Capítulo XI - TIÃO

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Será que só eu tinha achado esse plano uma tremenda idiotice? Quer dizer, por que ela ia querer se arriscar a esse ponto, pra salvar a vida de uma pessoa que ela mal conhecia?

Tudo bem, ela tinha usado um bom argumento, afinal eu pessoalmente tinha me arriscado para salvar ela. Mas a iniciativa tinha surgido do Zeca, porque ele estava quase tendo um treco, repetindo o tempo todo que precisava salvar a Malu e que tinha feito uma promessa e eu e o Tonho acabamos topando porque não aguentávamos mais tanta chatice.

Mas agora a história era diferente. Eu conhecia o Zeca há anos, e eu fiz isso por ele. Já a Malu estava se arriscando por quem? Pela Iolanda que não era, nem a pau!

Naquela noite fui dormir desconfiado. Digo isso, porque geralmente caio na cama e capoto feito um morto. Mas naquela noite, todo e qualquer barulhinho era suficiente para me despertar. Foi por isso que notei quando o Zeca e a Malu começaram a conversar no meio da madrugada.

- Por que você está fazendo isso? - perguntou ele aos sussurros.

Eles estavam conversando tão baixinho, que eu precisei formar um campo de força em forma de túnel para poder ouvi-los.

- Eu já disse. Alguém precisa salvar o Tavinho. - respondeu ela, como se fosse algo corriqueiro.

- Mas por quê você? - tornou ele – Por que você precisa se arriscar a esse ponto? A gente está pensando em um jeito de entrar lá...

- E é exatamente isso o que eles esperam da gente – disse ela, interrompendo-o – Eles estão preparados para isso, e então a gente passa o resto da vida naquele lugar.

- Mas e se eles te pegarem?

- Eles não vão me pegar. - disse ela, segura.

- E o que te garante que esse seu plano maluco vai dar certo?

- Eu tenho um bom pressentimento sobre isso. Eu só preciso que você confie em mim.

- Só se você me prometer que isto não tem nada a ver comigo ou com a Iolanda.

- Relaxa, Zeca. Eu jamais faria uma coisa dessas.

*

Após ouvir aquela conversa esclarecedora, levantei no outro dia decidido a conversar com a Malu e entender de uma vez por todas o que realmente estava acontecendo.

Não precisei esperar muito para pegá-la sozinha. Ela vivia meio isolada, mas agora que a Sara voltara a conversar com a Helô, ela passava ainda mais tempo sozinha.

- Qual é a sua? - perguntei, sem nenhum rodeio

- Oi? - indagou ela

- Se o Zeca está cego e agindo feito um idiota, não pense que comigo as coisas vão ser assim – continuei – Eu passei a noite matutando, tentando entender o motivo de toda essa sua "ajuda" e ainda não entendi. Então quero ouvir da sua boca: Qual é a sua?

- Ah! - exclamou ela – É isso? Você quer saber porque eu quero fazer isso?

- Desembucha.

- Acho que pra você eu não preciso inventar nenhuma mentira – respondeu ela, abaixando o tom de voz – Eu sei que a única pessoa que me quer aqui é o Zeca. Sem querer, acabei arranjando confusão com a Iolanda e com metade do grupo. Resumindo: vocês estavam melhor sem mim.

- E por que você simplesmente não vai embora? - indaguei, achando tudo ainda mais estranho – Por que você precisa fazer papel de boa samaritana.

- Entende uma coisa, Tião. Eu gosto de vocês e de tudo o que vocês fizeram por mim. Eu nem ao menos sabia de nada, e vocês se arriscaram para salvar minha vida. Não acho justo simplesmente ir embora daqui, e jogar tudo o que vocês fizeram por mim no lixo. Eu não quero que vocês pensem que eu sou ingrata!

Eu não tinha certeza se ela estava falando a verdade ou não, apesar de ela parecer muito sincera. Mas eu já tinha me enganado uma vez, afinal eu simpatizara com ela no começo.

- Eu estou de olho em você – disse, por fim.

- Não esquenta, Tião. - piscou ela pra mim – Meu tempo aqui está chegando ao fim. Ninguém vai perceber que você me odeia, só porque eu pisei no seu calo. - então ela se aproximou e sussurrou no meu ouvido – Um calo lindo, de cabelos cacheados e olhos claros.

E antes que eu pudesse ter qualquer reação, ela já tinha ido embora.

A Segunda Geração - Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora