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A casa onde agora vivia tinha quinze empregados, dezessete quartos, todos imensos e uma quantidade tão grande de corredores paralelos que em meu primeiro dia consegui realmente me perder, Harry não saia para trabalhar, mas passava boa parte do tempo no escritório tratando de assuntos importantes. Nos jardins e na entrada haviam seguranças monitorando tudo e na parte interno os empregados pareciam sombras sobre mim, porém estes desapareciam quando Harry estava por perto. Ao que parecia meu marido se incomodava tanto quanto eu com a presença continua de pessoas ao seu redor.

Nossas primeiras semanas de casados foram tão silenciosas quanto os primeiros dias, apenas um mês depois senti as coisas avançarem um pouco quando decidimos que seria bom conversar sobre nossas vidas, apesar de que foi algo muito unilateral, Harry ia todos os dias até o meu quarto, esperava que eu acordasse, ele não me acordava nenhuma vez, e despejava uma enxurrada de perguntas, dos meus anos no internato ou os livros que eu gostava de ler, absolutamente tudo e isso estendeu-se por quase dois meses.

— Posso perguntar sobre você agora? — repeti a pergunta que fazia todos os dias, geralmente ele torcia a boca e rebatia com um novo questionamento, eu não me incomodava com isso realmente, ele fazia um esforço para ser mais amável quando direcionava essas questões, apesar de que eu me perguntava como ele conseguia ter tanto a perguntar, e também a ideia de que poderíamos ser amigos me fazia esquecer a falta de respostas que tinha por parte dele. 

— Pergunte, Rosie. — meus olhos arregalaram-se quando percebi tratar-se de uma resposta positiva, a surpresa foi tamanha que todos os questionamentos que tinha programado desapareceram da minha mente, me mexi na cama sentando-me com as costas apoiadas na cabeceira, Harry fez o mesmo fazendo com que seu ombro tocasse o meu.

— Vai me dizer com o que trabalha? — ele expirou numa clara impaciência, para mim não era uma pergunta inconveniente e não a repeti tantas vezes para que o fizesse perder a paciência comigo.

— Não. Não ainda. — ressaltou dando-me uma ponta de esperança — Algo mais? — ele passou os dedos nos cabelos, estavam mais longos do que no dia em que nos casamos, mas ele passava tanto tempo em casa para não deixar-me sozinha que provavelmente não teve oportunidade de corta-los.

— Qual... Sua cor favorita? — perguntei e o ouvi rir, seu rosto virou-se em minha direção e fiz o mesmo, seus olhos focavam diretamente sobre os meus e de repente esqueci-me de como respirar.

— Azul... Como seus olhos — ele acrescentou a ultima frase num tom grave quase provocante, eu não sabia como me sentia quanto a isso.

— Você... É... — engoli em seco tentando pensar com o minimo de coerência, eu sequer sabia o dizer. Seu rosto inclinou-se pra perto, percebi sua intensão pouco antes de seus lábios cobrirem os meus, tentei desviar o olhar, entretanto sua mão tocou meu rosto e puxou de volta de modo firme.

— Olhe pra mim, Rosalie — a calma se foi, seu humor tinha mudado subitamente e seus olhos eram duros, contudo não a beira da agressividade, ainda assim me assustava.

— Harry... — o nome dele soou como uma suplica que o fez parar percebendo o quanto estava me intimidando.

— Desculpe, eu... Nos vemos a noite — disse e levantou-se, nenhum olhar foi lançado em minha direção, ele apenas abandonou o  comodo me deixando sozinha. Eu não o vi aquela noite e ele não voltou ao meu quarto na manhã seguinte como costumava fazer, então quando abri os olhos e busquei sua presença tudo que encontrei foi o vazio.

Só voltei a ver meu marido verdadeiramente três dias depois, por uma das empregadas da casa eu sabia que ele voltava pra casa tarde e saia cedo, com certeza evitando me encontrar e isso causou um incomodo crescente dentro de mim. Na manhã de sábado eu resolvi acordar mais cedo que o normal unicamente para encontra-lo, levantei-me as seis da manha e depois de um banho, troquei de roupas e desci para o café. Harry estava sentado, uma xícara de café na mão direita, com a esquerda olhava algo celular com expressão entediada, seus olhos desviaram-se do aparelho quando me viu.

InnocenceWhere stories live. Discover now