Capítulo 4

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                                                                                    LINDA


 "A inspiração é como um bebê,

nunca escolhe uma hora decente para

chegar ao mundo, não tem nenhuma

consideração com o pobre poeta!"

- Os sonhadores



Kelly e eu ficamos uns vinte minutos nos encarando embasbacadas com a cena que tínhamos acabado de assistir na TV. Embasbacadas pacote completo. Queixo no chão, olhos saltando das órbitas e aquela expressão de confusão que só fica bonitinha em cachorros e bebês. Era como se as novelas mexicanas favoritas da minha avó tivessem invadido a vida da sociedade hollywoodiana. Queria que ela estivesse aqui para assistir a isso com a gente.

– Essa deve ter doído – Kelly falou com olhar de pena.

– Principalmente nele, tão prepotente. Aposto que não vai mais sair por aí se sentindo o último biscoito do pacote.

Kelly cruzou os braços e ficou me encarando de cara feia. Além de melhor amiga, Kelly é ótima pra medir o limite do meu mau humor. Essa pose é o aviso de que eu estou passando a barreira do tolerável.

Minha amiga me encarou até eu baixar a guarda e abrir um sorriso. É uma tática que sempre funciona.

– Linda, você só conversou com ele por trinta minutos e já tá defendendo a tal da Olívia.

– E você? Quanto tempo passou com ele, sem contar os filmes e séries de TV? Esse povo de Hollywood é todo igual, não se pode confiar em ninguém. – Mesmo sem vacilar em uma vírgula sequer do meu discurso, nunca vou deixar Kelly saber que eu não acredito completamente no que disse. Mas Luke me irritou tanto que é difícil ter pensamentos racionais a respeito dele.

– O que você acha que vai acontecer com ele?

Kelly se virou para encarar a TV. Repórteres não paravam de fazer piadas ou comentar sobre paródias que já circulavam pelo YouTube e, a cada intervalo comercial, a W3News reprisava o ocorrido por um ângulo diferente, até terem coberto todos. Foi quando decidiram passar para versões com auto-tune.

– Não sei – respondi, com o olhar distante. – Mas sei que não quero continuar assistindo a isso.  – Desliguei a televisão e voltei para as leituras da faculdade.

Morin é de longe um dos teóricos menos entediantes que já fui obrigada a ler, mas o espetáculo do MET conseguiu me roubar todo o foco. Aproveitando que eu estava dispersa, Kelly começou a me encher de perguntas para as quais eu ainda não tenho resposta.

"O que você vai fazer se encontrar com ele de novo?" 

Numa cidade com oito milhões de habitantes e mais turistas que árvores por metro quadrado, acho que não preciso me preocupar com essa possibilidade.

"O que você acha que vai acontecer com ele?"

??????????????????????

"Como era a voz dele?"

... Normal?

"Ele pareceu ser esse canalha nos minutos em que vocês conversaram?"

Eu sei o que ela está tentando fazer, então, como uma boa melhor amiga, aceitei  a minha vez de ceder e deixei ela se divertir um pouco com essa loucura toda. Fechei meu livro, puxei nossos notebooks e o que sobrou da bacia de pipocas e do Grape Soda e disse:

Caindo na Real [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora