Mudanças

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A fila estava enorme e quando chegou a vez de ser atendida, a médica mal permitiu que Helena sentasse.

- Pode por a criança na maca.- falou ela.- O que ela tem?

- Oxe se a gente soubesse não tinha trazido ela praqui.

- A senhora pode aguardar lá fora.- a médica esperou Carmosina sair e examinou Ana, depois voltou para a mesa e sem olhar para Helena estendeu uma receita.

- Mulé grossa- resmungava Carmosina, enquanto aguardavam uma vaga na sala de medicação.

A enfermeira as chamou e indicou uma cadeira para Ana, entregando um copinho para Helena segurar no nariz da filha.

- Ela tem que inalar por meia hora, viu mãe?- e sem mais nenhuma palavra, retirou-se.

- Não é fácil ser pobre nesse mundo.- disse Carmosina e Helena concordou.

- A senhora tem que dar três inalações por dia com a medicação que a doutora receitou mas já vou avisando que esses remédios não tem na rede.

- E como pode a médica passar remédio que não tem na rede?- questinou Carmosina.- Acha que a gente é rica?

- Quem não tem dinheiro pra comprar remédio não devia ter filho.- respondeu a enfermeira.

Helena sentiu-se humilhada e impotente, a filha precisava de um inalador que custava bem menos do que as bolsas de marcas famosas que ela costumava usar quando morava com Luis Guilherme.

Chegaram um pouco antes das duas da tarde na favela, Helena mal entrou no barraco e o filho correu até ela com um papel.

- Aconteceu alguma coisa?- perguntou ao menino após ler o bilhete em que a diretora pedia que comparecesse a escola.

- Não.- respondeu Luis.

- Amanhã cedo eu passo lá.- falou ela já imaginando como iria avisar Lucia que chegaria tarde depois de ter faltado no dia anterior.
........
- Bom dia Helena, que bom que pode vir.- cumprimentou a diretora.- Como a Ana está?

- Está melhor.

- Fico feliz em saber, não se preocupe temos uma excelente profissional na enfermaria. Mas na verdade eu a chamei para esclarecer sobre outro assunto. Há dois meses que as mensalidades não são pagas.

Helena sentiu a face queimar, a diretora entregou um papel com os valores pendentes que juntos somavam o triplo do seu salário.

- Seus filhos são bons alunos, mas não faz parte de nossa política aceitar a inadimplência, o que podemos fazer é oferecer bolsas de estudos no final do ano letivo porém até lá, as mensalidades precisam estar em dia.

Helena saiu da escola ainda mais angustiada e no trabalho ficou mais calada que de costume.

A tarde foi com Carmosina à escola pública para matricular os filhos e a amiga rodou a baiana para conseguirem as vagas porque não tinham como apresentar comprovante de endereço.

- Oxe mar  tem que brigar com esse povo, quem é que tem comprovante de endereço se é tudo no gato? Nem correio tem, acho que nunca vi carteiro por aqui. Mas também pelo valor que cobram nessa escola particular os meninos tinha que sair tudo formado, tudo doutor.







Engole o choro, guerreira.Where stories live. Discover now