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A ALGUNS ANOS ATRÁS LILIAN E eu resolvemos no meu aniversário de doze anos, viajarmos para Nova York com sua mãe e meus pais.

Nos dois primeiros dias nos divertimos muito, mas na terceira noite, decidimos assistir a uma peça de teatro. No caminho para a peça, nos perdemos e o carro se desequilibrou e caiu em um morro nos arredores da cidade. Lilian e eu estávamos cada uma em uma janela no banco traseiro, e quando o carro, nos salvando do acidente.

Não lembramos de nada. Essa foi a conclusão da perícia.

Nossos pais morreram, e a partir daquele dia Lilian e eu, nos mudamos para a casa de nossa tia para o norte de Califórnia.

Agora tenho dezoito anos, sou pálida, com cabelos castanho escuro ondulados, na altura do seios e olhos âmbar. Sou movida a música, passo grande parte do dia lendo ou em minhas pesquisas pela Internet e amo signos.

Estou crescida, mas ainda sou a mesma menina fraca, impotente e limitada de sempre. Com um brilho de gelo nos olhos.

* * *

Estou em meu lugar preferido nas redondezas. As ruínas de uma igreja abandonada na segunda guerra mundial. Venho aqui todas as madrugadas, quando Lilian e tia Ania estão dormindo.

Descobri esse lugar na nona série, quando passava por esse caminho de bicicleta para ir a biblioteca da cidade vizinha.

Assim que o médico terminou de falar, sai correndo e deixei tia Ania para trás.

Quando cheguei a igreja, Ravenna estava lá, miando de um jeito angustiado.

Peguei a gata no colo e me sentei num dos bancos do lugar.

Tenho ela a três anos, Lilian é minha melhor amiga mas existem coisas em que ela não consegue me entender.

Comecei a acaricia-la, roçando seu pelo preto e liso em meus dedos.

Agora sentia o ódio me invadir. Fechei minha mão em punho e finquei as unhas, tentando impedir que as lágrimas chegassem e me ajudassem a pensar.

Lilian não pode morrer. Tenho que fazer algo para ajudá-la. Não é isso que as melhores amigas fazem? Mas como?

Foram horas de silêncio seguidos, até que Ravenna saiu do meu colo e firmou seus olhos azuis nos meus. E voltou a miar.

Liguei meu celular. Já eram onze horas e havia sete chamadas perdidas de tia Ania. Resolvi que teria que voltar.

Estava pegando minhas chaves no chão, quando escutei uma voz feminina e desconhecida:

- Como Lilian esta, Branca?

Imediatamente me virei. A alguns metros de distância estava uma garota que aparentava minha idade, pele morena, de longos cabelos preto e lisos. Estava escuro, e a única luz que havia era uma janela quebrada, por isso não pude distinguir a cor de seu olhos.

- Quem é você? - Perguntei com a voz um pouco trêmula.

- Acalme-se, sou Cara. Vim aqui para ajudá-la.

- Não preciso de ajuda.

Seu rosto parecia impassível. Não estava conseguindo entender aonde ela queria chegar.

- Fiquei sabendo do acidente de sua prima. Vim oferecer minha ajuda.

- Que tipo de ajuda?

Ela bufa enquanto encosta-se na parede a suas costas e prossegue:

- Iremos conseguir um remédio que a cura-la em instantes.

Agora eu já estava perdida. Por que uma estranha me ajudaria em algo quase impossível? Algo ela quer em troca. E eu preciso descobrir o que é.

- Porque me ajudaria? O que esta tentando conseguir em troca?

- Ainda é cedo para você saber. Só deixe-me ajuda-la. E em uma semana você receberá um recado e vira buscar a doação.

Ravenna que ficou atrás de mim o tempo todo, agora estava na minha frente em posição defensiva e rosnando para Cara.

- Só peso que não conte a ninguém que conversamos. E logo você saberá do que se trata.

ReflexoWhere stories live. Discover now