Capítulo XLI - ZECA

5.4K 724 390
                                    

As coisas estavam começando a voltar ao normal. A Mag e a Dani estavam se adaptando ao grupo, o Tavinho estava finalmente seguro, a Iolanda voltara a me tratar como antes. Era como se a Malu nunca tivesse passado por aqui. E mesmo que ainda fizesse pouquíssimo tempo que ela nos deixara, era bom ver que tudo estava voltando a ser como antes.

Eu estava no jardim, sentando ao lado da Iolanda. Estávamos a sós, conversando sobre como gostaríamos que fosse a casa onde vivíamos.

- Se ela tivesse apenas uma geladeira cheia de comida, eu já seria o cara mais feliz do mundo – disse.

- A vida é muito mais do que geladeiras cheias – ralhou ela, brincando – Se eu pudesse eu plantaria flores no jardim. Rosas, begônias, hortênsias e todo tipo. Ficaria lindo.

- Eu não tenho dúvidas – disse, aproximando meus lábios dos dela.

A Iolanda era, provavelmente, a garota mais linda que eu já vira na vida. O jeito como seus olhos redondos e doces me encaravam. O jeito como seu cabelo cacheado caía sobre o seu rosto e como suas sardas se espalhavam pela sua pele clara. Ela era maravilhosa.

Por muito tempo me senti um crápula por tudo o que a fiz passar. E como forma de me redimir, prometi a mim mesmo que nunca mais ia deixar que ela sofresse.

Estávamos deitados na grama, no meio de um beijo incrível – mas que poderia constranger quem estivesse vendo de fora – quando ouvi um pigarro atrás de nós. Era o Joca.

- Você tem visita – disse ele.

Levantei dali num salto. Não imaginei quem poderia ter vindo me visitar. Entrei na cozinha e encontrei o cara que me arremessara na parede sentado na mesa. Não pude evitar sentir um calafrio só de lembrar a dor que eu senti naquele dia. Não pude evitar também uma vontade insana de pular no pescoço daquele cara e enforca-lo. Isso, se eu tivesse as duas mãos, é claro.

- O que você quer? – perguntei, em tom de poucos amigos.

- Na verdade, sou eu – disse a Malu, entrando pela porta e sentando-se ao lado do cara.

Não respondi. Apenas fiquei encarando os dois.

- O Tonho quase não me deixou entrar – continuou ela – Mas eu acho que devo uma explicação.

Continuei em silêncio, enquanto ela se preparava para falar.

- Eu lembrei de tudo, Zeca – explicou ela – Tudo mesmo. Desde quando a gente se conheceu e tudo o mais. Eu percebi que aquele médico estava mentindo. E se você soubesse o que ele estava planejando, você ficaria horrorizado.

- É uma pena que você não tenha acreditado quando eu te disse tudo isso – disse, finalmente.

- Eu sinto muito – desculpou-se – Eu estava confusa, além disso...

- Eles te machucaram lá? – perguntei, interrompendo-a – Você está precisando de cuidados médicos?

- Não. Eu estou bem. Ninguém fez nada...

- Melhor assim. – respondi – Pelo menos não vou me sentir culpado em dizer que não há lugar para vocês aqui.

Ela pareceu ficar chocada com a minha atitude. Ficou me encarando perplexa por alguns minutos, sem dizer nada. Resolvi acelerar as coisas.

- Você não é mais bem-vinda aqui, Malu. Nem você, nem seu amigo. Eu quero que vocês vão embora daqui.

Após a longa encarada que ela me deu, notoriamente perplexa, ela acabou concordando com um aceno de cabeça. Ela fez um gesto para que o colega se levantasse.

- Vamos embora, Bruno – disse ela, saindo pela porta – Você ouviu. Não há espaço para nós aqui.

FIM


A Segunda Geração - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora