Capítulo dezessete

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Eu batia os braços e pernas com a cabeça dentro de todo aquele azul. Nos momentos em que levantava a cabeça da água para respirar, eu o via lá, sentado, imóvel, apenas me observando com um sorriso doce nos lábios. Eu queria tanto falar com ele, ouvir sua voz dizendo o meu nome e se apresentando timidamente. Mas ele não se aproximava e eu tampouco o fazia. Depois dos treinos, quando eu ia à biblioteca exercitar a mente, ele também estava lá. Sentava-se em uma mesa perto da minha, mas nunca se aproximava o bastante. Às vezes, quando nossos olhares se cruzavam, ele sorria. Eu retribuía o sorriso e ele desviava o olhar, corando mais que eu.

Apesar de negar as afirmações de Stevie sobre eu estar apaixonada por aquele estranho desconhecido, eu sonhava com ele todas as noites. Imaginava o dia em que ele me convidaria para sair e como seria o nosso primeiro beijo. Eu queria saber seu nome, queria pronunciá-lo em voz alta para sentir como ficaria em meus lábios. No dia em que ele finalmente tomou coragem e se aproximou, havia confiança demais no garoto tímido que me observava há quase um ano. Seu sorriso e seu olhar pareciam diferentes... Mas talvez fosse coisa da minha cabeça. "Meu nome é Théo", ele disse. Pronunciei seu nome em voz alta, repetidas vezes, no caminho de volta para casa. Não parecia certo. Mas eu o encontrei naquela noite. Em uma festa agitada e cheia de adolescentes bêbados, e não em uma cafeteria, livraria, museu ou cinema, como eu tinha imaginado.

*

— Sempre fomos você e eu! − gritei, enquanto tentava reanimar o corpo sem vida de Gael. — Sempre foi você, agora eu sei − sussurrei, meus lábios contra os seus. Rose parecia confusa com aquela cena, mas eu não podia dar atenção a ela agora. — Por favor, Gael, volte e eu não farei mais perguntas. Eu prometo! Agora eu entendo. Você sempre esteve lá, era você o tempo todo. Não posso perdê-lo agora.

— Era eu − Gael disse, os lábios trêmulos e roxos movendo-se com dificuldade. Ele parecia respirar tão pouco, mas estava vivo! Gael estava vivo.

— Shhhhh! − eu coloquei meu dedo em seus lábios, silenciando-o imediatamente. — Eu sei, era você! Mas não fale nada, guarde suas energias até chegarmos em casa. Você precisa continuar respirando, ok? − Ele assentiu com um movimento imperceptível de cabeça e Rose e eu o colocamos dentro do carro. Com a cabeça em meu colo, eu passei minhas mãos por seu cabelo recém-aparado inúmeras vezes, tranquilizando-o e dizendo que tudo ficaria bem. — Vai ficar tudo bem − sussurrei em seu ouvido. — Agora eu sei.

Chegamos à casa da Madame Florenza e por sorte, todos estavam à nossa espera. Gritei pedindo por ajuda e rapidamente Stevie e Mathias o carregaram para dentro de casa. Eu disse que precisávamos de um médico, Florenza e Mathias alegaram que podiam cuidar da situação. Os dois levaram Gael para a suíte principal da casa – onde eu havia passado a tarde – e se trancaram lá por mais de uma hora. Eu estava aflita, segurando as lágrimas enquanto apertava o terno que Stevie havia posto em meus ombros.

— Fique calma, Mia − a voz suave de Rose preenchia os meus ouvidos enquanto ela me abraçava no sofá. — Ele vai ficar bem.

— Por que você não toma um banho e tira essas roupas molhadas? − sugeriu Stevie, me abraçando do outro lado.

— Não consigo pensar em nada agora. Preciso saber que ele vai ficar bem − Rose e Stevie trocavam olhares silenciosos enquanto eu fingia não notar nada. Assim que eles se asseguraram de eu que estava bem e não desmaiaria a qualquer momento, foram até a cozinha, onde provavelmente estavam falando do meu estranho comportamento em relação a Gael, no qual eu pensaria depois, quando ele estivesse fora de risco. O tempo se arrastava preguiçosamente, estendendo a minha agonia como se ela fosse um elástico testado até o limite. Enquanto aguardava qualquer notícia, milhões de coisas se passavam pela minha cabeça. Memórias, flashbacks, sonhos... Eu não podia evitar.

Ponte de cristal (degustação)Where stories live. Discover now