Capítulo I - Parte 02

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 Uma semana após a nossa mudança, Zeca apareceu para me fazer uma de suas visitas surpresa. Eu estava passando pelo corredor, quando senti um braço me puxando pra dentro de uma das salas. Quase gritei.

– O que você está fazendo? – perguntei, indignada.

– O que você está fazendo?! – tornou ele, muito zangado. – Eu pensei que eu tivesse sido bem claro!

– Eu acho que você está sendo exagerado! – exclamei, desdenhosa. – Esse lugar nem é tão ruim quanto você disse. Na verdade, tenho a impressão de que nunca vivi tão bem em toda a minha vida!

– Fala baixo! – advertiu-me. – Se eles desconfiarem que você se lembra de qualquer coisa, nós estamos ferrados!


– Mas eu não disse que eu lembro! Eu só parei de me importar com isso.

– Droga, Malu! – reclamou, claramente irritado. – Você não prestou atenção no que eu disse? Essas pessoas são ruins!

– E como é que você tem tanta certeza disso? – perguntei, erguendo uma das sobrancelhas.


– Eu já estive aqui. Você acha que eu gosto de voltar nessa droga de hospício? – Então ele parou por um instante e respirou fundo. – Me escuta. Eles não são bons, coisíssima nenhuma! Eu não posso te contar o porquê. Pelo menos por enquanto.

– E por que não? Eu já estou cansada de todo esse mistério...


– Porque é perigoso! – exclamou, extremamente irritado. – Eu vou ter que desenhar?

- Sinceramente, não consigo ver nada de tão perigoso nisso tudo – disse – Se você ao menos me explicasse.

– Por que é que você insiste em duvidar de mim? – indagou, ofendido. – Eu já não te provei que eu tenho as respostas que você quer?

– Na verdade, você não provou nada. E de verdade, acho que nossa conversa acaba aqui – disse, encaminhando-me até a porta. – Se você não quiser que eu chame alguém, não insista em me procurar.

E sem dizer mais nada, voltei pro meu quarto.

Uma semana após nossa discussão, Zeca não tinha aparecido mais. Ainda era cedo para afirmar isso, já que ele insistia em aparecer após longos períodos, mas não tive mais nenhuma notícia dele, o que era bom.

As coisas no hospital estavam ótimas. Agora que já possuíamos uma rotina, tudo estava ainda melhor do que antes. As refeições eram maravilhosas, as enfermeiras eram gentis, o quarto era confortável. Mas o que eu mais gostava, eram as horas de recreação. Passávamos incontáveis horas assistindo filmes, jogando baralho e jogando conversa fora com os outros internos.

Com o tempo, fui meio que perdendo a noção do tempo e notei que essa era uma queixa comum entre minhas colegas de quarto.

– Que dia é hoje? – perguntou a 776. – Já notaram que não existem calendários aqui?

Para falar a verdade, eu já tinha notado. Só achei que era mais uma das paranoias que o Zeca tinha implantando na minha cabeça.

– Deve ter alguma razão pra isso – comentou 664, distraída. – Eles nos tratam tão bem...

E já que não havia motivo para alarde, voltamos a ficar despreocupadas.

Foi num dia normal que as coisas começaram a ficar estranhas. Eu já não sabia quanto tempo tinha passado desde a última visita do Zeca e quando fui tentar controlar o tempo, reparei que não haviam janelas em toda a nossa ala. Não tínhamos acesso ao lado de fora, então não sabíamos exatamente se era dia ou noite. A princípio nos baseávamos pelo horário em que fazíamos as nossas refeições, mas então parei pra pensar que aquilo era meio esquisito.

A Segunda Geração - Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora