tea parties and tattoos - yoonmin

jantar

jimin

eu não estou surtando, eu penso, servindo minha quarta xícara de chá de camomila. já deve ser a décima vez que eu repito isso para mim mesmo, como um mantra, numa tentativa (falha) de me acalmar.

o jantar desta noite, no qual eu verei minha mãe novamente pela primeira vez em três anos, tem sido a única coisa rodando pela minha cabeça desde ontem. desde o dia que em que eu aceitei a proposta de seokjin ele tem sido o plano de fundo da minha mente, escondido, mas lá. agora, no entanto, ele pulou para frente, como se estivesse escrito com luzes brilhantes em meu lobo frontal. agora, retirá-lo de lá, nem que apenas por alguns minutos, tem se provado uma tarefa quase hercúlea. a única coisa que provou-se efetiva foi a visita rotineira de yoongi na tarde de ontem. a presença calmante do meu vizinho e suas palavras reconfortantes funcionaram como mágica para me distrair da crescente bolha de ansiedade que parece gradualmente triplicar de tamanho em meu peito. isso sem contar os constantes comentários fofos e hilários de jungkook, que também ajudaram bastante.

agora, no entanto, sem yoongi e sem jungkook, faltando poucas horas para o jantar, eu não consigo ignorar a cratera de pânico que se abre em meu peito. não ajuda que beomseok ainda não desistiu de falar comigo. apesar da frequência das ligações e mensagens ter diminuído consideravelmente, esse desgraçado parece que não vai me deixar em paz logo.

eu tentei ir para a loja mais cedo, pelo menos para ocupar minha cabeça com algo que não o motivo para meu terror, mas depois de duas xícaras quebradas e diversos pedidos errados, eu cheguei a conclusão de que talvez fosse melhor ficar em casa.

os nós de nervoso em meu estômago são intensos o suficiente para quase me fazer ligar para jin e cancelar todos os planos para essa noite. eu optei por não comer nada além do café da manhã hoje, para tentar evitar qualquer acidente indesejável. contudo, no momento, me parece que essa foi uma tentativa completamente vã.

com meu interior revirando, me sirvo uma quinta xícara de chá e vou tentar me distrair do terremoto em minha cabeça.

&

como eu já esperava, ficar sem comer acabou se mostrando ser completamente inútil. poucos minutos antes de sair de casa, meu estômago apertou mais uma vez e eu não consegui evitar botar tudo para fora. esse tudo, no caso, era na verdade nada. a sensação ardente e corrosiva da bile subindo pela minha garganta só me deixou mais aterrorizado. eu só não desisti completamente naquele momento porque, no fundo, eu sei que eu só estaria adiando o inevitável.

agora, em frente ao portão da casa de seokjin, com o sol começando a se pôr, começo a repensar essa decisão. por alguns segundos, questiono tudo que há para questionar: será que minha roupa está adequada? será que eu deveria ter trazido algo, mesmo que jin tenha dito que não era necessário? será que o cabelo rosa é diferente demais para minha mãe? será que eu estou pronto para rever minha mãe? e o mais importante: será que eu quero?

meus pensamentos me forçam a parar. minha respiração está muito acelerada para ser normal, e eu me sinto levemente tonto. minhas mãos tremem e parece que minhas pernas vão parar de funcionar a qualquer instante. meus olhos se enchem de lágrimas e um nó aperta em minha garganta. o ar gelado do fim do outono normalmente me ajuda a voltar à realidade quando o pânico me acerta em cheio, mas no momento ele não parece estar ajudando de muita coisa.

não, penso, isso não está certo. tentando tomar controle de mim mesmo novamente, me forço a respirar fundo. não é fácil pela primeira vez, mas depois de algumas tentativas, minha respiração começa a desacelerar.

penso no que me fez aceitar esse jantar de hoje em primeiro lugar, na lembrança sorridente do rosto da minha mãe, em sua voz doce e seus abraços calorosos. sim, eu quero revê-la. estou pronto? não sei, mas provavelmente nunca vou estar.