lembranças horríveis

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jimin

não sei o que deu em mim para eu abraçar yoongi tão repentinamente. a noite foi tão boa, e ele se esforçou tanto para que eu ficasse confortável, que não consegui controlar meu braços e quando me dei conta já estava pendirado em seu pescoço. o único pensamente que ronda minha mente enquanto corro escada acima é "porque você faria uma coisa dessas?!". agora eu só posso torcer para que yoongi não tenha se sentido muito desconfortável.

ao entrar em meu apartamento, deixo as flores que ganhei em cima da bancada de cozinha e corro para a janela que dá para a rua, para ver se meu vizinho ainda está por perto. chego bem a tempo de vê-lo subindo em sua moto e acelerando rua abaixo.

assim que ele some, me afasto da janela e encosto na parede. escorrego por ela até estar sentado no chão gelado. levo minha mão até meu peito e sinto meu coração martelar com força. faz muito tempo que eu não me sinto assim, e isso não é bom.antes que eu possa impedir, tudo volta, como um filme cruel passando em minha mente.

"nós estávamos juntos a quase um ano e meio. ele estava parado em frente a mim. quando nós começamos a namorar, toda vez que ele me olhava, um sorriso carinhoso se abria em seus  lábios. perto do fim, no entanto, e especialmente naquele dia, carinho era a última coisa que eu recebia dele.

- sabe, jimin, toda vez eu tento te dar uma chance de me fazer ficar - disse, desviando o olhar de mim e indo até a mesa de jantar, onde sua jaqueta de couro estava pendurada em uma das cadeiras. - mas, já que você nunca consegue me dar o que eu quero e sempre me desaponta, eu não vejo outra alternativa.

eu estava apavorado.

meia hora antes, nós estávamos deitados juntos em sua cama, apenas assistindo um filme. mas então ele começou a me beijar. o beijo - que iniciou-se calmo, suave até - tornou-se rapidamente desesperado, violento. eu sabia o que ele queria quando me beijava assim. eu não queria. ou melhor, não conseguiria. meu corpo ainda doía da noite anterior, e as marcas que ele havia deixado ainda ardiam em minha pele. nem se eu quisesse eu conseguiria dar a ele o que ele estava pedindo.

eu tentei me afastar, mas ele me segurou no lugar, uma mão em meu quadril e outra em meu pescoço. com a mão mais próxima, ele começou a desabotoar minhas calças. eu tentei empurrá-lo mais ele era bem maior e bem mais forte do que eu. por um segundo consegui desgrudar a boca dele da minha e aproveitei para exclamar:

- beom, para!

beomseok parou o me olhou. havia fogo em seus olhos, mas não era o fogo do desejo. quer dizer, o fogo do desejo ainda estava lá, mas estava dando lugar a outro. raiva. ele ainda tinha uma das mãos ao redor do meu pescoço. sinto ela começar a apertar lentamente. 'não' penso 'ele não faria isso, certo?'.

como se lesse meus pensamentos, o homem me soltou e saiu de cima de mim. direcionando um último olhar odioso para mim, ele saiu do quarto, xingando baixinho. eu me levantei e corri atrás dele.

eu estava apavorado.

- beom, espera, por favor! - exclamei, meu desespero claro em minha voz. eu segurei o seu braço, mas beomseok começou a chacoalhá-lo, tentando se desvencilhar de mim enquanto vestia sua jaqueta. - volta para o quarto, amor! não precisa ser assim! e-eu faço o que você quiser.

- não me chama de amor! - ele gritou. o homem finalmente conseguiu soltar seu braço, me jogando no chão no processo. - você não entendeu ainda, não é?! acabou, jimin. não tem mais 'volta pro quarto'. mesmo que eu voltasse, não adiantaria de nada. você nunca conseguiria me satisfazer.

meu coração parou. senti minha visão começar a ficar turva por causa das lágrimas que cairiam a qualquer instante.

- v-você não quer dizer isso - disse. minha voz não era mais do que um sussurro. - isso é mentira.

- é mentira?! é mentira, jimin?! olhe nos meus olhos e diga se eu estou mentindo. você nunca foi e nunca será capaz de me satisfazer. na verdade, você nunca conseguiria satisfazer qualquer pessoa. ninguém nunca ficaria satisfeito com você quando qualquer puta barata é melhor! você teve sorte que eu deixei ficar comigo por tanto tempo, que eu tive pena de você por tanto tempo. - as lágrimas rolavam soltas pelo meu rosto, e eu não fazia nenhuma questão de tentar pará-las. beomseok terminou de vestir sua jaqueta e foi até a porta. - eu vou sair agora. eu vou sair e vou ir atrás de alguém que não seja inútil com você, o que não vai ser difícil de achar. quando eu voltar, quero você fora daqui, entendeu? some.

ele saiu batendo a porta e me deixando no chão. não sei como, mas quando me dei conta, eu já estava de pé e indo em direção à janela. cheguei nela a tempo de ver a moto de beomseok sumir na esquina."

e é aí que a lembrança acaba.

sinto meu jantar revirar em meu estômago e me levando rapidamente, correndo até o banheiro. já sei o que vai acontecer. chego no tempo certo para me ajoelhar na frente do vaso sanitário e botar tudo para fora. sinto meus olhos umedecerem, pela ardência em minha garganta causada pelo vômito e pelo nó em meu peito causado pela memória.

quando me levanto, é como se eu não tivesse um corpo, ou melhor, como se estivesse fora do meu. faço toda a minha rotina noturna normalmente. quando já estou de pijama, sentado em minha cama e pronto para dormir, eu finalmente volto, e a barragem se quebra. as lágrimas escorrem pela minha face, embaçando minha visão e umedecendo minhas bochechas. me deito embaixo das cobertas, ainda chorando, e pressiono as palmas das minhas mão contra meus olhos, como se elas pudessem estancar o dilúvio que sai deles. sem surpresa, não funciona. viro-me de barriga para baixo e, agora, me deixo chorar livremente, sentindo meus ombros tremerem e soluços deixarem a minha boca.

já faz mais de um ano desde que deixei beomseok, e as lembranças das coisas que eu passei com ele ainda me assombram. às vezes, eu queria que eu pudesse simplesmente apagar qualquer memória do tempo que eu conheci esse homem. às vezes, eu também tento imaginar como seria minha vida agora se eu não tivesse feito tudo o que eu fiz por ele.

no meio disso, o sorriso cálido de yoongi aparece em minha cabeça. é claro que minhas lembranças de beomseok voltariam à todo vapor assim que eu começasse a sentir o primeiro pingo de interesse por alguém. meu peito aperta novamente. yoongi é outro problema. as coisas que ele disse e fez durante o nosso jantar poderiam de certa forma dar a entender que ele estava flertando comigo, mas como saber de verdade? já seria muita sorte ele gostar de homens também, quem dirá de mim. mas acho difícil. afinal, eu não sou suficiente pra ninguém, não é mesmo?

gradualmente, meu choro começa a diminuir, e meus olhos começam a pesar. me rendo a moleza que toma conta do meu corpo, sentindo o início de uma pontada de dor em minha cabeça. durmo assim, com lágrimas ainda frescas em meu rosto e uma tempestade dentro do meu peito.

oi, gente! fui rápida dessa vez, não? bjs, isa.

tea parties and tattoos - yoonminحيث تعيش القصص. اكتشف الآن