Capítulo 8 - Chad

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EU HAVIA JURADO PARA MIM MESMO que não voltaria aqui tão cedo.

Eu sabia que voltar para Torphin significaria ter conversas que eu não me sentia preparado para ter. Não que eu não quisesse resolver minhas pendências. Eu queria, e muito. Mas apenas pensar nelas deixava-me nervoso, lembrando-me das coisas que eu abriria mão e do tanto que eu estava me arriscando.

O que também nunca havia sido um problema para mim. Arriscar-me sempre fez parte do meu cotidiano.

O problema agora era outra coisa. E ela tinha um nome e cabelos ruivos.

À medida que nos aproximávamos da orla da floresta que contornava Torphin, sentia meu estômago se revirando e o suor escorrendo nas têmporas. Passei a mão na testa e depois no resto da minha cabeça, puxando meu cabelo para trás, já ouvindo em minha mente todos os possíveis e imagináveis comentários de minha mãe sobre minha aparência.

– Você está bem? – A voz de Abbey soou em meus pensamentos e eu despertei. Ela havia se virado ligeiramente para mim, ainda montada no cavalo.

– É... Estou. – Eu dei de ombros, tentando entender o que ela havia dito.

– Você parou o cavalo do nada. – Brianna disse, parada ao lado com cavalo com os braços cruzados e as sobrancelhas erguidas. Às vezes parecia que ela não conseguia fazer nenhuma cara além dessa de mal-humorada. Ela devia estar me xingando diversos nomes nesse momento.

Voltei minha atenção para a floresta ao nosso redor e notei que havia parado a poucos centímetros da entrada. Não era a entrada oficial. Era apenas uma pequena trilha que as crianças sempre usavam para brincar pela região.

Eu abri um sorriso, tentando conter o nervosismo.

– Era só para ver se vocês estavam espertas. – Brianna hesitou um pouco, mas logo virou os olhos. – Vamos descer, Abbey, e continuar a pé.

Desmontei do cavalo e ajudei a menininha logo em seguida. Peguei as rédeas do cavalo e segui em frente. Essa era a hora da verdade.

Coloquei meu pé para fora da floresta, abaixando um pouco minha cabeça para não me arranhar nos galhos baixos da árvore. A claridade do poste de luz mais próximo me alcançou, dando-me do que sempre havia sido meu lar.

Uma clareira gigantesca se estendia para todos os lados. Não se via nenhum movimento nas ruas, já que todos deveriam estar em seus momentos em família. Diversas casas de madeira se estendiam em ruas vazias pela clareira. Algumas já estavam com suas luzes internas apagadas. As quatro casas principais estavam logo à nossa frente, pertencentes aos quatro líderes de Torphin, cada qual com seu nome de família esculpido em uma placa de madeira na entrada. Meus olhos se fixaram na que dizia Wayneghonn, esperando, a qualquer momento, aquela porta se abrir. Apesar de não tê-los vistos, eu sabia que havíamos passado por espias que guardavam todas as entradas do Torphin. Não demorariam em saber que havíamos chegado.

Não demorou muito para vultos aparecerem pelas janelas da casa Wayneghonn e as vozes exaltadas preencherem a noite silenciosa. Senti meus pés afundarem no solo enquanto esperava.

– O que estam... – Brianna começou a resmungar.

Voltei-me para trás com um "shh" antes que ela terminasse de falar.

No momento em que voltei-me para frente, a porta da casa se abriu. Por um momento a pequena figura que apareceu ali congelou, como se estivesse tentando enxergar de longe. O reconhecimento preencheu o rosto distante, fazendo a figura aproximar-se de nós em passos lentos e hesitantes.

O Cristalizar da Água - O Florescer do Fogo #2حيث تعيش القصص. اكتشف الآن