CAPÍTULO 15 - BRIANNA

718 55 28
                                    

PARA TODOS AQUELES QUE ATÉ HOJE ESPERAM.
PARA AQUELES QUE ATÉ HOJE PERGUNTAM.
PARA AQUELES QUE NÃO DESISTIRAM DESTE LIVRO:
Um capítulo inédito. Como uma forma (humilde) de recompensar minha ausência.
Eu não desisti.
Eu estou voltando.
Darei mais detalhes em breve.
Amo a todos .

Instagram:
acamillabastos
—————————-

EU DESMORONEI, CAINDO EM MEUS JOELHOS ao ver a cena de destruição bem em minha frente.
A agonia ao ver tudo o que o fogo consumira fez-me sentir culpada. Culpada por ter o fogo como meu aliado; por ter uma arma letal que destruía tudo à sua frente sem dó nem piedade. Culpada por ter um dia sentido prazer ao sentir o calor das chamas deslizando entre meus dedos; por ter me deliciado da sensação de temor nos olhos das pessoas ao me verem tocar as chamas como se eu estivesse segurando nada mais que um pano em diversos tons de laranja. Culpada por, finalmente, perceber a incrível semelhança que havia entre nós.
Nós destruíamos tudo aquilo que encostávamos.
Eu abracei o meu próprio corpo, tentando conter o transtorno que acontecia dentro de mim, tentando conter minhas entranhas que se corroíam por dentro.
Algo gelado tocou meus braços. Senti alguém me levantando e me envolvendo, e eu vi minha visão se escurecer à medida que as mãos frias de Chad tocavam minha pele fervente.
– Isso não é culpa sua. – Ele sussurrou como se estivesse lendo meus pensamentos.
Eu apertei meus olhos e balancei a cabeça.
Chad se afastou e segurou meu rosto, forçando-me a olhar para ele. Eu demorei em abrir os olhos. Estavam margeados de lágrimas.
– Uma mesma coisa pode ser usada para construir e para destruir. – Ele disse, quando eu finalmente fixei meus olhos nos dele. – Você é quem decide como vai usá-lo.
O nó em minha garganta apenas aumentou, fazendo mais lágrimas jorrarem dos meus olhos. Encarei Chad, mas não consegui dizer uma só palavra. Encostei minha cabeça em seu peito e fixei meus olhos no horizonte, onde o vento brincava com as chamas, aumentando sua intensidade e espalhando a destruição por todos os lados.
– Talvez você não consiga desfazer o que está feito, – Chad voltou a falar, – mas consegue impedir que mais coisas sejam destruídas.
Eu engoli a seco.
Desvinculei-me de Chad e caminhei lentamente em meio à parede cinzenta de fumaça. Voltei-me ligeiramente para trás e vi Tirzah com o rosto espantado, enquanto Chad lhe sussurrava alguma coisa e segurava seu braço com firmeza.
Encarei novamente as chamas. Conseguia ouvir meu coração pulsar descompassadamente em todo o meu corpo. Senti as pontas dos meus dedos formigarem à medida que eu me aproximava e conseguia ouvir melhor o som da melodia cacofônica das chamas e de seu espetáculo de destruição.
Logo, o som de vozes de pessoas podia ser ouvido ao fundo se eu me concentrasse bem. O choro de crianças, os gritos de desespero, de puro terror. Por um momento, era como se eu estivesse de volta àquela visão que eu tive na Casa de Ofélia quando, por alguns segundos, eu presenciei a Grande Destruição. Naquele evento, um reino inteiro havia sido destruído pelo meu antecessor.
Eu não deixaria que isso acontecesse novamente.
Apertei meus punhos e segui em frente, determinada, sem desviar meu foco das chamas.
Caminhei pela primeira rua, uma confusão de fumaça e destruição. As chamas podiam ser vistas nos topos dos telhados das casas mais à frente enquanto elas eram arrastadas pelo vento e devorando o que restava do vilarejo.
Eu continuei em frente, sem me importar com a fumaça que eu inalava, sem me importar com os resquícios de fogo por onde eu passava. Eu podia senti-lo. Era como se fosse parte estendida dos meus próprios braços. A cada passo, minhas botas se afundavam na terra coberta de fuligem e cinzas, e o que restava de fogo ai se exaurindo. Desviei de galhos e objetos que haviam sido consumidos pelas primeiras chamas daquele incêndio e, à medida que eu as ultrapassava, uma onda de imagens invadia minha mente. Imagens de destruição, de pessoas, de lugares que eu nunca havia visto antes sendo destruídos pelo fogo.
Acelerei meu passo, virando para esquerda e para a direita ao me desviar de obstáculos, de casas, de pessoas já sem vida. Eu estava tentando fugir dessas imagens que me sobrecarregavam, mas parecia que elas só aumentavam e eu não conseguia distinguir o que era real e o que não era.
Alcancei um espaço aberto onde eu podia ver algumas pessoas correndo e carregando outras nos braços, fugindo das rajadas de fogo. O calor do fogo me atraiu e, quando corri em sua direção, o silêncio entre as pessoas por perto tomou conta do local.
Sobrecarregada, meus joelhos cederam. Mais e mais imagens invadiam minha mente. Minha cabeça parecia que ia explodir e eu a cobri com os braços, rangendo os dentes e contraindo todos os meus músculos em dor e angustia.
Meus olhos estavam apertados, numa tentativa de bloquear as imagens, mas mesmo assim eu conseguia perceber que eu estava em meio ao fogo. As chamas circulavam ao meu redor como se fossem correntes de ar e, quando a dor pareceu insuportável, eu bati meus punhos contraídos contra a terra e gritei, minha voz raspando em minha garganta.
– Já chega!
Naquele mesmo momento, o fogo se apartou e as chamas desapareceram juntamente com suas memórias de destruição.

O Cristalizar da Água - O Florescer do Fogo #2Where stories live. Discover now