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Harry passou uma esponja pelo balcão e deu uma olhada no relógio de pulso. Nove e meia. Mais trinta minutos e poderia colocar a plaqueta de "fechado" à porta do restaurante e ir para casa.

Betty havia partido havia vinte minutos, declarando que a frequência estava baixa demais para justificar a presença das duas até a hora do fechamento. O movimento estivera fraco durante toda a noite, algo típico das quintas-feiras.

Com todas as mesas e balcões limpos e nada mais a fazer, Harry serviu-se uma xícara de café e sentou-se em uma banqueta ao final do balcão.

Da cozinha podia ouvir os sons de Benny Walton, o cozinheiro, fazendo a limpeza. Ele havia desligado o fogo da chapa momentos atrás. Logo, aos clientes que chegassem àquela hora restariam como opções as sobremesas que já estavam prontas e drinques. Para todas as intenções e propósitos, a cozinha estava fechada.

Bebericou o café com vagar, encontrando dificuldade em acreditar que já estava em casa havia quase duas semanas. Entre o trabalho no restaurante e o tempo passado com Gretchen, os dias se transcorreram com tamanha rapidez que chegava a ser amedrontador.

Algumas de suas colegas de ginásio haviam comparecido ao restaurante, surpreendendo-o com sua boa acolhida. Aparentemente, a seus olhos, Harry alcançara o sucesso e todas elas falavam da novela em que aparecera com curiosidade e uma aura de inveja.

Tudo isso era estranho para Harry, que ainda podia se lembrar das táticas cruéis utilizadas por muitas coleguinhas para feri-lo. Chamavam-no de "pernas de vareta" ou "órfã magrelo".

Mais do que uma vez descobrira o quão maldosas as crianças podiam ser umas com as outras. Sempre fora eleito como vítima. Parte do motivo devia-se ao fato de não ter pais em uma cidade onde famílias com pai e mãe era maioria. Essa era uma espécie de diferença que dividia as crianças. Outra razão fora a reputação de Poppy. Como era rabugento, todas as crianças da cidade tinham medo dele.

Entretanto, aquelas pessoas atrozes eram atualmente adultas ansiosos por terem amizade com uma grande estrela de televisão. E Harry descobriu ser impossível guardar mágoas. Afinal, naquela época todos eram crianças.

O sino à porta do restaurante tocou. Olhou para cima e viu Louis entrar. Imediatamente aprumou-se. Não o via desde a noite em que haviam trocado um beijo no milharal.

Passara os dias desde tal incidente procurando não pensar no assunto. Mas ao cumprimentá-lo, seus lábios pareceram latejar, como a se lembrar do calor e prazer oferecidos por aquela boca.

— Você parece dedicar-se muito ao trabalho — disse ele com um sorriso acolhedor.

— Acho que poderia dizer que não há muito a que se dedicar hoje por aqui — respondeu-lhe ao ficar em pé.

Louis acomodou-se em um banco do lado oposto ao local em que ela se encontrava.

— Eu poderia tomar uma xícara de café?

— Claro, mas nada poderá pedir para a cozinha. Está oficialmente fechada.

Virou-se para pegar a garrafa térmica.

— Que tal um pedaço de torta de maçã?

— Sem problemas — respondeu-lhe ao lhe servir o café e em seguida a sobremesa.

— Harry, estou indo embora! — Benny gritou dos fundos.

— Está bem, Benny. Boa noite!

— Que tal sentar-se e terminar de tomar seu café em minha companhia enquanto como a torta? — sugeriu ele.

Um novo amanhã l.sWhere stories live. Discover now