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TIA ANIA NÃO ESTAVA EM CASA quando cheguei, provavelmente deve estar dormindo no hospital com Lilian.

A casa é praticamente inteira de madeira, deixando ela com um ar depressivo. A última vez que a limpamos foi a dois dias. Por isso no escuro com um pouco de luz vinda da janela de vidro, consigo ver a poeira flutuando no ar com graciosidade.

Subi para o meu quarto. Ele é de um azul escuro, com uma cama de casal com edredons brancos. O guarda-roupa cobre a parede paralela a janela inteira. Há uma cortina na janela de uma delicada seda branca. E uma mesinha com meu notebook e a caixa de areia de Ravenna no chão ao lado.

Precisava me distrair, então fui para a mesinha, liguei o computador e entrei no site onde olho meu horóscopo.

[Tome cuidado pisciana, os próximos dias serão muito perturbados. No amor, deixe fluir naturalmente. E nas amizades, proteja-os como puder e tome cuidado com novas amizades.]

Isso as vezes me assustava, mas agora sinto que novos conceitos devem ser repensados.

Ravenna entrou no quarto e se espreguiçou em em minha cama. Uma rápida olhada no Twitter e desliguei o computador.

Passei parte da noite acordada. Quero salvar Lilian, mas Cara não é o tipo de pessoa que devo me meter, sei que ela me arrumará problemas. Mas eu preciso aceitar sua ajuda. E as lágrimas que tentei segurar grande parte do dia saíram, o que me levou a dormir.

* * *

Acordei mais exausta do que quando dormi. Vesti-me as presas com uma calça jeans, uma blusa preta e meu all star branco. Passei base disfarçar as olheiras e um pouco de rímel.

Desci as escadas e vi que tia Ania ainda estava no hospital.

Tomei um pouco de café, e comi uma maçã e sai para a aula.

Estou no último ano do ensino médio, e estudo no único colégio de minha cidade.

Estaciono minha picape na vaga de sempre, debaixo de um grande ipê amarelo, que esta deixando cair as pétalas para o início do inverno.

- Oi Branca!

Viro-me e me deparo com Arthur, sorrindo o abraço.

- Como foram as férias? - Ele me pergunta quando terminamos o abraço.

- Não muito boas. - Disse num sussurro, mas sei que ele escutou.

- Ontem sua tia me ligou, perguntando se eu sabia onde você estava. E ela acabou me contando sobre o acidente e o problema nos pulmões de Lilian. Sinto muito.

Olho para ele e vejo o cara da minha infância que sempre esteve do meu lado. Somos amigos desde que me mudei para cá, eu confio muito nele.

Acho que se não fossemos amigos, eu poderia apaixonaria por ele, assim com todas as garotas que são apaixonadas por ele. Alto, de olhos azuis, cabelos castanhos e cacheados e um corpo delineado de músculos, qualquer garota se apaixonaria.

- Esquece isso, temos que ir.- Eu tento seguir o conselho eu mesma.

* * *

Nem vi o tempo passar, e já estávamos no almoço.

Ficamos sempre em grupos definidos. Eu sento na mesa de Arthur, Lucy, John, Troy e May. May e Lucy são da equipe de líderes de torcida, John e Troy são do time de basquete e Arthur é o capitão do time. Lilian é a capitã da equipe de líderes de torcida e é aqui que ela se senta.

Só sento-me com eles por causa de Lilian e Arthur. E mesmo assim muitos acham estranho, mas como não tenho outros amigos, Arthur vive me defendendo.

- ... e meu vestido estará pronto logo. Ainda temos tempo. E você Branca? - Pergunta-me May.

- O que ? - Eu devo estar um pouco perdida.

- Você já recebeu algum convite para o baile?

Haverá um baile daqui em alguma semanas. Lilian está eufórica por causa dele, se ela ao menos puder ir...

- Ainda não.

E não quero ir, queria acrescentar. Mas não quero estragar uma das poucas vezes em que elas falam comigo.

Assim que acaba o horário de almoço, todos voltam para a aula. Mas decido dar uma volta e esquecer minhas perturbações.

Saio e vou para perto da minha picape.

Assim que chego, sento-me no meio-fio e encolho-me.

Mas instantes depois, Arthur senta-se ao meu lado.

Acho que ele lê meus pensamentos, e em vez de me julgar ele só passa seus braços sobre mim, e ficamos assim por um bom tempo.

E de repente, vemos uma honda preta atravessar a rua em uma velocidade absurda. E eu posso estar ficando louca, mas parece que eles estavam parados atrás dos carros nos espionando.

- Arthur me espere aqui.

- Mas o que...

- Eu já volto.

E saio correndo, sem deixar que Arthur fale, na direção de onde saiu a moto.

Quando chego dou uma olhada pelo chão, não a nada. Dou uma olhada em volta, também não a nada.

Frustrada, me sentindo uma idiota, volto-me para perto de Arthur.

- Preciso ir embora. Estou exausta, quase não dormi a noite.

- Ok. Até amanhã.

Entrei em minha picape e sai. Assim que estava na metade do caminho de casa, resolvi ligar o rádio para distrair os pensamentos.

Mas assim que apertei o botão para ligar, senti algo cair no chão.

Abaixei-me e me deparei com um pen drive preto. Peguei-o, e logo me toquei.

E parti para casa o mais rápido possível.

ReflexoWhere stories live. Discover now