Capitulo 36

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Capítulo 36
PENÚLTIMO CAPÍTULO

Pov. Dakota

Ter Valentina agora me fazia sentir mais a falta dos meus pais, e eu não sabia o motivo. Alguma parte de mim queria tê-los por perto para mostrá-los a incrível obra de arte que eu havia trazido ao mundo, e vê-los felizes com uma netinha linda que eles jamais puderam ter. Queria também mostrá-los o tamanho da minha felicidade, e como, na verdade, tudo melhorou depois que Jamie apareceu na minha vida.
Eu queria que eles tivessem conhecido Jamie.
Eu gostaria que eles estivessem aqui.
Era bom ter Grace e Jim sempre por perto. Era em momentos onde minha tristeza órfã aumentava que eles faziam com que eu me sentisse em casa, dentro de uma família, sem nunca achar que aquilo era apenas gentileza. Eu realmente pertencia àquela família, e isso era algo maravilhoso. Mais maravilhoso ainda era saber que a minha filha, a pessoinha que eu mais amava no mundo, fazia parte dela também.
Embora os cortes da minha operação ainda doessem, tudo no que eu conseguia prestar atenção era a presença dela. Talvez eu pudesse até me importar com o fato do parto não ter sido da forma como eu queria, mas depois do Dr. Leandro ter explicado exatamente o que havia acontecido e de toda a dificuldade do processo (porque tudo havia passado tão rápido que eu não fazia ideia de nada), tudo que fiz foi agradecer por simplesmente ter minha filha comigo. Viva, saudável e faminta.
Grace e Jim pareciam radiantes com a presença dela nos horários de visita, e tudo que Jamie fazia era encará-la como se ela se fosse uma mini bomba atômica. Valentina era assustadoramente quieta, exceto quando estava com fome. Por isso era comum vê-la entrando no quarto aos berros no colo de uma enfermeira e assisti-la ficar repentinamente calma quando alcançava meu peito.
Doía um pouco. Ela era violenta e nada sutil. Mas eu não conseguia realmente sentir a dor.
O sono parecia tomá-la depois de cada furiosa refeição, mas ela não se dava por vencida antes de passar algum tempo analisando cheia de curiosidade os rostos sorridentes ali. O rosto de Jamie era sempre o que parecia chamar mais a sua atenção, e era sempre no colo dele que ela acabava dormindo, exausta da tentativa de entender quem era ele e por que parecia se derreter todo por ela.
Ele, por sua vez, não disfarçava sua mais nova obsessão, e mesmo que passasse todo o tempo permitido do meu lado, me mimando da forma que sabia fazer muito bem, era só Valentina entrar em cena para que eu fosse imediatamente esquecida e substituída por ela. Mas eu não ficava chateada. Na verdade, sinceramente, achava aquilo adorável.
– Contanto que ela seja a única mulher que você prefira a mim, tudo bem. - Falei repentinamente enquanto ele a ninava depois do almoço.
Jamie sorriu de maneira simples, desviando o olhar da filha só por um segundo para me encarar com uma expressão que dizia "não seja boba".
– Não estou reclamando. - Concluí.
– Claro que não está. - Ele murmurou, voltando a encará-la - Você sabe que eu amo as duas de formas diferentes.
– Tudo bem. - Ajeitei o travesseiro atrás de mim e deitei devagar, agindo de maneira casual - Mas quando a quarentena acabar eu vou exigir que você me mostre isso.
Levantei uma sobrancelha tentando parecer sedutora, mas me achei ridícula. Ele me encarou outra vez, com a mesma expressão tranquila de antes. Isso era bom: Pelo menos Jamie não estava rindo da minha cara.
– Ah, meu amor... - Ele começou de maneira simples, como se estivéssemos conversando sobre presentes de Natal - Assim que a quarentena acabar eu vou te mostrar exatamente de que forma eu te amo.
Ele deu um sorriso simples, mas muito largo, talvez não tendo a intenção de ser provocante, enquanto ainda ninava com paciência a nossa filha adormecida no colo. Era uma visão interessante. Meus ovários estariam explodindo caso eu não estivesse sentindo uma dor altamente anti-tesão.
Mas tudo bem. Eu só precisava esperar.
Meu aniversário, dois dias depois do nascimento de Valentina, passou quase em branco. Mas não me importei. Receber os votos de felicidades de Jamie, dos pais dele e até dos irmãos por telefone era mais do que o suficiente, mesmo que todo mundo evitasse me abraçar com medo de que me machucassem. Jamie se desculpou repetidas vezes por não podermos fazer nada de bom como comemoração, e tentei explicá-lo que o fato de não conseguir dar dois passos sem sentir dor não era culpa dele. Deixei bastante claro que não queria comemoração alguma, com medo de que ele trouxesse os Doutores da Alegria até o meu quarto junto com balões coloridos e bolo, mas o que mais o fez se sentir culpado foi o fato de não ter me dado nenhum presente - fora um "simples" bracelete grosso cravejado de brilhantes -, porque ele "não conseguiu se concentrar suficientemente para pensar em um presente melhor".
– Mas eu ainda vou te dar um outro...
– Se você fizer isso eu peço divórcio.
– Mas isso foi só uma coisa pra não deixar passar em branco...
– Divórcio, Jamie.
Ele sabia que não adiantava bufar quando eu parecia estar falando sério. É claro que eu não estava falando sério, mas sabia que ameaças desse tipo provavelmente funcionariam como forma de controlar seus exageros. Jamie sempre havia sido assim, e algo me dizia que agora, com o nascimento da nossa filha, a coisa só tendia a piorar.
Quando finalmente recebi alta do hospital, fui recepcionada de forma calorosa por Grace e Jim na casa que agora eu já conseguia chamar de "minha também". Fui saber mais tarde que Jamie havia cogitado a possibilidade de contratar mais duas empregadas, já que eu não poderia sequer me servir de um copo d'água sozinha e que, por isso, o número de empregados deveria aumentar. Felizmente (e isso porque Grace ainda tinha algum poder de persuasão sobre o filho), a ideia foi esquecida, chegando-se à conclusão de que uma empregada e uma avó por perto já era mais do que o suficiente para não deixar que a nossa filha morresse de fome ou de frio.
Quanto a Valentina, tudo que ela fazia consistia em chorar, comer e dormir. Eram coisas bastante monótonas na teoria, mas não deixavam de exercer um certo poder hipnótico sobre Jamie e, confesso, sobre mim também. Talvez fosse coisa de pais de primeira viagem, mas seus avós também pareciam obcecados quando ela começava a piscar os olhinhos devagar, o que me fez imaginar que talvez fosse um encanto natural seu mesmo.
A primeira vez que tive que dar banho nela, implorei para que Grace estivesse presente. Eu nunca havia feito aquilo, e nos meus piores pesadelos Valentina se debatia toda molhada nas minhas mãos, escorregava pelos meus dedos e se estatelava no chão.
– Você não vai deixá-la cair, querida.
– Eu não sei...
– Ela é tão quietinha...
– É, mas eu sou um pouco estabanada...
Mas não foi difícil. Minha filha era mesmo estranhamente calma, e nem o primeiro banho foi o suficiente para fazê-la espernear, como era bastante comum de acontecer com bebês. Ela parecia tranquila enquanto eu fazia pequenas ondas com as mãos em concha e molhava sua barriga e seu pescoço.
– Acho que ela está gostando. - Jamie falou do outro lado, e Valentina olhou para ele. Sempre que ele falava ela fazia isso.
– É claro que está. - Grace respondeu, encarando-a como se estivesse conversando com ela - A água está quentinha, não é?
Jamie estendeu o dedo e tocou em uma de suas mãozinhas fechadas. Ela reconheceu o toque e abriu os dedos para logo em seguida espremê-los contra a ponta do mindinho do pai.
– Caramba, você é forte!
– Ei, não precisa segurar, a mamãe não vai te afogar. - Grace falou de bom humor.
– Ah meu Deus, tomara. - Balbuciei, tentando firmar a mão e ao mesmo tempo não machucá-la.
No final, tudo deu certo. Valentina estava limpa, cheirosa e um pouco entediada até. Depois de algumas horas com Jamie tentando entretê-la de alguma forma, ela finalmente se rendeu e adormeceu.
– Ela é tão calma...
– É...

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