Capitulo 30

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Capítulo 30
Pov. Dakota
Àquela altura, eu estava completamente transformada, e me transformava continuamente, dia após dia. Não era apenas pela aparência que se podia dizer isso: Embora minha barriga simplesmente houvesse resolvido crescer de uma vez só, compensando os quase três meses de disfarce, era também no meu humor que a gravidez se manifestava.
Se no início as mudanças bruscas de comportamento deixavam tanto Jamie quanto a mim mesma um pouco confusos, agora elas pareciam nos pegar completamente de surpresa. Cheguei a ter medo de estar desenvolvendo algum tipo de bipolaridade, já que, às vezes, era uma questão de segundos para que meu humor mudasse radicalmente, com direito à lágrimas e berros. Mas o dr. Carlos nos certificou de que aquilo era normal.
Aparentemente, Jamie estava começando a ter um pouco de medo de mim. Claro que grande parte das vezes, quando brigávamos (sempre por motivos idiotas, porque meu humor resolvia entrar em crise) ele não respondia o que responderia normalmente só porque tinha medo que, insistindo na discussão, meu nervosismo atingisse níveis perigosos para a gravidez. Mas em alguns momentos eu realmente o notava um pouco tenso, sendo excessivamente gentil e manso. E mesmo que isso só me enervasse mais, ele parecia decidido a bancar o tipo de namorado "tudo-que-você-quiser,amor".
Ameacei-o de morte algumas vezes, e talvez porque eu parecesse sincera, em determinado momento ele passou a me sufocar menos. Me senti vitoriosa apenas até o momento em que seu pequeno afastamento trouxe uma sensação completamente absurda de abandono. Depois de muito drama, nós dois conseguimos balancear as oscilações que meu humor sofria, e então ele sabia quando era a hora de se afastar e quando era a hora de grudar em mim.
– Amor? - Ele gritou assim que ouvi a porta da sala ser batida.
– Quarto! - Gritei de volta, ainda me encarando no espelho enorme do closet apenas de calcinha e sutiã, exatamente o que estivera fazendo durante os últimos dez minutos.
Jamie entrou já com o paletó na mão, desfazendo o nó firme da gravata em seu pescoço e parecendo cansado. Não me mexi, ainda encarando o espelho. Esperei que ele se pronunciasse parado ali atrás de mim, também encarando o nosso reflexo.
– Tudo bem? - Ele perguntou, me olhando como quem olha uma granada prestes a explodir.
Assenti com a cabeça, lutando contra o biquinho pré-choro que começava a se formar no meu rosto.
Ele obviamente percebeu que não estava tudo bem, e por isso se aproximou, beijando meu pescoço de leve enquanto jogava despreocupadamente seu paletó e sua gravata em algum canto, envolvendo seus braços em mim logo em seguida.
– Tem certeza? - Jamie insistiu, brincando com a ponta do seu nariz carinhosamente no meu ombro, mas ainda me olhando pelo reflexo com o máximo de cautela.
O choro veio até minha garganta e voltou. Meu queixo tremeu e meu biquinho se transformou em uma careta.
– Estou... horrível. - Consegui falar, tentando não tremer a voz.
Ele suspirou contra meu pescoço.
– Me diga exatamente qual parte em você está horrível. Porque eu não consigo ver...
– Eu toda.
A lágrima que brincava em um dos meus olhos caiu.
– Amor... - Ele começou, com sua voz suave e calma, que demonstrava toda a paciência de um monge budista - Você não consegue ficar feia.
– Eu estou gorda... E deformada...
– Você não está deformada. Mas se a nossa filha está aí dentro, sua pele e seus músculos precisam se esticar.
Como de costume, ele espalmou suas mãos na minha barriga, não enorme, mas evidentemente desenvolvida.
– Você não negou que eu estou gorda. - Comecei, sentindo uma tristeza idiota.
– Você não está gorda. - Ele falou, beijando delicadamente minha orelha - Está linda.
– Não estou linda. Estou enorme. Tenho até peitos agora. - Debochei da minha ausência de busto e Jamie riu.
– Isso não aconteceu agora. Seus peitos estão maiores há muito tempo. Eu já tinha notado antes de saber da gravidez.
– Se tinha notado, por que não me falou? Eu não fazia ideia .. - Comecei, querendo desviar um pouco a conversa apenas para tentar me sentir menos deprimida.
– Tenho certeza que se falasse você pensaria que eu tinha te chamado de gorda.
Olhei outra vez para meu próprio reflexo, lembrando do assunto original.
– Mas eu estou gorda... - Choraminguei, fazendo outra vez o biquinho
E Jamie insistia em ser perfeito durante todo o tempo, me dando toda a atenção e carinho quando eu queria, e me dando espaço quando eu parecia prestes a mordê-lo. Embora ele ainda se mostrasse um pouco receoso quando transávamos, essa idiotice parecia também ir melhorando gradativamente.
O dr. Carlos havia me alertado que, em alguns casos, o mau humor e a irritação da mãe na gravidez poderia afetar o relacionamento entre o casal, fazendo com que o pai também se tornasse mais impaciente durante esse período. Mas ainda que eu tivesse medo que isso viesse a acontecer, o humor de Jamie não parecia se abalar com nada, fosse pela minha constante mudança de humor, pelo excesso de trabalho ou pelo stress da nossa mudança, que se daria dali a uma semana.
Eu, por outro lado, não conseguia saber como conter tantos sentimentos - tanto opostos quanto complementares - dentro de mim, todos lutando por espaço de uma vez. Não era incomum me sentir ansiosa, preocupada, aflita, explosivamente feliz e completamente emotiva, tudo ao mesmo tempo. Por isso, era nele que eu buscava meu próprio equilíbrio, já que tudo que Jamie parecia sentir era uma plena felicidade e uma paz inabalável.
Sua postura só mudou um pouco em um determinado dia.
– Tenho que ir a um lugar. - Falei, observando-o embrulhar as porcelanas em jornais para só então irem parar dentro de uma das caixas de papelão. O apartamento agora estava estranhamente vazio, apenas sendo preenchido pelos cantos por mais e mais caixas de diferentes tamanhos empilhadas umas nas outras, embora os móveis continuassem ali.

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