- Eu não sei se eu consigo fazer isso – disse.
- Você já tentou? - perguntou o Tavinho.
- É claro que não – respondi.
- Então tenta – disse o Zeca, que pela primeira vez desde que entramos nessa cela, mostrou-se animado.
Para me transmutar em outra pessoa, bastava que eu soubesse como ela era. Se eu não prestasse atenção em detalhes, como pintas e manchas, elas ficavam faltavam, e isso denunciava que eu era apenas uma cópia.
Mas eu nunca tinha tentado me transmutar em animais. Quer dizer, como em tantos anos isso sequer tinha passado pela minha cabeça? Eu não sabia se isso ia dar certo, mas eu não tinha nada a perder mesmo.
Após dar uma última olhada naquele rato, concentrei-me o máximo possível. As mudanças são sempre sutis, já que as pessoas que eu me torno não são tão diferentes de mim assim – não tanto quanto um rato. Mas desta vez, a mudança foi nítida, e quando me dei conta, meus colegas tinham se tornado tão grandes, que eles poderiam pisar em mim.
- UAU! - exclamou o Tavinho, abaixando-se para poder me ver melhor – Eu não saberia dizer qual dos dois é o Tonho e qual é o Beto.
- Eu sou o Tonho – disse.
Mas ao invés da minha voz, só ouvi guinchos estridentes. E acredito que foi isso que meus amigos ouviram.
- Que droga é essa? - perguntei, e novamente só saíram sons estranhos da minha boca.
- Você não queria que sua voz continuasse igual, né? - indagou-me o Tavinho, com voz de deboche.
- Na verdade, eu queria – disse.
- Vamos nessa? - perguntou o Beto, o amigo rato do Tavinho – Temos um longo caminho a percorrer.
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A Segunda Geração - Livro 1
Science FictionApós vários dias em coma, Malu acorda em uma cama de hospital, sem lembrar nada sobre seu passado. Sua única companhia - além de colegas de quarto estranhas e enfermeiras rabugentas - é um médico bastante empenhado em ajudá-la a recuperar a memória...