Capítulo 3 - Brianna

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TUDO PARECEU SILENCIAR NAQUELE momento e tudo o que eu conseguia ouvir eram as batidas do meu coração, pulsando em cada minúsculo pedaço do meu corpo. Eu sabia que havia aberto os lábios e sentia o esforço ao deixar o ar passar pelas minhas cordas vocais enquanto gritava pelo nome de Abbey, mas eu não conseguia me ouvir. O olhar de luto das pessoas ao meu redor pareceu-me que isso era algo comum por aqui e isso me fez gritar mais ainda. Eu não queria me tornar igual a eles.

As carruagens continuavam pela estrada, afastando-se da multidão onde eu estava. A penúltima jaula foi-se distanciando de mim, a pequena mão pendurada balançava de acordo com o movimento das rodas da carruagem diminuía a cada segundo, desaparecendo entre a poeira que era levantada.

Antes que eu me desse conta do que eu estava fazendo, eu me vi correndo, empurrando qualquer um que aparecesse em minha frente. Porém, por mais rápido que eu corresse, eu não conseguia diminuir o espaço que havia entre eu e minha irmã. Coisas horríveis passavam pela minha cabeça e eu não conseguia deixar de imaginar como estaria seu corpo, a julgar pelas mãos machucadas.

O que será que haviam feito com ela? Para onde estavam a levando?

Minhas pernas cederam e eu caí de joelhos na terra, sentido de repente que todas as minhas forças haviam se esgotado. Novamente, as lágrimas encheram minha visão, escorrendo por todo o meu rosto.

Senti alguém tocar em mim, tentando levantar-me, mas eu não tinha força nenhuma. Apenas continuei ali, enquanto meus sentidos voltavam ao normal gradualmente. Olhei para o lado e vi levemente a pele bronzeada de Chad, enquanto ele bloqueava minha visão dos arredores.

- Venha, Bri. Vamos sair daqui. – Chad sussurrou apressadamente em meu ouvido, tentando levantar-me novamente.

- Nós precisamos segui-los, Chad! – Eu murmurei sem forças. – Precisamos descobrir para onde estão levando Abbey!

- Bri, nós faremos isso. Nós livraremos as três. – Eu o ouvi dizer enquanto eu me encolhia, escondendo meu rosto em seu ombro e desejando poder apagar para sempre da minha memória aquela cena. – Mas realmente, precisamos sair daqui. Você já chamou atenção de todos.

O que?

Eu me afastei apenas o suficiente para olhar para Chad, confusa com o que ele havia falado. Ele me olhou com um sorriso infeliz no rosto e apontou com o rosto para trás de mim.

- O que foi isso?! – Eu perguntei assustada e espantada ao ver uma fina linha de cinzas cobrindo o trajeto que eu havia percorrido até chegar aqui. Eu voltei meu olhar para Chad, com o meu queixo caído em descrença. – E-Eu causei isso?

Chad apertou os lábios e acenou levemente.

- Ainda bem que há bastante pó no chão. – Ele disse, começando a me direcionar para longe dali. – Consegui apagar as chamas assim que elas surgiam, mas não pude evitar as cinzas.

Levantei minhas mãos e consegui ver a fina camada de cinzas que havia se formado nas pontas dos meus dedos como sempre acontecia quando eu usava meu Dom. Como eu não havia percebido que havia feito aquilo? Esfreguei minha mão em minha saia improvisada e sequei meu rosto com as costas da mão, embora as lágrimas ainda escorressem.

Chad e eu nos direcionamos para uma rua estreita que dava acesso a uma parte da floresta que rodeava as montanhas. Eu começava a sentir frio novamente, apesar de estar vestindo calça e blusa comprida. O céu estava ficando cada vez mais cinzento e eu não me surpreenderia se começasse a nevar.

O Cristalizar da Água - O Florescer do Fogo #2Where stories live. Discover now