Capítulo 5 - Brianna

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SIMPLES ASSIM.

Eu simplesmente soltei minha mão, a única coisa que a prendia em vida, e a deixei cair, mergulhar na imensidão do desconhecido que estava escondido naquela parede branca de névoa. Com um sorriso no rosto, minha mãe cortou o ar como um pássaro que havia desaprendido a voar, sumindo de nossas vidas tão rapidamente que, em um piscar de olhos, ela já não estava mais lá. Era como se nada daquilo tivesse acontecido. Como se ela nunca tivesse existido.

O silêncio preencheu o ar por um tempo infinito, permitindo–me apenas ouvir as batidas do meu próprio coração, palpitando em minha cabeça com martelos de ferro fundido.

Eu vi Abbey mover os seus lábios, gritando. Um par de mãos apareceu atrás de nós, puxando–nos para cima. Lembro–me levemente de ter sido colocada em cima de outro cavalo e depois de correr por uma trilha.

Estava mais frio do que eu me lembrava, mas eu não conseguia notar se havia nevado novamente ou não. Meus braços estavam dormentes. Tudo em mim estava dormente e a única coisa que eu conseguia ter em mente era a imagem da minha mãe, sorrindo, enquanto caia para a sua morte, para a sua inexistência. E eu, abrindo minhas mãos com a facilidade de abrir os olhos, como se deixar minha mãe morrer fosse tão fácil e automático como respirar.

A forma como minha mãe havia morrido, sorrindo, veio–me à cabeça de novo e de novo. Ela pensava que eu estava fazendo a coisa certa. Pensava que eu estava sendo obediente pela primeira vez na vida. Mas eu sabia que não era assim. Eu sabia porque eu a havia deixado ir. Não porque aquele era seu último pedido.

Mas porque, desde o princípio, eu havia vindo aqui para salvar Abbey.

Eu só não imaginava que me sentiria a pessoa mais terrível do mundo inteiro.

Apenas fui despertada quando já havíamos descido do cavalo e estávamos em alguma pequena clareira no meio da floresta. Minúsculos pontinhos brancos cobriam meus cabelos, umedecendo–os por completo. Abbey estava aninhada a mim, com seu rosto afundado em meu colo enquanto chorava aos soluços. Chad estava sentado em minha frente, com as pernas cruzadas, os dedos entrelaçados e os olhos vazios, fixos em um ponto qualquer.

– Eu sinto muito. – Ele murmurou, ainda encarando o vazio, quando notou que eu estava a observa–lo.

Eu apenas balancei a cabeça. O que eu poderia dizer?

– É serio. – Ele voltou seu rosto para mim e fixou seus olhos nos meus. – Se... Se eu tivesse chegado alguns segundos antes eu... – Ele deixou morrer sua voz, suprimindo os lábios. – Eu sinto muito mesmo.

Desviei minha visão dele. Se ele soubesse do que de fato havia acontecido. Se ele soubesse o que se passava na minha mente, no meu coração, ele nunca estaria pedindo desculpas assim.

Se ele verdadeiramente soubesse o que eu havia feito, ele nunca mais olharia para mim. Isso era um fato. E, só de imaginar isso, um nó se formou em minha garganta e eu pisquei várias vezes, tentando impedir que as lágrimas caíssem. Abaixei mais ainda meu rosto, deixando meu cabelo cobrir–me para que Chad não notasse. Eu não gostava de admitir isso, mas Chad havia se tornado alguém importante para mim apesar dos pesares. Eu não aguentaria o perder outra vez. Sequei meu rosto com as costas da minha mão quando eu não mais pude aguentar e deixei que algumas lágrimas escorressem. Se ele também soubesse que não era pela minha mãe que eu estava chorando...

– Ei, – Chad alcançou meu braço, tocando–me de leve. – Está tudo bem. Você não precisa esconder de mim. Nós não podemos ser fortes o tempo inteiro.

O Cristalizar da Água - O Florescer do Fogo #2Where stories live. Discover now