Capítulo 17

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LUKE

"A escolha pelo mais fácil

hoje terá consequências amanhã!"

- A Dúvida.

Se meu próximo papel for o de uma versão humana de queijo suíço, eu nem vou precisar de maquiagem para a gravação. Como se já não bastasse a minha coleção de cortes e hematomas, eu ainda tenho que sobreviver a um dia inteiro de ajuste de roupas.

– Ai! – Gritei depois de ser espetado pela quarta vez em menos de dez minutos. – Aposto que todas as minhas roupas agora têm pequenas manchinhas de sangue.

Essa é uma das partes que eu menos gosto da época de estreias e festas, ter que provar e ajustar um milhão ternos e smokings. Eu estou há tanto tempo de pé no palanque de provas da alfaiataria que sentia que se tentasse me mexer, meu corpo simplesmente tombaria para a frente. Meus músculos estão tão tensos que exigir uma resposta imediata soa tão tolo quanto uma ilusão.

– Desculpe Luke, mas você precisa ficar parado. – As palavras de Jessie soaram de modo estranho, culpa de todos os alfinetes que ela tentava segurar com a boca enquanto ajustava meu terno.

– Tente ficar parada por três horas experimentando essas roupas desconfortáveis depois de uma noite em claro. – Mal terminei de falar e tive que morder os lábios para reprimir a dor de uma nova pontada.

– Nós temos que achar o terno perfeito para você. Afinal de contas, sábado é um dia muito especial para o seu amigo Joe. Você não quer aparecer lá mal vestido, não é mesmo?

– Jess, eu te garanto que a minha roupa vai ser a menor das preocupações do Joe no sábado – respondi, descendo da plataforma.

– Quem vai te acompanhar no evento? – Carson perguntou, saindo de trás das cortinas que a alfaiataria providenciou para oferecer me alguma privacidade.

– Uma amiga. – Em questão de segundos a expressão de Carson se transformou, ele parecia estar prestes a entrar em combustão. Me diverti com a cena por tempinho e completei: – Não se preocupe, não estarei de volta ao mercado nem tão cedo.

Jessie revirou os olhos e riu da minha resposta. Como se eu fosse algum solteirão desesperado para arrumar alguém. Um bobão com medo de chegar as cinquenta, sozinho, morando em um apartamento cheio de gatos. 

Ok, talvez isso seja, em parte, minha culpa, já que passei uma boa parte da tarde falando sobre Linda.

Mas ela é a novidade do momento. É natural que eu queira falar sobre ela! Eu só queria que Jessie soubesse de todos os detalhes... Ela sempre foi a única pessoa remotamente sã do meu ciclo de amizade. Eu queria ela ao meu lado para o caso de precisar de algum conselho.

Não que eu planeje precisar de algum conselho...

– Quais são os seus planos para amanhã, Luke? – Carson perguntou abruptamente. Era o jeito sutil de ele dizer: não importa o que você pensa que vai fazer, tenho planos muito mais importantes para você.

– Ainda não sei, você tem algo em mente? Talvez um jantar, depois você poderia me levar ao teatro. Ainda não fomos à Broadway, Carson. – Debochei, piscando os cílios rapidamente.

– Você não consegue levar nada a sério, não é mesmo? Um amigo meu é professor aqui na cidade, e pediu que eu emprestasse um de meus agenciados para ele. E como você precisa de toda publicidade positiva que puder conseguir nesse momento, eu pensei que fosse uma boa ideia.

Claro que pensou. Só não pensou em me consultar primeiro.

– Esse... amigo te falou o motivo?

– Algumas dicas de expressão e coisas de roteiro. Você acha que consegue?

– Acho que sim.

Eu consigo pensar em, pelo menos, vinte tipos de tortura física aos quais eu prefiro me submeter em vez de participar desta aula. Eu fui aluno da NYU há alguns anos. Lembro muito bem como os escritores e roteiristas em potencial olham para atores como eu.

Vão ser duas horas em que eu serei julgado como burro, sem talento, vendido e outras coisas mais por estudantes pretensiosos que ainda nem conseguem escrever uma estória original que faça sentido do começo ao fim. Mas esse é o tipo de agrado capaz de fazer com que Carson afrouxe a minha coleira.

– É, talvez seja divertido...

Carson me olhou como seu eu tivesse alguma doença altamente contagiosa.

– Tem alguma coisa errada com você e eu vou descobrir o que é.

– Quando você descobrir, por favor, conte para ele. Porque o Luke também não faz a menor ideia. – Jessie brincou, dando uma última ajeitada na manda do meu terno. – Pronto, todos foram ajustados – Disse, me liberando de toda dor e sofrimento. 

Assim que despi a armadilha de agulhas, corri em direção ao celular para checar se havia recebido alguma ligação ou mensagem.

Nada ainda.

Pensei que, a essa altura Linda teria, pelo menos, se dado ao trabalho de mandar uma mensagem de "obrigada" pelos presentes. 

Será que Serena errou o tamanho dela? Ou talvez as panquecas não estivessem gostosas...

Ou pior, talvez ela já tenha se dado conta de que eu sou um fracassado.

– Esperando alguma ligação? – Jessie perguntou sorrateiramente.

– Talvez – respondi, escondendo o celular como uma criança que tem nas mãos algo que não deveria. – Mas acho que não vou recebê-la no final das contas.

– Talvez ela esteja guardando o que tem a dizer para a próxima vez em que vocês se encontrarem. Nem todo mundo gosta de se esconder atrás dessas telinhas de vidro.

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Caindo na Real [Completo]Where stories live. Discover now