com todo aquele lugar magnífico, mas também com a beleza surreal daquela mulher. Ela parecia saída de uma revista masculina. Todos pareciam olhar enfeitiçados para ela. Gael era o único que parecia indiferente e sinceramente, o único que ela se esforçava para agradar. Quando nos sentamos todos em sua sala – seus sofás eram mais felpudos e macios do que todos os sofás que eu já havia visto – ela se sentou ao lado de Gael e começou a acariciar sua perna de forma casual. Trinquei os dentes e respirei fundo.

Ponte de cristal (degustação)Where stories live. Discover now