Live Forever

Turning

Sinu olhava a filha sentada da varanda de casa, parecia muito pensativa desde o momento que chegou, bebia do chá que sempre gostou, camomila, os olhos perdidos à frente, no céu ou seja no quer for que olhava nas flores da fachada de entrada. Lidar com Camila sempre foi assunto delicado desde a perda de seu pai, nada era mais traumatizante que perder um pai em um acidente de carro, e as circunstâncias de encontrar um homem que se embriagou com a amante não configurava a melhor das possibilidades para amenizar as sensações.

Sua rebelião a não aceitar sob nenhuma hipótese assinar com o sobrenome Cabello deixava claro que ela sustentava consigo seu rancor não contido sobre a situação, para si e qualquer outro era somente Estrabao e ponto final. Para uma mãe, enxergar sua filha novamente caindo sobre aquele espiral de remorsos a deixava preocupada, não era como se pudesse intervir com somente uma conversa e tudo se apagaria.

O alimento daquela ausência criada ao perder alguém que tanto gostava se repetia, sentia profundamente por ela.

— Quer mais chá? - Sua interrupção fez Camila a olhar sob o ombro, seu corpo estremeceu levemente com o repentino chamado a fazer se assustar ligeiramente.

— Oh não, ainda tenho chá aqui. - Mostrou sua xícara para que sua mãe pudesse se certificar. Sinu sentou ao seu lado, em uma daquelas cadeiras à varanda, olhando o rosto de traços entristecidos, os lábios comprimidos em uma linha autoritária.

Sempre viu por aí que temiam a figura de empresária que sua filha era, mas aquilo nunca chegou a ser uma realidade dentro de sua casa, sempre foi amorosa, preocupada e extremamente próxima de si.

E ali... bem, era complicado.

— Estava andando com Todd mais cedo? - Sinu perguntou, parecia cautelosa sobre sua abordagem, Camila deixou a xícara de chá pousar sobre suas mãos em seu colo, os olhos perdidos adiante, o tempo fechava a noite em Dallas de tal maneira que em alguns dias era difícil ter acesso às estrelas.

— Sim, acho que precisava um pouco daquilo, e Charles disse que já havia o deixado selado ao saber que viria. - Ela respondeu fazendo sua mãe assentir.

— Aliás, Charles anda muito pela região de minha cabana? Ele está utilizando-a? - A pergunta de Camila fez a mãe arquear a sobrancelha, seus olhos castanhos perdidamente confusos na feição da filha.

— Sim, ele anda bastante por ali agora, não sei se dorme ou algo parecido, mas ele sempre manteve o local intacto nessa sua ausência maior, isso é um problema? - Sinu certificou-se, tentando entender se a presença do rapaz no local a incomodava. Camila deu de ombros, não era como se ela pudesse se ofender dele fazer algo positivo.

— Oh não, eu... bem, não... é que eu percebi que estava sendo usado por alguém, só fiquei curiosa sobre a situação, ele pode usar quando precisar, é só que... - Sua pausa em meio a confusão fez a matriarca engolir ansiosa, o corpo se remexendo um pouco ao tentar entender o que ela queria dizer.

— Só que? - Tentou.

— Há algo ali que me fez bem, eu sinto como eu não me sentia há algum tempo, eu quero voltar e talvez trabalhar alguns dias ali, eu não sei... - Seus olhos castanhos idealizadora se voltaram para a face da mãe, tentava lembrar exatamente da boa sensação ao estar na cabana mais cedo, seu corpo se arrepiava de maneira positiva, aquela ansiedade gostosa lhe comichando a boca do estômago.

Era positivo, parecia um pouquinho dependente da sensação agora que havia experimentado.

— Eu não me oponho, mesmo que queira você aqui para ver, não se isole tanto e eu vou entender. - Sinu apontou observando-a parecer um pouco animada com sua resposta. Algo na matriarca lhe entregava a sensação de calmaria ao saber que estar naquele lugar, naquele bem em específico lhe fazia bem. Queria vê-la bem, não importava o que lhe fizesse daquela maneira, ou quem...