9. língua

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Amor incorrespondido. Amor doentio. Amor doloroso.

Afinal, porque algumas pessoas ainda insistem em achá-las românticas?

Não acho que seja romântico. Mesmo que eu faça parte de uma.

Jerome é o complexo de sentimentos que não existe em mim. Sei que Jerome me ama, por que todo mundo me ama. Meu pai, meu tio, meus primos. O amante da minha mãe que se encontrava com ela depois de me buscar no colégio. Amores sujos.

— Em que está pensando? — ah, lá vem ele outra vez... Despertando aquelas sensações que eu não deveria sentir.

Quer mesmo que eu responda?

O canto dos lábios dele estão dobrados, concentrado nas dobras que faz no papel de jornal. Ele pisca, uma, duas, três vezes. Suas íris combinam com as minhas. Só agora que ele pronúncia algo, que posso reparar na sua postura torta enquanto me faz um barquinho de papel. O nariz é tão perfeito, e as sobrancelhas são quase teatrais. E o cabelo ruivo.

Meu pai era ruivo antes de eu matá-lo.

— Você se parecesse com meu pai.

Jerome é o acento circunflexo imaginário que não existe no 'e' do meu nome.

— Isso é um problema? — sorriu, mas não desviou a atenção do pedaço de papel. — Já que você me beija para esquecê-lo.

Estou repleta de pecados sujos, e no fim, só o que eu quero, e levar alguém para o inferno comigo.

— Jerome, seu tolo... — minha língua arranha o machucado no céu da minha boca. — Eu o beijo porque se parece exatamente com meu pai.

Jerome é, o machucado no céu da minha boca que sararia se eu parasse de passar a língua encima dele. Mas eu não posso.

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All the love.

DADDY ISSUES, j. valeskaWhere stories live. Discover now