Capitulo 32

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Capítulo 32
Pov. Dakota

Tudo que eu estivera pensando antes daquele momento - qualquer medo, qualquer angústia, qualquer merda - tinha sido completamente esquecido. A dor no meu peito foi diminuindo rapidamente, até deixar de existir. Era como ter recebido uma dose de morfina que gradativamente fazia efeito.
Continuei na mesma posição, sem mover um único músculo, respirando como se aquilo precisasse de concentração. Estava quase silencioso: A respiração dele estava alta demais para não ser ouvida. Ele continuava de joelhos à minha frente, segurando debilmente a caixa com a aliança encaixada ali. O álcool o fazia bambear um pouco para os lados e piscar de maneira lenta, mas ele ainda me encarava com um certo medo no olhar.
Não sei por que fiquei em silêncio tanto tempo. Talvez porque não conseguisse falar. Talvez porque não visse necessidade em responder. Ele sentou em seus calcanhares, parecendo desapontado enquanto se apoiava nas minhas pernas.
– Você pode pensar a respeito... - Ele começou, e o som triste da sua voz me fez piscar depois de muito tempo.
Eu poderia pensar a respeito, mas o fato era que não havia um único motivo para que eu devesse pensar. A proposta era muito simples: Eu poderia casar com o homem que amava feito uma louca, formar uma família com ele, viver o resto da vida ao seu lado e ser feliz para sempre. Ou, poderia dizer "não".
Não era uma decisão muito difícil.
– Pensar a respeito? - Perguntei de maneira simples, em uma voz fraca - Jamie... Você realmente... REALMENTE acha que eu tenho alguma outra resposta além de "sim"?
Ele pareceu se iluminar, fazendo uma cara de surpresa tão inocente e verdadeira que era difícil acreditar no fato de que sim, ele duvidava da minha resposta.
– Isso foi um "sim"? - Sua voz saiu um pouco trêmula, mostrando uma incerteza incrivelmente idiota.
– Óbvio. Isso foi um "óbvio". - Respondi no mesmo tom baixo e neutro, com medo de acabar em prantos caso adotasse uma outra postura.
Ele deu o maior sorriso que eu já havia visto, me fazendo esquecer da sua insegurança, do teor alcoólico em seu sangue ou do seu nariz quebrado. Tudo que ele fez foi dar aquele sorriso, e meu coração simplesmente parou de bater por um momento. Em uma fração de segundos, tive uma vontade impulsiva de gritar tão alto que estranhei não tê-lo feito. Mas meu corpo, incluindo minhas cordas vocais, ainda estava anestesiado.
Jamie segurou suavemente minha mão esquerda, trazendo-a mais para perto de si. Ainda sorrindo abobalhado, ele retirou com delicadeza a antiga aliança que eu mantinha no anelar há tanto tempo, e com a outra mão, encaixou ali a aliança de noivado. Encarei-o, tentando controlar a vontade de simplesmente me jogar em cima dele e chorar feito uma pamonha. Ele beijou demoradamente minha mão, e quando se afastou, deixou um rastro de sangue nela.
– Merda! - Jamie falou, tentando limpar a sujeira com a outra mão.
Sem pensar, puxei de qualquer jeito a encharpe que ainda estava no meu pescoço e, com cuidado, limpei o rosto dele. Inclinei sua cabeça para trás, tentando fazer com que o sangue parasse de escorrer. Ele não disse nada, mas me encarava como uma criança obediente e sonolenta.
Ele parecia indefeso, e vê-lo daquela forma me deixou tão apaixonada que quando a vontade de tomá-lo nos meus braços veio, não hesitei. Me aproximei dele e, segurando seu rosto, beijei-o carinhosamente nos lábios. Era como se o amor que eu sentia não coubesse dentro de mim e transbordasse.
Os resquícios de sangue deixavam um gosto salgado nos lábios dele, mas ignorei. Aprofundei o beijo, forçando minha língua contra a dele. Joguei a encharpe suja de sangue em qualquer lugar e prendi meus dedos em seus cabelos, deslizando para baixo e indo parar no colo dele, no chão.
Desabotoei sua blusa aos poucos, sem pressa, em uma velocidade que sua mente alcoolizada pudesse acompanhar. Jamie gemeu contra a minha boca, tateando às cegas os botões ainda fechados mas não conseguindo abri-los, tamanha era sua embriaguez.
– Deixa comigo. - Murmurei na orelha dele, puxando a blusa agora aberta para os lados e despindo-o na parte de cima.
Ele gemeu outra vez, dando uma volta completa com seus braços no meu tronco. Seu corpo e sua cabeça balançavam tanto que tive medo que ele caísse, mesmo já sentado no chão. Me perguntei o que daquela noite seria lembrado no dia seguinte.
Voltei a beijá-lo, forçando mais meu corpo contra seus quadris. Ele mordeu meu lábio inferior com um pouco de força, me fazendo sentir uma leve dor, a qual resolvi ignorar. Abri os botões da sua calça e fiz um certo malabarismo para puxá-la pelas suas pernas junto com a cueca e os sapatos.
– Deite. - Falei perto do seu rosto para que ele entendesse. Jamie se deixou cair no tapete fofo com um pouco de força, e eu sabia que aquilo teria machucado caso ele estivesse sóbrio. Levantei apenas para tirar meus sapatos e todas as peças de roupa por baixo do meu vestido. Quando voltei a sentar perto dos seus quadris, notei que não seria necessário nenhum estímulo extra: Ele já estava bastante excitado, embora parecesse sonolento.
Suas mãos apertaram minha cintura com vontade. Ele parecia uma criança impaciente, um pouco desesperado, me puxando cada vez mais contra si. Quando finalmente sentei nele, Jamie soltou um gemido tão alto que talvez pudesse ser ouvido do lado de fora da casa. Tapei sua boca com uma das mãos, e ele me olhou como se estivesse arrependido, respirando com dificuldade. Quando finalmente achei que ele se comportaria, afastei minha mão e me movimentei devagar, fazendo-o se acostumar aos poucos com o nosso encaixe. Ele gemeu outra vez, dessa vez baixo, tentando se levantar e ficar sentado, mas muito bêbado para achar um ponto de apoio. Depois de não se decidir entre manter suas mãos nos meus quadris ou continuar procurando com elas algum lugar em que pudesse ajudá-lo a se levantar, Jamie finalmente encontrou o sofá, fazendo força suficiente contra ele para conseguir se sentar no chão. Quando o fez, seu corpo oscilou outra vez, e outra vez tive medo de que ele caísse.
Ele não parecia notar seu próprio estado, envolvendo seus braços na minha cintura e hora me beijando, hora sussurrando coisas incompreensíveis contra a minha boca. Suas mãos apertavam as laterais do meu corpo com força, reforçando os movimentos que ele fazia dentro de mim. Ele oscilou mais uma vez, e antes que acabássemos os dois machucados, mandei-o apoiar as costas no sofá.
Ele sorriu distraidamente com o tom exigente na minha voz, virando nós dois para fazer o que eu havia dito. Quando sua cabeça caiu pesadamente sobre o assento do sofá, deixando-o seguro, agarrei seus cabelos com força e beijei-o furiosamente, sentindo o leve gosto de whisky em sua língua e até gostando de senti-lo. Ele retribuiu ao meu desespero de forma igualmente efusiva, passeando suas mãos por todo o meu corpo, por cima do vestido. Seus dedos puxaram o tecido em várias direções diferentes, e imaginei que ele me quisesse sem aquilo.
Tirei-o de uma só vez e voltei a me agarrar nele. Jamie pareceu acordar do transe ao sentir minha pele contra seu peito, e no segundo seguinte senti suas mãos me agarrarem com força, me puxando contra seu corpo cada vez que ele investia contra mim. Sua boca foi parar no meu pescoço, mordiscando de leve a pele ali. Ameacei-o em um tom de voz sensual, dizendo que se ele deixasse alguma marca ali, se arrependeria amargamente do descuido. Ele sorriu outra vez, ofegando com tanta força que, por um momento, pensei ser falta de ar.
– Você está vermelho... - Falei, começando a sentir frio pela camada fina de suor que unia nossos corpos.
– Estou... Tentando...
Ele estava tentando não ter um orgasmo, e eu sabia disso. Mas era simplesmente muito difícil não provocá-lo.
– Goza em mim, Jamie. - Falei contra a sua boca, com a voz baixa mais ninfomaníaca que conseguia fazer.
– Ahhhh, não faz isso... - Ele começou, me agarrando com ainda mais força enquanto fazia cara de choro. Jamie sempre se policiava para chegar ao clímax depois de mim, e eu não sabia se aquilo era cavalheirismo ou algum tipo de fetiche. Mas quando se está bêbado, tudo se torna muito mais difícil de controlar.
– Goza dentro de mim... - Repeti, olhando-o nos olhos como uma maníaca - Eu quero sentir o calor do seu gozo...
Jamie começou a tremer com força, e como se fosse possível, ficou ainda mais vermelho. As veias das suas têmporas tornaram-se grossas e evidentes, e eu esperava sinceramente que ele explodisse só de prazer.
Quando sua boca voltou para o meu pescoço, senti-o tentar abafar o grito contra a minha pele, me apertando com tanta força pela cintura que cheguei a sentir dor. Suas mãos foram afrouxando aos poucos depois de alguns segundos, voltando à delicadeza com que ele costumava me tocar.
E daquele jeito Jamie ficou. Eu só tinha certeza de que ele ainda estava vivo por causa da sua respiração. Puxei seus cabelos para trás e deixei que sua cabeça caísse no sofá. Ele murmurou alguma coisa, ainda de olhos fechados, e tudo que consegui fazer foi rir.
Até patético ele era lindo.
Parei de encará-lo feito uma imbecil e me levantei de seu colo, indo rapidamente ao banheiro da área de serviço para me limpar. Na volta, encontrei-o dormindo como uma criança, exatamente na mesma posição em que o havia deixado.
Com algum malabarismo, consegui fazê-lo deitar outra vez no tapete e tirar a manta que cobria o sofá para cobrir a nós dois. Estava fora de cogitação tentar carregá-lo para o quarto, porque acabaríamos os dois rolando escada abaixo. Peguei alguns travesseiros da poltrona mais próxima e me deitei junto a ele, encarando meu anelar e lembrando do quão rápido aquela noite passou de um pesadelo para um sonho.
Eu ainda falaria com ele sobre a conversa que ouvi na festa de Jim. Mas, por hora, me permiti saborear o momento, me agarrando em seu pescoço embaixo da manta e suspirando um pouco aliviada.
Eu seria esposa dele. Oficialmente. E aquele pensamento não parava de piscar dentro da minha cabeça.
Naquela noite, demorei um pouco para dormir.
Era estranho como meu corpo não sentia a falta de descanso. Eu não tinha dormido bem, já que a noite havia sido recheada de pensamentos sobre o meu casamento e o quão irreal aquilo parecia ser. Por isso, era de se esperar que eu acordasse tarde - no mínimo, depois de Jamie.
Mas lá estava eu, com os olhos arregalados às 6:15h da manhã, encarando sua expressão tranquila e hipnotizada pelo movimento do seu peito de inspirar e expirar. O tapete embaixo de nós dois era tão fofo e confortável que eu poderia passar horas naquela mesma posição, fazendo exatamente aquilo.
Entretanto, eu tinha um plano. E era preciso pô-lo em prática. Por isso, me levantei de uma vez e procurei durante algum tempo pela caixinha e pela minha aliança antiga. Achei-os jogados de qualquer maneira em um canto do tapete e os peguei, caminhando devagar para fora, tentando não acordar Jamie.
Subi e tomei um banho quente, me vestindo com uma roupa casual e voltando para o andar de baixo. Tirei a nova aliança do dedo e a depositei outra vez dentro da caixinha, deixando-a em cima da mesa do escritório e vestindo o anel antigo. Rumei para a cozinha e preparei qualquer coisa de café da manhã. Depois esperei, um tanto animada comigo mesma, imaginando como meu plano se sairia. Quando ouvi seus passos pesados subindo as escadas, comecei a me preparar.
Talvez aquilo fosse ser difícil para ele. Mas Jamie tinha que entender. Precisava ser feito.
Algum tempo depois, quando os mesmos passos pesados desceram as escadas e foram direto para a sala de estar outra vez, esperei um minuto e fui de encontro a ele. Quando entrei, encontrei-o tentando estender da forma certa a manta sobre o sofá. Seus olhos estavam um pouco fechados, talvez da ressaca, e seu nariz estava inchado, embora não parecesse quebrado.
Quando Jamie olhou para mim, sorriu de forma instintiva, e eu tive que fazer muita força para não retribuir o sorriso e me agarrar a ele como um urso panda. No segundo seguinte, seus olhos deslizaram para minha mão esquerda, e vendo que ali se encontrava a aliança antiga, seu sorriso sumiu completamente, dando lugar a um ar de confusão.
Aquela era a hora de não me deixar levar pela cara de cachorrinho abandonado que Jamie sabia fazer tão bem. Era a hora de dar seguimento ao meu plano.
– Bom dia. - Comecei, empregando um tom de naturalidade na voz - Como está o seu nariz?
Ele continuou me encarando com uma expressão de completa confusão. Ficou um tempo na mesma posição, e ao constatar que não chegaria à conclusão nenhuma, fossem quais fosses seus pensamentos, ele coçou a cabeça e fechou os olhos com força, tentando se situar outra vez.
– O que aconteceu ontem? - Jamie perguntou com uma voz rouca.
– Nós transamos nesse tapete. - Apontei para o lugar em que ele estava pisando.
– Antes disso...
– Antes disso você arrebentou o nariz na bancada da cozinha e quase me matou de susto.
– Desculpa. Não queria te deixar preocupada... Meu nariz está bom... - Ele falou, parecendo um pouco desconfortável - Mas... Depois disso...
Olhei-o de maneira confiante.
– Depois disso... Nós transamos nesse tapete.
Jamie ficou mudo mais uma vez, com o olhar desfocado, claramente tentando se lembrar da ordem dos fatos. Conforme os segundos passavam, sua expressão ficava sempre mais triste, e então tive a certeza de que ele estava pensando exatamente o que eu queria que pensasse: Que o pedido de casamento não havia passado de um sonho. E não passando de um sonho, Jamie não tinha a minha resposta. E não tendo a minha resposta, ele teria que fazer o pedido outra vez.
Sóbrio.

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