O luto

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Miami –Flórida / ano de 2002

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Miami –Flórida / ano de 2002

Pov Lauren

Não há conforto na morte de alguém que se ama, eu sei disso agora que estou passando pelo luto, dói tanto! É como uma ferida aberta, como se jogassem ácido por cima dela todos os dias. A casa está vazia, igual ao meu coração, dispensei todos os empregados, queria ficar sozinha, queria me isolar, minhas amigas Normani e Dinah até tentaram vir me ver mas eu não quis vê-las, eu só queria encarar meu reflexo no espelho e me culpar pela morte de Emma.

É torturante saber que não vou mais ouvir ela rir descontroladamente e me fazer rir também, as primeiras noites foram as piores, acordei achando que tudo não tinha passado de um pesadelo, dai coloquei a mão ao lado da cama e senti o vazio de sua ausência, ela não estava ali. É difícil pensar sobre eternidade quando se relaciona a morte, o fato de você NUNCA MAIS poder encontrar a pessoa que se foi, nunca mais vai poder falar as palavras que estava entaladas em sua garganta, não deu tempo, é assim, a vida vem e rouba o tempo que achamos que ainda temos.

''Não deixe nada pra depois

Não deixe o tempo passar

Não deixe nada pra semana que vem

Porque semana que vem pode nem chegar''

Agora eu admito que a Pitty estava certa na escrita dessa música, ela tem toda razão, passamos todo o tempo planejando pra fazer algo, mas sempre pensamos que é melhor deixar pra mais tarde, ou para o dia seguinte, ou talvez pra semana que vem, mas e se não vir? E se não tiver mais uma hora? um minuto? tudo pode acabar em um piscar de olhos eu posso estar escrevendo isso agora e não conseguir concluir, a morte não avisa quando vai ceifar vidas, eu só queria poder ter mais um minuto, voltar para alguns minutos antes da discussão, será que eu poderia mudar o que aconteceu? nunca irei saber.

''Esse pode ser o último dia de nossas vidas

Última chance de fazer tudo ter valido a pena

Diga sempre tudo o que precisa dizer

Arrisque mais pra não se arrepender

Nós não temos todo tempo do mundo

E esse mundo já faz muito tempo

O futuro é o presente

E o presente já passou''

Desliguei a música que já estava me deixando mais deprimida do que eu já estou, se é que isso é possível. Voltei a encarar meu rosto no espelho, pálido, olhos avermelhados, tudo que tenho tomado é goles e mais goles de vinho, tentando me manter embriagada e esquecer o acidente, mas nem isso está servindo, eu não tenho sentido fome, eu não tenho sentido nem vontade de viver, deixei a empresa nas mãos do meu pai, pelo menos uma delas, a das outras cidades estão em boas mãos, na responsabilidade de pessoas em que confio, enterrei meus projetos dentro da gaveta porque não consigo trabalhar, eu só consigo chorar.

Eu sempre dizia a Emma que queria partir antes dela pois não aguentaria a dor de perdê-la, a vida mais uma vez zombou de mim, ela se foi primeiro e me deixou em pedaços, em prantos. Mais cedo fui para o ateliê que fiz pra ela, as rosas brancas estão perdendo a vida, eu tentarei fazer florescer novas rosas, mas é como se elas soubessem que Emma, a dona de todas as rosas pelo qual cultivei, estava morta, loucura né? pode ser apenas coincidência, mas todas agora estão sem vida, assim como minha amada.

Fui pro nosso quarto e abri o closet, a parte dela impecavelmente organizada, diferente da minha, peguei uma de suas blusas de lã favorita e levei até o nariz, seu cheiro me fez sentir saudade, fez meu coração doer mais. Deitei na cama em posição fetal e chorei agarrada a peça de roupa, queria tanto que fosse ela ali em meus braços, me dizendo que estava tudo bem, que isso tudo era uma ilusão da minha cabeça, e que estava viva, mas infelizmente, essa é a minha realidade agora, sentir constantemente a falta dela.

— porque Deus?!

Temos essa mania de culpar Deus pelas coisas, que ele possa me perdoar por isso, na verdade a culpa foi minha, eu sei disso.

''Você me ensinou a coragem das estrelas antes de partir

Como a luz continua eternamente, mesmo após a morte

Com falta de ar, você explicou o infinito

Quão raro e belo é mesmo existir''

Me dói pensar que ela poderia estar aqui agora, e grávida. Quando voltei ao cemitério mal tive coragem de encarar a lápide com o nome dela escrito ''em memória de Emma Watson Jauregui'' pois era como uma facada e meu coração, ou no que sobrou dele

''Eu não pude deixar de pedir

Para que você dissesse tudo de novo

Tentei escrever

Mas eu nunca consegui achar uma caneta

Eu daria qualquer coisa para ouvir

Você dizer mais uma vez

Que o universo foi feito

Só para ser visto pelos meus olhos''

Deixei a blusa em cima da cama e fui buscar o vinho, precisava de mais álcool. Nem peguei uma taça, beberia no gargalo mesmo, desceu queimando a minha garganta, o teor de álcool era forte, mas eu pouco me importava com isso, não faria um estrago no meu estômago maior do que o estrago que estava no meu coração.

De repente, amor - CamrenWhere stories live. Discover now