Live Forever

Wish

Karla Camila POV

Não haviam tantas situações que me colocariam daquela maneira nesse mundo, e em uma rara exceção destas eu olhava perdidamente silenciosa pelos vidros com respingos da intensa chuva que caia em Dallas naquela noite, meu motorista tão compreensivo não insistiu em tecer longos diálogos, talvez ele entendesse bem meu estado de espirito. Ela havia me beijado e fugido covardemente como eu posso imaginar que fugiria.

O que isso muda? Para mim tudo, eu só quero repetir aquele ato, porque meus lábios experimentaram uma sensação que eu há tempos não provei ser tão certeira e tão atrativa, e eu havia me aproveitado tão pouco de minha oportunidade, que cogitar a possibilidade de não se repetir me deixava agitada.

O que ela estaria pensando sobre isso? Podia recordar-me vividamente de sua boca tentada a se perder em meu pescoço, na voracidade que arrancou de seu peito para se afastar de mim e se perder elevador à fora em um andar qualquer.

Minutos incontáveis nas vias movimentadas de Dallas nos levou ao meu casarão de Dallas, meu corpo urgentemente apressado me fez capturar o sobretudo, verdadeiro culpado da minha atual desgraça mental, e o levar sobre meus cabelos, segurando minha maleta. Não estava o suficiente paciente para esperar meu motorista com guarda-chuvas e pompa em me proteger das gotas geladas de chuva.

Pisei sobre meus saltos molhando-me com a gotas agressivas e ofeguei ao entrar no casarão quente, sentindo a mudança de temperatura me atingir em cheio. Minha mãe me esperava como todas as noites que sabia que eu estaria ali, seu pequeno corpo veio em minha direção, me ajudando com o sobretudo molhado, o tomando de mim em um movimento gracioso.

— Que loucura de chuva ali fora! – Exclamou beijando minha bochecha em um cumprimento gentil. Eu assenti, ainda perdidamente conflituosa entre a chuva louca, o beijo do elevador e minhas saudades de casa com os negócios da família como plano de fundo. Há informações demais para uma cabeça como a minha.

— Que bom que cheguei logo em casa, não aguentava mais aquele voo. – Citei a observando sorrir em compreensão a minha situação.

— Tome um banho, pedi que Tônia fizesse nosso jantar e tenho certeza que é seu favorito. – Seu otimismo e a maneira em que sempre fazia o máximo que podia para me deixar feliz, me aquecia, beijei o topo de sua cabeça, não querendo levar meu frio molhado para seu corpo quente.

— Volto em alguns minutos, é bom estar em casa. – Proferi honestamente, aliviada que estivesse ali, talvez cometeria algumas loucuras se estivesse em terras tão insanas como Nova York. Caminhei em direção as escadas, sentindo seus olhos maternais em mim, me deixando ir para o meu quarto, e eu fui em busca de um banho quente. Deixei a maleta de lado em uma poltrona ao entrar em meu quarto, e me despi de imediato, observando meu vestido sobre a cama, ela quase rasgou um de meus vestidos favoritos...

Seus dedos apertaram fortes a barra dele, como podia ser tão forte? Franzi o cenho perdidamente deslocada do universo, que inferno de mulher, saia da minha maldita cabeça! Meus dedos acariciaram a costura lateral e eu percebi a maneira em que o tecido estava alongado além do normal pela força em que ela o havia puxado. Uma mulher abrupta, era certo. Talvez estivesse na bolha de perdição da sua força conspiratória, uma versão de si que não imaginava que existia, entre seus tremores no avião, e seus olhares de menina indefesa, eu não podia imaginar que ela tremia por ter tanto potencial de fogo... Não são muitos que sustentam essa habilidade de estragos certeiros, habilidades em que havia apreciado ao extremo, muito bem obrigada.

Fechei meus olhos despindo-me completamente e caminhei para um banho em que eu não queria sair tão cedo, submergi meu corpo na água da banheira e desfrutei dos sais de banho que perfumariam minha pele, não quero ter tempo para ser racional, simplesmente tentei me livrar de qualquer coisa que passasse por minha consciência, mesmo que tudo fossem loucuras motivadas por meus desejos e isso fosse meu fim.