Capitulo 22

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Capítulo 22
Pov. Dakota

Eu andava por uma grande quantidade de pessoas, todas homens. Na tentativa de não esbarrar em ninguém, meu corpo desviava dos vultos que passavam, todos indo na direção oposta à minha. Minha cabeça mantinha-se abaixada, meus olhos no chão, e foi quando os levantei pela primeira vez que notei: Todos eles me encaravam.
Eu não sabia onde estava. Imediatamente, desviei novamente os olhos para baixo, e por algum motivo me dei conta de que Jamie caminhava ao meu lado. Senti um alívio libertador com sua presença, mas foi quando nossas mãos se tocaram acidentalmente que ele falou.
– Aqui não.
Encarei-o, cheia de dúvidas. Jamie continuava olhando para frente, imponente, caminhando de forma segura. Então, como um estalo, me dei conta do que estava acontecendo: ele sentia vergonha de mim. Vergonha de me assumir como alguém que deveria estar ao seu lado. Vergonha do que todos eles, que caminhavam contra nós, pensariam se nos vissem de mãos dadas.
Jamie sentia vergonha de ser visto com uma puta.
– Dakota...
Abaixei a cabeça, não conseguindo encará-lo. Não conseguindo formular uma frase sequer, porque uma tristeza imensa me calava.
E então, eu estava sozinha outra vez.
– Dak...
Eu estava sozinha. Ele não me amava. E eu sabia disso.
– Dakota... Acorda...
De repente, tudo que eu conseguia ver era seu rosto, um pouco longe, mas seus olhos cinzentos muito próximos. Fui voltando à realidade lentamente, sua presença tomando forma diante de mim.
Era ele. Suas mãos passando suavemente por entre meus cabelos. Seu perfume me trazendo de volta à consciência mais depressa. Depois de um momento breve, consegui me situar, e lá estava eu, de volta ao quarto de Jamie, deitada em sua cama, coberta por muitos dos lençóis embolados. Ele estava ajoelhado, arrumado e perfumado com um tipo de blazer escuro, muito próximo ao meu rosto. Mais próximo do que o necessário.
– Desculpa te acordar tão cedo. É que eu tenho que ir trabalhar.
Pisquei os olhos algumas vezes, ainda um pouco atordoada por causa do sono, mas com um alívio imenso em estar fora do meu pesadelo. Que horas deviam ser?
– E você vai ter que ficar aqui... Sozinha.
Ele não tirou os olhos de mim. Também não se moveu um centímetro sequer, ou parou de me tocar. Mas eu podia ver que alguma coisa o incomodava.
– Você... vai ficar? Promete que não vai embora?
Medo. De novo, ele estava com medo de que eu o deixasse. De novo, ele considerava essa possibilidade, e me perguntei o motivo pelo qual eu mesma já estava começando a esquecer dela.
– Eu vou ficar.
Ele continuou me encarando, como quem quisesse buscar nas minhas palavras alguma pista de que aquilo era mentira. Pisquei algumas vezes para tornar meu olhar mais firme, até que ele finalmente pareceu acreditar em mim.
– Essa casa é sua, ok?
Não respondi, mas ele não pareceu se incomodar.
– Deixei o número do meu celular anotado, está em cima do criado mudo do quarto de hóspedes. Qualquer coisa que você quiser, ligue pra mim. E fique à vontade. Vou estar de volta à noite.
– Ok. - Respondi, olhando diretamente nos olhos dele.
Permanecemos em silêncio por um bom tempo, e pela primeira vez em muito tempo aquele silêncio não era desconfortável. Não era um silêncio carregado de desconfianças, segredos ou perguntas caladas. Era apenas aquilo.
Como se fosse a atitude mais natural do mundo, Jamie curvou-se um pouco para baixo e me beijou delicadamente nos lábios. Eu poderia protestar por ter acabado de acordar, mas me deixei levar pela sensação de ter seus lábios tocando com tanta suavidade os meus, em um ato singelo, mas com um significado tão grande que fez com que as batidas do meu coração perdessem o ritmo.
– Até logo.
– Hhhmm... - Foi minha resposta.
Ele saiu, me deixando sozinha naquele quarto imenso, e eu fiquei ali, completamente derretida e apaixonada por ele.

Merda.
Fiquei por um longo tempo me espreguiçando e ronronando feito gato nos lençóis amassados, não sabendo se queria sentir o cheiro do corpo dele ali ou o cheiro do perfume que agora estava suspenso no ar. Mas qualquer um dos cheiros me dava arrepios, então eu não me importava.
Como passar horas pensando nas noites que eu tinha com Jamie parecia ser agora minha mais nova mania, foi o que fiz. Lembrei dos seus beijos, seus toques, do seu evidente descontrole quando entrei em seu quarto. Nunca entendi exatamente o motivo de toda aquela fixação pelo perfume do meu creme, mas não poderia ter ficado mais claro que aquilo o fazia perder a cabeça.
Sorri com a lembrança de tê-lo tão submisso a mim, tão entregue e impotente. De alguma forma, vê-lo dessa forma fazia com que eu acreditasse, mesmo que por um momento, que ele realmente gostava de mim, e que aquilo tudo não era fruto de um distúrbio de personalidade ou sentimento de culpa por parte dele. Tê-lo daquela forma fazia parecer que ele realmente me amava, que era meu.
Como que para fortalecer minha esperança, fiquei remoendo o fato de termos feito sexo sem camisinha. Aquilo devia significar alguma coisa. Talvez não muita, mas alguma coisa, qualquer coisa, devia significar. Era como se ele não tivesse medo de ficar comigo, mesmo sabendo do meu passado. Era como se pudesse aceitar. Como se, no fim das contas, valesse à pena arriscar.
Será que ele realmente gostava de mim mais do que eu pensava?
Não seja idiota. Se transar sem camisinha significasse amor, não existiriam tantas mães solteiras pelo mundo.
Minha racionalidade. Sempre estragando meus momentos de alegria e esperança.
O relógio do criado mudo marcava 06:45h, o que achei ser muito cedo para levantar. Por isso, resolvi me aconchegar mais nos travesseiros macios e me deixar ser embalada pelo sono outra vez.
...
Acordei uma hora depois, e agradeci aos céus por não ter tido um novo pesadelo. Me mexi um pouco na cama, agarrada ao travesseiro dele, e então fiquei estática e atenta ao ouvir a porta da sala bater.
Jamie havia dito que só voltaria de noite, mas de qualquer jeito não faria sentido estar de volta uma hora depois de ter saído. Ouvi passos de um lado ao outro, e quando finalmente me convenci de que não havia como identificar a pessoa que acabara de entrar no apartamento, levantei de um salto da cama e, notando que estava nua, corri para o armário, procurando alguma peça de roupa que me serviria. Tudo que encontrei foram camisas sociais, e me perguntei onde infernos estariam os enormes e largos casacos de hóquei que todo menino teve um dia e guardava como lembrança. Corri para o closet, tentando mexer o mínimo possível nas suas coisas, mas foi quando os passos começaram a se aproximar que o pânico me tomou e eu me vi obrigada a vestir a primeira camisa social ao meu alcance. Uma peça azul bebê muito macia e perfumada com o cheiro dele.
Saí do enorme closet e dei de cara com uma senhora que já entrava no quarto sem cerimônias. Me perguntei se havia acordado na casa certa, e se sim, por que Jamie não havia mencionado a existência de uma senhora baixinha e gordinha em sua vida, fosse ela quem fosse.
– Deus, me desculpe! Pensei que não houvesse ninguém aqui! - Ela começou, se desculpando com um olhar esbugalhado - O sr. Dornan não trazia ninguém aqui há tanto tempo... Mil desculpas...
Continuei à sua frente, encarando-a completamente confusa mas feliz em sentir que a peça de roupa que usava cobria todas as partes do meu corpo que ela não deveria ver.
– Mas você deve ir agora, minha querida. - Ela continuou, com uma expressão doce e compreensiva - Você sabe... Talvez ele te ligue pra que vocês saiam juntos outra vez...
Eu estava tão confusa que, depois disso, provavelmente teria ido mesmo embora, não fosse pelo fato de que, na verdade, eu não tinha para onde ir. Mas como explicar isso a ela?
– Ah... Eu acho... Eu moro aqui...

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