Lágrimas de mãe

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No grupo de vinte camareiras que trabalhavam no mesmo turno que ela, Helena não conseguia fazer amizades pelo simples fato de não participar das panelinhas ou de discussões acaloradas sobre as condições de trabalho, por mais que concordasse com as companheiras não podia perder o emprego, não com duas crianças para criar. E por isso era deixada de lado e até chegava a limpar todo o quarto sozinha enquanto sua companheira fingia preencher o relatório.

- Helena, parabéns, os quartos estão um brinco.- elogiou-a Lucia certa vez.

- Quando está em experiência é assim mesmo, quero é ver depois.- cochichou uma das colegas.

Helena voltava para a favela por volta das quatro e meia da tarde, e aproveitava para pegar o filho de Janaina na creche que era no caminho.

Enquanto subia a ladeira com o pequeno Denis no colo, ia recordando-se dos próprios filhos pequenos.

Morava a quase tres meses na favela e precisara vender as roupas de grife, sapatos e até a bolsa que trouxera, para comprar uma geladeira de segunda mão e um colchão, buscando proporcionar o mínimo conforto aos filhos.

- Helena hoje a Ana ficou amuadinha.- avisou Janaina assim que a mulher chegou em casa.- Reclamou de falta de ar.

- Essa poeira deve ter feito atacar a asma, faz muito tempo que não atacava, também ela vivia nadando.- disse Helena sentando-se ao lado da filha que parecia cansada.

- E por aqui é tão difícil natação.- comentou Janaina, Helena ia explicar que tivera uma casa com piscina mas achou desnecessário.

Ana acordou com falta de ar e muita dificuldade para respirar, Helena e Carmosina levaram-na para o banheiro e ligaram o chuveiro para que o vapor amenizasse a falta de ar.

- Mar virgi que nessas horas ninguém pode socorrer a gente.

- Vamos esperar amanhecer.- Helena abraçou a filha e sussurrou em seu ouvido:- Você vai ficar bem.

Na manhã seguinte, Helena levou Ana para a clínica pediátrica após ligar para Lucia e avisar faltaria.

- Qual é o plano da senhora?- perguntou a recepcionista.

- Oxe o plano é ser atentida.- disparou Carmosina.

Helena entregou o cartão do convênio para a moça que digitou os números três vezes antes de devolver o cartão.

- Seu convênio foi cancelado.

- Como assim?- Helena não conseguia entender.- Você tem certeza? Pode ser um erro de sistema...

- Eu conferi três vezes, está cancelado.

- E aí? A criança tá aqui mole que só e descorada e vocês não vão fazer nada?

- Sinto muito. A senhora pode retornar assim que resolver essa pendência com seu plano.

- Oxe e a criança? Fica sem atendimento?

Após resmungar um " sinto muito" a recepcionista sugeriu que levassem a criança ao hospital público.

- Mar veja só que ironia, a clínica fica praticamente do lado da favela e o hospital público fica do outro lado.- dizia Carmosina.

Helena disfarçava as lágrimas enquanto apertava a filha nos braços.











Engole o choro, guerreira.Where stories live. Discover now