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Eu ando tentando mas ela não vai embora!

Se eu não tivesse me mudado, nada disso teria acontecido. E essa dor de cabeça realmente não vai embora ! E onde estão as respostas ?

As duas horas da tarde recebi um telefonema. Era do Hospital. Minha melhor amiga tinha sofrido um acidente de carro. Não me retrataram explicitamente seu estado, só me garantiram que ela estava consciente.

Assim que desliguei o telefone peguei as chaves da minha picape e saí de casa.

Muitos diriam que se lhes acontecesse o mesmo que me acontecera, prefeririam não ter saído. Mas Lílian precisava de mim, como poderia abandoná-la?

* * *

Ao chegar no Hospital, corri aonde estava a recepcionista. Uma senhora velha e carrancuda, toda de branco, incluindo os cabelos, me entregou um crachá de visitante e me orientou ao quarto 36.

- Obrigada.

Foi o que pude responder.

A cada passo que eu dava em direção ao quarto o meu peito se fechava em agonia. Tentei desviar a angústia em meu coração e segui adiante.

Quando cheguei abri a porta de madeira e vidro e encontrei Lilian deitada na pequena cama do quarto conversando com um homem, na casa dos quarenta, aparentemente, ele estava com uma expressão profissional em seu rosto.

- Mas não precisa se preocupar, senhorita Lilian. Pelos seus exames, logo terá alta.

Assim que terminou de falar, veio até minha direção, abriu a porta e abaixou o tom de voz, sussurrando em meu ouvido esquerdo :

- Assim que terminar o horário de visitas, poderia ir até minha sala um instante?

- Claro !

Ele assentiu uma vez e se retirou.

Corri até a cama e a abracei com força. Ai ela disse.

- Como se sente ?

- Com um pouco de enjoo, mas não se preocupe passará logo.

- O que aconteceu?

Perguntei com a voz mais suave que consegui, mas ela ainda acabou saindo um pouco apavorada.

Lilian estava pálida, com seus olhos verdes cansados e os cabelos ruivos a altura dos ombros, despenteados. Sua expressão era quase vazia e os traços se cansaço podiam ser vistos ao redor dos olhos.

- Estava na estrada, para buscar os materiais para o trabalho de biologia, quando um lobo preto correu para o meio da estrada. Tentei desviar dele e acabei batendo em uma árvore.

Senti agonia. Mas era estranho a agonia não era por Lílian ou pelo carro, era pelo lobo. Desviei esses pensamentos ridículos.

- Um Lobo ?

- Estranho né ?

- É Mas aí, seu carro chegou a bater na árvore ?

- Sim. E em compensação meu carro está destruído

Falou Lilian demostrando sarcasmo.

- Como vamos fazer agora, Branca ? Por culpa de um lobo perdemos um carro, e aqui estou eu toda quebrada e sem saber se tive outros danos, já que o médico dá a impressão de que não quer que eu saiba de nada.

Ela continuou a falar sobre como isso era injusto. Mas me desliguei completamente dela. Não estava conseguindo raciocinar ou me concentrar em nada. Só no lobo que eu nem tinha visto, mas que minha imaginação tentava visualizar, afinal, um lobo não é como um cachorrinho vira-lata que aparece assim do nada né.

* * *

Ao final do horário de visitas, me despedi de Lilian, que só deixou que eu saísse se trouxesse para ela amanhã uma lista de coisas inúteis para a sobrevivência de qualquer paciente que, segundo ela, tenha nascido de novo, guiei-me para a sala do médico.

No momento em que bati na porta, assim como a do quarto de Lílian feita de madeira e vidro, fui atendida pelo próprio médico, que me dirigiu à uma cadeira na frente de sua mesa.

Tia Ania jmestava sentada ali, o que ela estaria fazendo ali ? Provavelmente, o assunto que o Doutor trataria era algo sério. Sentei-me ao lado de Tia Ania em uma das duas cadeiras almofadas.

Quando sentei, olhei para a mesa e me deparei com uma plaqueta de metal que continha a seguinte descrição:

Dr. Smith, cirurgião geral.

Assim que ele se sentou, olhou para nós e com a mesma voz profissional que usou com Lílian, disse:

- Senhoritas ?...

- Branca e Ania.

Dissemo-nos apontando os dedos para os respectivos nomes.

- Sim, claro. Senhorita Branca, senhorita Ania, serei breve.

Ele folheou alguns papéis espalhados em sua mesa, e posicionou em sua frente uma folha com o nome da minha melhor amiga.

- Lilian chegou em nosso hospital com somente alguns arranhões. Mas por via de dúvidas, resolvemos fazer alguns exames. Quase todos estavam bons. Mas...

Tia Ania segurou minha mão e a apertou com força, curiosa. Ela sabia que a notícia iria me abalar.

Ele estava me deixando nervosa, e eu, sentindo ansiedade.

- O que está acontecendo ?

Agora eu estava gritando.

O médico virou-se para o interfone em sua mesa e pediu a secretária que trouxesse um copo com água. E prosseguiu :

- No exame pulmonar de Lílian encontramos uma bactéria. Aparentemente não faz muito tempo que está lá. Por isso temos esperança que ainda haja tempo.

Ele engole seco e continua.

- Para isso teremos que trocar os pulmões dela, mas existe uma lista de espera e o caso dela não poderá esperar.

Ela precisará de um doador urgente, ou logo a bactéria apodrecerá todo o pulmão, e Lilian pode chegar a falecer.

ReflexoWhere stories live. Discover now