Capitulo 26

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Capítulo 26
Pov. Dakota

Nossa viagem de Natal estava chegando ao fim. Jamie não parava de se desculpar comigo, lamentando sobre a ausência de diversão e farra. Eu tentei convencê-lo de que aquela havia sido a melhor viagem da minha vida, e embora ele parecesse contente com minhas palavras, ainda teimava em dizer que poderia ter sido muito mais interessante.
Eu duvidava.
– Odeio a parte em que todos vocês vão embora!
Grace estava obviamente triste, mas fazia questão de não parecer uma mãe completamente dependente da presença dos filhos. Ela era uma mulher forte, mas muito sentimental. Jim permanecia imponente ao seu lado.
– Sempre acabamos voltando, mãe. - Jamie tentou confortá-la, dando um beijo carinhoso em sua bochecha.
– Mas demora tanto...
– Não se preocupe. Vou estar de volta na primavera.
– Jura? - Os olhos dela pareceram se iluminar com aquelas palavras.
– Juro.
Grace continuou olhando para o filho, mas agora seu olhar parecia um pouco enigmático. Vi, outra vez, um pouco de Jhulie ali, como se quisesse lê-lo e saber de alguma coisa não dita.
Ela olhou para mim, a quatro metros de distância dos dois, e imediatamente fingi estar distraída com o nó do meu cachecol.
– Ahm... Vou deixar vocês mais à vontade. - Falei, já caminhando para longe. Não pude ver a reação deles porque não queria encará-los outra vez. Depois de alcançar uma distância que julguei ser razoável, olhei de volta para os três e vi que ela o abraçava com ternura e adoração, sem dizer uma única palavra.
Senti um amor crescente por Grace, simplesmente por saber que ela também amava Jamie.
– Nós pensávamos que ele viria sozinho.
Me assustei, mas não tanto, com a voz grave de Arthur ao meu lado. Eu já estava me acostumando a ser pega de surpresa por ele.
– É, eu sei. Gostaria que ele tivesse avisado.
– Acho que ele queria fazer uma surpresa, principalmente pra mamãe. Queria mostrar que agora estava tudo bem.
Encarei-o por algum momento, mas ele pareceu não perceber. Assim como eu há alguns segundos, parecia distraído com as duas figuras que se abraçavam a alguma distância de nós.
– Vocês a conheceram? - Perguntei, pensando em Amelia.

– Infelizmente. Era uma piranha interesseira. Jhulie nunca foi com a cara dela, era uma pista pro cabeçudo saber que ela não prestava.
– Bom... - Comecei, voltando a encará-los - Ele era apaixonado por ela, isso não seria motivo suficiente...
– É. Ela teve que colocar um par de chifres na cabeça dele pra ele se ligar. E a verdade é que nós estaríamos pouco nos fudendo se ele estivesse pouco se fudendo. O problema é que a vadia acabou com a vida dele.
Senti pena de Jamie outra vez. Não sabia em qual estado aquela mulher o tinha deixado, mas se fosse levar em consideração os testemunhos de tantas pessoas à sua volta, ele parecia mesmo ter estado perto de um suicídio.
– Vocês foram pros Estados Unidos quando ele ficou deprimido?
– O estúpido nos proibiu. Disse que se aparecêssemos lá, ele sumiria. Não quisemos arriscar, mas pedimos pra Duda ficar de olho nele.
– Vocês a conhecem? - Perguntei, um pouco surpresa.
– Conheço Duda e toda a família dela desde que me entendo por gente. Crescemos todos juntos nos Estados Unidos. Sinceramente, sempre achei que no final Jamie acabaria ficando com ela, mas pelo visto não era pra ser dessa forma.
Olhei para as mãos me sentindo um pouco intimidada em imaginar Duda com Jamie.
– Eles já... estiveram juntos? Você sabe, na adolescência, ou há muito tempo atrás?
Ele me olhou e suspirou, fazendo uma cara de quem possui a informação mais valiosa do universo.
– Ok, vou te dizer. Mas você tem que me prometer que nunca, nunca vai dizer pra ninguém que eu te contei. Certo?
Me senti subitamente nervosa, ignorando o frio e começando a criar algumas gotas de suor nas têmporas.
– Pr... Prometo!
– Tudo bem... A verdade é a seguinte... - Ele demorava muito entre um raciocínio e outro. Eu já olhava com desespero para ele, implorando para que cuspisse logo toda a verdade - Duda e Jamie compartilharam um amor tórrido e intenso...
As palavras me machucaram.
Um amor tórrido? E intenso? Jamie com Duda?
– Mas... Mas ele me disse que... Disse que eles eram só amigos...
– Ah, sim, eles são só amigos. Agora. Mas quando se tem sete anos, a vida é uma aventura.
Sete anos?
– Quê? - Perguntei, um pouco confusa.
– HAHAHAHAHAHAHA!
Fiquei encarando-o como uma imbecil, tentando fazer com que as palavras dele fizessem algum sentido dentro da minha cabeça.
– Sua cara estava muito engraçada! - Ele falou, esmurrando o ar enquanto se contorcia em uma gargalhada.
– Quer me explicar...
– A única coisa que Jamie teve com Duda foi um primeiro beijo de fedelhos. Azar o dela que tirou "salada mista". É claro que língua era uma coisa muito difícil pros dois, então eles ficaram só no selinho mesmo. Hahahaha!
Salada mista? Fedelhos? Selinho?
– Porra, Arthur! - Gritei, dando um soco no braço musculoso do irmão brutamontes enquanto juntava os pedaços de informação - Eu estava levando a sério!
– Ai! Seu soco é mais forte dos que os do Jamie. - Ele pontuou sem parar de rir, esfregando o local socado com a mão do outro braço. Eu ainda estava me recobrando do susto, mas só então notei que havia batido em uma pessoa com a qual eu não tinha muita intimidade. Além disso, corria o risco do instinto maternal e protetor de Grace aflorar, fazendo com que eu acabasse arrastada pelos cabelos por agredir fisicamente seu filho.
– Desculpa
– Tudo bem, eu mereci. - Ele falou, com seu constante bom humor - Mas que a sua cara estava engraçada, isso estava.
Respirei aliviada por saber daquilo. Não que eu tivesse ciúmes de Duda, mas... Bom, o pensamento dos dois juntos era um pouco angustiante.
– Mas agora, falando sério... - Ele começou, me tirando das minhas divagações - Você está fazendo bem a ele. Dá pra ver que está.
Aquilo não foi uma pergunta, então fiquei na dúvida se deveria ou não responder alguma coisa. Optei por ficar calada, então ele continuou em seu mais novo tom sério. Era estranho ver Arthur falando qualquer coisa que não remetesse a alguma piada.
– Bom... Não sou bom nessas coisas, mas você sabe o que eu quero dizer. Jamie é um cara bacana. É bacana até demais. Não é porque sou irmão dele, mas você não vai encontrar alguém legal assim tão fácil.
Eu sabia. Arthur não precisava sequer se esforçar para fazer com que eu entendesse aquilo, simplesmente porque eu já sabia o que ele queria dizer: Eu tinha sorte de ser dele.
– Ele é meio cabeça dura e babaca às vezes, mas isso é coisa de homem... No fim das contas, tudo que ele quer é alguém pra cuidar, alguém com quem ele possa dividir um pouco das merdas e das vitórias da vida dele. Jamie sempre foi assim, e se alguma vez pareceu diferente disso é porque estava perdido ou com medo.
Sorri. Por mais absurdas e sem sentido que as palavras dele pudessem parecer, elas faziam um sentido assustador. Entendi, naquele momento, que Arthur talvez fosse a pessoa daquela família que mais conhecia Jamie.
– Não estou aqui para machucá-lo. Pelo contrário, quero curar cada ferida que ela deixou. Acredite, você não faz ideia de como seu irmão é importante pra mim.
Ele ficou em silêncio ponderando minhas palavras por algum tempo, e talvez fosse falar alguma coisa, mas no momento seguinte, fomos interrompidos.
– Arthur, que tal arranjar uma namorada e devolver a minha? - Jamie falou, já envolvendo um braço possessivo na minha cintura e o deixando ali.
– Ah, merda, justo agora que ia jogar minha melhor cantada. - Ele respondeu, fechando os olhos teatralmente como se estivesse contrariado - Dak, fica pra próxima.
Fui abruptamente esmagada em um abraço de Grace, que surgiu do nada dizendo coisas como "Volte logo", "Você será sempre bem-vinda" e "Obrigada por tudo". Deixei claro que quem deveria agradecer pela recepção maravilhosa era eu, e me desculpei mais uma vez por ter aparecido sem ser convidada ou sequer anunciada. Jim pareceu até um pouco irritado com minhas "desculpas esdrúxulas", mas no final acabou me esmagando em um abraço de urso também, o que aparentava ser típico de todos os Dornan.
Me senti subitamente triste por deixá-los. Não era como se agora eu fizesse parte de uma família, mas me sentir aceita e bem vinda naquela família em especial fazia com que o fato de que eu tivesse que me despedir partisse meu coração.
– Nos vemos na próxima festa de família, cabeção. - Virei e vi Arthur com Jamie no conhecido "abraço de macho" - Cuide-se, e veja se não vai fazer nenhuma merda até lá.
– Pode deixar. Divirta-se com seu Dostoiévski e documentários sobre física quântica.
– Dak... - Ele se virou para mim, segurando minhas mãos - Persevere. Todos temos nossos karmas na vida. Jamie é muito menos retardado do que parece.
– Vou ter isso em mente. - Falei sorrindo enquanto o abraçava, agradecendo em silêncio por Arthur ter o bom senso de não empregar tanta força no abraço que me dava e correr o risco de quebrar minhas costelas. Fiquei nas pontas dos pés para falar perto do seu ouvido - E não se preocupe. Vou cuidar dele.
– Não estou preocupado. - Ele disse, sorrindo de volta e afrouxando o abraço.
Eram 14:30h agora. O vôo, antes marcado para as 13h, teve que ser adiado pelo telefone por causa do mau tempo, nos dando mais alguns momentos em Londres. Grace parecia radiante por ter mais um pouco do filho ali. O taxi já nos esperava na entrada da casa, com a bagagem devidamente arrumada no porta-malas.
– Temos que ir. - Jamie enfim falou, arrancando algumas lágrimas emocionadas de sua mãe - Nos vemos ano que vem.
– Estaremos esperando. - Disse Jim, abraçando com ternura sua mulher na tentativa de consolá-la.
Eu não gostava de vê-la chorando.
– Você vem?
Me assustei um pouco ao ouvir a voz de Jamie no meu ouvido. Só então notei que estava plantada no chão, sem o menor indício de que iria me mover.
Eu não queria ir embora. Além de ali ser o melhor lugar do mundo com as melhores companhias do mundo, eu não queria tirar Jamie de Grace outra vez. Era óbvio o mal que a saudade dos filhos fazia a ela.
– Ah... Sim, claro. - Falei, um pouco contrariada. Segurei sua mão em um ato impensado e caminhamos para o táxi no portão de entrada.
Grace acenava efusivamente. Senti outra vez um aperto no peito por estar partindo e levando Jamie junto comigo. A sensação de que ali era o verdadeiro lugar onde ele deveria ficar estava me esmagando aos poucos.
O motor foi ligado e Jamie acenou de volta pela janela aberta do banco de trás.
– Promete que vamos voltar na primavera? - Perguntei, um pouco angustiada com a despedida.
Ele sorriu de forma tranquila e feliz.
– Pode apostar.
O carro passou pelas grades e virou para a rua branca e gelada.
E de repente me peguei desejando que o "pesadelo de conhecer a família Dornan" não tivesse passado tão rápido.
...
Chegamos em Los Angeles por volta das 18h, o que correspondia às 2h da manhã em Londres. A viagem havia sido silenciosa, principalmente porque eu dormi na maior parte dela. Às vezes Jamie me perguntava o que eu havia realmente achado de lá, e não precisei falar muito para que ele entendesse que aquele havia se tornado o meu lugar favorito no mundo.
Por causa de algum engarrafamento que não me preocupei em saber o motivo, chegamos ao prédio dele uma hora depois, às 19h. Embora não fosse tarde, o céu já estava escuro.
– Obrigado, Marcos. - Ouvi-o agradecer ao porteiro que trouxe minha mala para cima. Fiquei parada atrás de Jamie, sorrindo debilmente para o homem. Estava muito sonolenta para agradecer também.
– Tenham uma boa noite. - Ele falou sorrindo e se virou para pegar o elevador.
Jamie pegou as duas malas e caminhou paro o corredor. O segui mecanicamente. Quando dei por mim, estávamos no quarto dele.
– Minha mala fica no outro quarto. - Falei sem pensar - Pode deixar que eu levo...
– Não - Ele me interrompeu, afastando minha mão - Você dorme aqui, não faz sentido sua mala ficar lá.
– Mas sempre ficou...
– Mas sempre ficou errado. Vou separar o lado direito do closet pra você. Podemos fazer isso juntos amanhã.
Eu não ia discutir. Se ele queria perder espaço no próprio quarto, tudo bem.
– Vou tomar um banho rápido.
Assenti com a cabeça, ainda sonolenta, sentada na cama macia. Ele entrou no banheiro e antes que eu dormisse ali, sentada à sua espera, caminhei para o banheiro do outro quarto - o que não podia ser mais chamado de meu - e tomei um banho quente e rápido. Vesti um conjunto de moletom branco e voltei ao quarto dele, que ainda não tinha saído.
Ainda estava muito cedo, mas mesmo assim eu queria dormir. A diferença de fusos horários estava mexendo com meu relógio biológico, então me sentia constantemente sonolenta. E o edredom macio era tão convidativo...
Sem esperar por ele, me enfiei debaixo das cobertas fofas. Suspirei ao me aquecer ali. O perfume dele estava impregnado em cada tecido que havia naquela cama. Me cobri até o pescoço e enfiei o rosto no travesseiro dele, inspirando repetidamente como uma viciada.
A porta foi aberta e senti uma súbita alegria simplesmente por estar no mesmo ambiente que ele. Quando Jamie saiu, parecia ter esquecido alguma coisa.
As roupas.

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