As dores da vida

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Harry POV
Nem sempre nós temos aquilo que merecemos e todos sabemos disso. Foram meses esperando a chegada de Anne, pra ela ir embora em algumas horas. Todos que vieram ao enterro me disseram que ela estava em um lugar melhor e que estava olhando pela mãe dela agora, eu não sei se consigo pensar nisso. Minha mãe me levava a igreja quando eu era mais novo, mais não sei como orar. Não sei se Deus está ouvindo as minhas preces, porque parece que não está. Depois de três dias nós enterramos a Anne, foi muito difícil fazer isso. Ela era apenas um bebê e era tão pequena, eu quase não me aguentei. Na verdade eu não me aguentei, eu cai no chão e fiquei chorando na saia da minha mãe, como se eu tivesse seis anos novamente. Mais é que doía tanto, tanto, ficar em pé. Ver todas aquelas pessoas dizendo que tudo ia ficar bem. Quando? Porque eu não conseguia ver nada bem a minha frente. Só caos, desespero e dor.
Os remédios que eu estava tomando para a ansiedade me deixavam com sono, mais eu passava a maioria do meu tempo com as mulheres da minha vida, mesmo que em uma cama de hospital.
Eu passei as noites com Ash, e os dias com Gem, e durante quinze dias foi desesperador ver elas daquele jeito. Ashley teve duas paradas cardíacas. Gemma teve várias hemorragias, internas e externas. O medo tomou conta de toda a nossa família, de tal forma, que era visível que tínhamos perdido peso e ficado mais parecidos com zumbis. Não tinha condições de fazer shows ou coisas relacionadas a carreira, então a banda parou, por tempo indeterminado. Foi a nossa pausa. Não sabíamos se teríamos força pra continuar depois disso. Não eu e Niall. Ele passava os dias com a Ash. Pelo menos duas horas do dia com ela. Estava sempre chorando pelos corredores, ele que sempre foi o que mais comia da banda, começou a ser obrigado a comer. Ele chorava o tempo todo, e ficava em estado de choque quando não estava chorando. As duas vezes que a parada respiratória foram informadas, ele passou mal. Não estou muito melhor, os remédios só me mantém vivo, acho que por dentro, eu sou oco, sem vida, sem espírito, mais por fora, estou definhando. Meu rosto é sempre pálido, meu corpo sempre mole. Estou todos os dias vendo o médico clínico do hospital. Ele diz que eu tenho que ser forte e permanecer vivo, para que se elas sobreviveram, eu esteja aqui, mais eu já estou morto por dentro. Eu só sinto dor, angústia, tristeza e solidão. Nunca pensei que ficar sem alguém me faria tão mal assim.
Acordo de um pesadelo horrível, estou sentado ao lado de Ashley. Ela parece mal, mais continua respirando.
- Ash, por favor, por favor, sobreviva. Eu não posso perder você também. - aperto a mão dela e derramo mais uma lágrima.
O aparelho cardíaco começa a surtar. Faz barulhos muito rápidos e altos, levo um susto e chamo a enfermeira pelo botão dela. Ela entra calma, e depois se desespera.
- Chame o médico para o quarto 1189, médico. Cardiologista por favor. - ela diz numa espécie de radinho enquanto faz alguma coisa com os aparelhos da Ashley.
- O que foi? Aí meu Deus. - digo e me levanto.
- Saia do quarto por favor. - ela diz e parece sem forças para me tirar.
Não tenho forças para andar também.
Dois médicos e quatro enfermeiros entram no quarto. Um deles me auxilia a andar até a porta.
- Parada Cardíaca, prepare o desfibrilador. Pressão. Um, dois...
Saio do quarto. Estou sentado numa cadeira. Ela anda.
Continuo andando pelo hospital. Chego a um quarto que já estou acostumado. Uma enfermeira fica comigo e parece cansada e estressada. Começo a tremer.
Me colocam na cama.
Parada Cardíaca. Parada Cardíaca. Parada Cardíaca...
- Harry? Por favor Harry pare de apertar o braço da enfermeira. Harry? HARRY. - a voz de Louis soa forte e eu simplesmente largo aquilo que eu estava segurando, seja lá o que for.
- Obrigada Harry. Pode soltar a mão por favor? Ela vai te medicar, a dor vai passar Harry. Respira fundo. - ele diz novamente. Não sinto dor física, tenho vontade de dizer, mais não consigo.
Pobre Louis, mesmo ele tendo sua vida, seu filho, ele está aqui cuidando de mim e de Niall, o tempo todo.
E se senta ao meu lado e pega na minha outra mão. Começa a falar do começo da banda e de como nós éramos alegres e confiantes.
Meu corpo parece uma nuvem e meus pensamentos se embaralham. Sua voz fica distante, distante, até que não a ouço mais. Sei que ele fala uma última coisa e beija minha testa, mais acho que ouvi mal.
- Estarei sempre aqui porque te amo.
Sonho com o sorriso de uma Anne viva, no colo da mãe, batendo palmas e gritando ao som das músicas da mãe dela. Minha esposa. Que acabou de ter uma parada cardíaca. O sonho se torna um pesadelo.
Ashley grita, angustiada, no escuro, as coisas ficam cada vez mais estranhas e então tudo apaga, e acende novamente. Ashley está jogada no chão, ela sangra muito e está agonizando. Anne está a seu lado, com o corpinho roxo, do mesmo jeito que seu corpo estava quando foi enterrada. Ela está gelada. Eu grito por socorro. Ninguém me ajuda.
Uma mão toca meu ombro, me viro para trás e uma Anne mais velha, de uns cinco anos está me olhando e sorrindo.
- Pai, tenha calma, eu estou em um lugar melhor, minha mãe vai ficar bem. Salve sua alma da tristeza, por nós duas. Por favor. - ela diz e logo desaparece.
Acordo sem ar.
Louis ainda está ao meu lado. Ele dorme na cadeira. E está com as mãos atadas as minhas. Suspiro. Foi só um sonho.

A Contratada || H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora