Capítulo 22

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LINDA

"Qualquer coisa pode acontecer se você deixar."

- Mary Poppins


Percorri os corredores coloridos do Lar Saint Peter para Crianças Abandonadas em silêncio. Prestei atenção em cada detalhe da casa, tentando encaixar Luke na narrativa, tentando ver o rosto de sua versão mais jovem correndo em meio a outras crianças. Ao meu lado, Anna falava e apontava para quartos e brinquedos de todos os tipos, tamanhos e cores. Mas nada do que ela dizia parecia realmente penetrar o meu cérebro.

Eu não estava preparada para esse tipo de revelação hoje.

De manhã enquanto minha avó e eu assistíamos ao noticiário, ouvindo mais um dos escândalos de Luke, eu tive quase certeza de que ele ia fazer alguma besteira. Que tentaria compensar aquela frustração da mesma forma que fez no Baile de Gala do MET: enchendo a cara com o Joe e se machucando no processo. E de algum modo, senti que ele talvez pudesse me procurar antes disso. Que buscasse ajuda como na noite em que Ernesto despachou ele na porta do meu prédio.

Ao que parece eu estava enganada em relação as duas hipóteses.

Acho que Anna conseguiu escutar os meus pensamentos ou decifrar as minhas caretas, porque naquele segundo ela decidiu parar de ignorar o meu silêncio.

– Luke está um pouco perdido, mas isso não significa que ele é uma má pessoa – ela parecia tão preocupada com ele quanto eu. Seu sorriso triste me afetou tanto que meu cérebro começou a trabalhar furiosamente, tentando pensar em algo que eu pudesse dizer a respeito de Luke, Uma história que pudesse acalmá-la. – Queria que esses tabloides parassem de explorar a imagem dele.

Acenei concordando com ela.

– Ele vem aqui com muita frequência? – perguntei, sem conseguir conter a curiosidade, mesmo que a resposta fosse meio óbvia.

Se ele fizesse visitas regulares, fotos dele brincando com as crianças estariam espalhadas em todos os jornais, sites e programas de TV.

– Depois que ele conquistou sua independência se fastou por um tempo. Até que há uns cinco anos, ele trouxe um amigo na faculdade para conhecer as crianças. Eu achei que aquela seria sua única visita, mas ele continuou a vir esporadicamente. Se não fosse por toda a ajuda que ele oferece, já teríamos fechados as portas. E o que ele faz pelo Tim, é fantástico.

– O que houve com o Tim?

– Um dia quando estava voltando da gravação de um comercial, Luke ouviu um choro de criança vindo de um beco. Quando ele se aproximou encontrou Tim dentro de uma caixa de papelão. Ele o trouxe para cá para que nós cuidássemos dele, e desde então, tem sido como um irmão mais velho para o menino – Anna explicou, finalizando o tour pela casa.

Como se tivesse pressentido que Anna falava dele, Luke surgiu no corredor. Ele parecia estar muito mais feliz do que há algumas horas no ônibus.

– Contando a Linda as piores histórias sobre mim? – ele brincou dando um último abraço em Anna.

– Acho que você quis dizer que eu estava mostrando a ela um lado seu que você insiste em não dividir com ninguém.

Tive que me controlar para não rir da careta que Luke fez.

– Pronta para partir? – ele perguntou oferecendo-me a mão.

– Pronta.

Decidimos percorrer a maior parte do trajeto a pé para ver a cidade, observar pessoas e deixar de lado as correrias do dia a dia. Caminhamos em silêncio por um longo tempo até Luke me perguntar o que eu tinha achado do lugar.

Caindo na Real [Completo]Where stories live. Discover now