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A manhã de sábado mostrou-se brilhante e bonita, um dia perfeito para o carnaval. Harry acordou mais cedo do que o usual, surpreso por estar desperto antes de Poppy. Fez café e levou uma xícara para a varanda.

O restante do que faltava do sol fez-se ver no Leste, o céu muito límpido e coalhado de pássaros.

Harry bebeu seu café vagarosamente, permitindo que a cadeira de balanço se movesse gentilmente para frente e para trás. Deveria estar feliz. Quase tinha dinheiro suficiente para ele e Gretchen retornarem para Nova York.

Imaginava que mais uma semana, duas no máximo, e estariam a caminho. Devia sentir-se em êxtase, mas não estava. As últimas semanas haviam sido relativamente felizes, mais do que sonhou ser possível.

Ele e Poppy, embora não demonstrassem muito calor um com o outro, pareciam ter estabelecido algumas regras de bom comportamento. Harry aprendera a esperar muito pouco do avô e como resultado não estava desapontado.

Gretchen ajudou, preenchendo todos os silêncios que poderiam gerar rancores entre os dois. A menina proporcionava riso onde nada antes existira.

Harry ficou tão surpreso na primeira vez em que ouviu o riso de Poppy que quase caiu da cadeira. Embora rouco e breve, não fora um som desagradável e lhe dera satisfação. Sentiu como se tivesse acabado de receber um presente inesperado.

Mais uma vez viu-se ponderando o motivo de Gretchen ser capaz de alcançar o coração de Poppy com tamanha facilidade, enquanto ele passara a vida toda tentando obter um pequeno sorriso, uma única palavra gentil, do homem que o criou.

Era uma coisa que sempre permaneceria um mistério para Harry. Assim como o mistério de Louis ainda desejá-lo, querer fazer amor, mas não estar apaixonado por ele.

Afastou os pensamentos, determinado a apreciar o dia sem arrependimentos, sem perguntas perturbadoras sobre o futuro a atormentá-lo.

Estava cansado de mergulhar no passado. Sua infância fora pior do que a de alguns, melhor do que de outros. Fora vestido e alimentado, morara em um lugar quente e seguro. Algumas crianças não tiveram tanto assim.

E quanto a Louis, ele tivera uma noite de indizível amor, de entrega de corpo e alma, coisa que algumas pessoas jamais haviam tido, jamais viriam a experimentar em suas vidas.

Estava cansado de ficar bravo e magoado sobre o passado e decidiu, em vez disso, contar as bênçãos que tivera.

Era um lindo dia e ele o iria passar ao lado de um homem atraente e de sua preciosa filha. O que mais poderia querer?

Virou-se quando a porta foi aberta e Poppy surgiu na varanda com uma xícara de café na mão.

— Acordou cedo — murmurou o avô ao acomodar-se em uma enorme cadeira.

— Está fazendo uma manhã linda demais para se ficar na cama — respondeu-lhe.

— Humm, parece-se com centenas de outras manhãs para mim — murmurou Poppy, com seu toque usual de mau humor.

Harry o ignorou, recusando-se a permitir que sua rudeza estragasse o prazer que sentia ao vislumbrar uma manhã tão magnífica. Durante alguns minutos beberam café em silêncio.

Mas Harry não estava magoado. Percebera durante as últimas semanas que Poppy era um homem de poucas palavras. Falava quando tinha algo a dizer, mas raramente preenchia o silêncio com conversas de sentido meramente social.

Um novo amanhã l.sOnde as histórias ganham vida. Descobre agora