A Segunda Geração - Livro 1

Capítulo XXXIII - MALU

Isso ainda não fazia nenhum sentido pra mim. Mas essa história me intrigava de tal maneira, que era impossível dizer não e nunca mais saber onde estaria essa criança perdida.

O médico já tinha nos dispensado e estávamos seguindo para o alojamento. Ficaríamos em um alojamento especial, só eu e o Quatro dois quatro, para que pudéssemos "socializar a respeito dessa descoberta" como o próprio médico dissera.

Na verdade, eu só queria tomar um banho de verdade, comer comida de verdade e deitar numa cama de verdade. Será que era um pecado tão grande desejar ter uma vida descente pelo menos por um dia?

Eu ainda tinha que pensar na fuga dos meus amigos. Eu decidira ficar aqui, mas isso não significava que eles precisavam ficar presos na segurança máxima por minha causa. Eu só tinha que pensar num jeito de mentir para eles sobre a minha permanência aqui.

Um pouco antes de dormir, recebemos a visita do médico. Ele estava mais calmo agora, e mandara o Quatro dois quatro passear, para que pudéssemos conversar a sós.

- Eu tenho uma dúvida – comecei, assim que ele sentou-se na beirada da minha cama – Se você já sabia que eu era dessa tal segunda geração desde o começo, por que eu passei tanto tempo nesse lugar sendo tratada igual aos outros?

- Não queríamos que você descobrisse – respondeu ele – Faz parte do protocolo que os internos não saibam a respeito dos seus dons até que seja necessário.

Não respondi nada. Fiquei encarando o chão por alguns instantes. Eu me sentia culpada por estar concordando com tudo isso. Eu me sentia culpada por estar gostando dessa ideia de ser mais evoluída que os outros e mais culpada ainda por estar acreditando mais nesse médico louco do que nos meus amigos.

- Você está tomando a decisão certa, minha queria – disse ele, finalmente.

Indaguei-me por um instante se ele estivera lendo meus pensamentos, mas acho que estava bem claro que eu estava na dúvida sobre tudo isso.

- Você será lembrada pela eternidade.