Capítulo V - MALU

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O tempo foi passando e a dúvida sobre a minha existência começou a pairar sobre mim. Eu já tinha um domínio incrível sobre a telepatia e só conseguia ouvir o que as pessoas estavam pensando quando eu queria que isso acontecesse – e quando eles queriam também, já que não sou nenhuma mal caráter.

O Zeca também estava bem mais descontraído e vez ou outra me presenteava com alguma informação sobre o meu passado. Como quando ele me contou sobre uma pequena cicatriz que eu tenho no calcanhar.

– Você enfiou o pé no raio da bicicleta da Dona Valquíria, a dona do orfanato – contou ele sorrindo. – A gente roubava ela de vez em quando para brincar. Eu pensei que você tinha arrancado o pé fora, de tanto que gritou.

Por mais que eu não lembrasse de nada, era como se eu tivesse um passado novamente. E isso era incrível.

Com a aproximação do Zeca, veio o afastamento da Iolanda. Ela não disse nada, mas eu podia sentir que ela não gostava mais de ficar perto de mim. No começo, pensei que logo ia passar e tudo voltaria ao normal, mas ela só se afastava mais e mais. E com isso, grupo ficou dividido.

De um lado estava os defensores da Iolanda, que eram o Joca, a Helô e o Tião – que se tornou meu inimigo mortal desde então. Do outro ficamos eu, o Tonho e a Sara. O Zeca não estava em lado nenhum, já que ele era o "culpado". E o Tavinho oscilava entre os dois lados e vivia bufando e reclamando que essa era a coisa mais idiota que ele já tinha visto. E eu tenho que admitir que uma criança de dez anos era a pessoa mais sensata do grupo.

Decidi que era mais sensato me afastar do Zeca. Isso iria unir o grupo novamente e, no momento, isso era o que mais importava, já que eu não tinha nenhum interesse em acabar com o namoro dos dois.

No começo só tentei evitá-lo, o que foi bem difícil porque ele era a pessoa mais próxima de mim naquele grupo e eu só estava lá por causa dele.

Quando eu vi que não deu muito certo, tentei pensar em algo que pudesse fazê-lo ficar com raiva de mim. Infelizmente, eu não sabia o que poderia irritá-lo a ponto de se afastar, então achei que essa poderia ser uma ideia ruim.

Decidi optar pelo óbvio e conversar com a Iolanda. Assim que cheguei perto senti que ela não estava afim de falar comigo. E nem precisei usar minha telepatia pra isso.

Ela estava conversando com a Helô.

– A gente pode conversar? – indaguei.

– Não sei – respondeu ela.

Então ela finalmente pediu pra Helô sair.

– Olha só Iolanda – comecei. – Eu só queria deixar bem claro que nunca tive a intenção de te chatear, nem de roubar o Zeca de você, nem nada dessas coisas que você está pensando.

– Como você sabe o que eu estou pensando? – tornou, tapando os ouvidos. Como se isso fosse capaz de me deter, caso eu estivesse tentando ler seus pensamentos.

– Eu não sei – respondi. – Apenas deduzi. E eu não fico entrando no pensamento de vocês sem consentimento. Fica tranquila.

Então ela cruzou os braços e ficou esperando eu terminar.

– Eu sei que ele é o seu namorado e nunca sequer me passou pela cabeça fazer qualquer coisa para afastar vocês. E quero pedir desculpas se eu dei a entender uma coisas dessas.

Ela não respondeu nada. Apenas ficou me encarando num misto de raiva e surpresa. Como meu recada já estava dado, era hora de sair dali.

A Segunda Geração - Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora