11

1.6K 178 147
                                    





— Está confortável? — Louis perguntou para Poppy ao colocar o carro em movimento e sair do estacionamento do hospital.

— Ótimo. Eu me sentiria feliz em cavalgar um camelo para sair daquele hospital. Nunca suportei comida ruim, nem enfermeiras conversando comigo como se eu fosse senil ou surdo.

Louis mordeu o lábio para evitar sorrir. Testemunhou o esforço das enfermeiras no intuito de fazê-lo sentir-se confortável. Poppy aparentemente não era o melhor paciente do mundo.

— Na verdade eu me sinto melhor do que em meses — continuou. — Acho que a velha máquina precisava de um pouco mais de manutenção do que eu imaginava. Desde que fizeram aquela operação, eu me sinto dez anos mais jovem.

— Fico feliz, Poppy. Você me deixou apavorado, a todos nós.

Louis apertou com força o volante ao lembrar-se da imagem do vizinho deitado no chão da cozinha. Até aquele momento, não havia percebido a profundidade de seus sentimentos para com ele, nem imaginado como sua vida seria vazia sem a presença do velho homem rabugento.

Poppy riu.

— Tenho de admitir que também fiquei apavorado. Não estou pronto para morrer ainda. Tenho coisas a fazer, algumas emendas.

— Emendas?

Ele assentiu e acomodou-se melhor no assento, a testa franzida.

— Algumas vezes um homem acha que está fazendo a coisa certa, cuidando de sua vida e das responsabilidades e se esquece do que é importante e do que não é.

Louis o fitou, incerto quanto ao assunto sobre o qual falava.

— Não sei se entendi...

— Não, acho que não entendeu. Duvido que tenha cometido a mesma espécie de erro que eu.

Louis ainda não compreendia sobre o que Poppy falava.

Naquele momento, Poppy olhava pela janela lateral, fazendo-o concluir não estar particularmente com intenção de se explicar.

Por alguns minutos prosseguiram em silêncio. Como sempre, quando havia um momento de quietude, os pensamentos de Louis migravam para Harry. E invariavelmente aquilo lhe dava uma sensação de tristeza misturada com raiva.

Incomodava-o ainda o fato de ele ter mantido Gretchen em segredo por tanto tempo. E a intenção de deixar Holmes Chapel mais uma vez rasgava seu peito. Não apenas porque estaria levando a menina para longe, mas também porque novamente seu coração o acompanharia na viagem.

— Irá deixar que ele parta novamente?

Louis olhou, espantado, para Poppy, pensando se ele teria conseguido ler sua mente.

— Eu não posso detê-lo.

— Sim, pode — Poppy o desafiou. — Descobri que você é o único que pode fazer isso.

— E como sugere que eu haja?

— Você o ama, não ama?

Louis nada respondeu por um longo momento. A despeito do fato de ainda estar bravo com Harry, de sentir-se traído, ainda existia em seu peito aquele amor profundo.

— Que diferença isto faz? Ele não me quer. Acho que Harry nunca soube o que é o amor — acrescentou com amargura.

— Pode ser que esteja certo quanto a isto. Deus sabe como eu não lhe mostrei muito quando era criança. Somente um homem muito especial poderá preencher os espaços que eu deixei em nosso menino. Acho que você pode ser este homem.

Um novo amanhã l.sWhere stories live. Discover now