CAPÍTULO 12

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Os dias seguintes foram estranhos.

Continuaram indo para a faculdade juntos, continuaram almoçando juntos, mas tudo estava diferente. Eles não conversavam mais como antes, não se abraçavam. Rafael parecia distante, apesar de ter dito que nada mudaria, que eles esqueceriam o que aconteceu. A verdade é que nenhum dos dois conseguia esquecer.

Muitas vezes Rafael ficava olhando para o nada, pensando. Parecia estar sofrendo. Outras vezes ficava olhando para Caio e em seguida desviava o olhar. Caio adoraria saber o que se passava na cabeça dele, mas não tinha coragem de perguntar. Não haviam mais falado sobre o assunto.

As aulas acabaram e a distância entre eles só aumentava. Poucas vezes iam na casa do outro e, nessas raras ocasiões, ficavam um para cada lado, fingindo estar fazendo alguma coisa. Era frio, era distante...

Amanda percebeu que alguma coisa havia acontecido e Caio lhe contou tudo. Laura também percebeu a ausência de Rafael. Chegou a perguntar sobre isso para Caio, mas ele disse que não era nada, que não havia acontecido nada.

Até que chegou o Natal.

Caio adorava o natal, sempre considerou a melhor época do ano. Gostava particularmente de assistir os filmes e especiais que passavam na TV. Era certo em todos os anos assistir "O Grinch" e "O Estranho Mundo de Jack", além de ler diversas histórias natalinas. O que também gostava muito eram as cores, os enfeites. Sempre montavam a árvore de natal e enfeitavam a casa. A rua inteira ficava brilhante nessa época.

Mas aquele ano estava sendo diferente. Era a primeira vez que fazia essas coisas sem Rafael com ele. Tudo parecia mais sem graça. O natal tinha perdido parte de sua cor.

Os avós de Caio, Miranda e Alberto, chegaram para as festas de fim de ano. Sempre ficavam no quarto de Amanda e ela, por sua vez, ficava no quarto de Caio. Ele estava adorando ter a irmã com ele, podiam conversar por horas, até a noite toda. Era reconfortante ter sua "cúmplice" ali bem próximo.

Alberto e Miranda perguntaram por Rafael, já que ele praticamente morava lá nas férias, e se ele viria para a Ceia de Natal. Todos os anos, no natal, os dois ficavam juntos, indo de uma casa para a outra, comendo as duas ceias e se divertindo. Mas Caio disse que Rafael "estava muito ocupado com umas coisas da faculdade e não teria tempo para vir". Ele não havia perguntado a Rafael se ele viria, mas pela forma como a relação deles estava nos últimos dias, nem precisava. Isso deixava Caio ainda mais triste, mas ele não queria que percebessem, então fingia que estava tudo bem.

No dia 24 prepararam a ceia como em todos os anos e à noite se reuniram para comemorar. Caio estava distraído durante todo o jantar, se mantendo sempre à margem do assunto que falavam. Sua mente teimava em sair dali e encontrar Rafael. "Será que ele está pensando em mim?", se perguntava.

Todos ainda estavam sentados à mesa após a ceia, conversando, rindo, quando Rafael chegou. Caio sentiu o coração saltar no peito. Não imaginou que Rafael apareceria. Na verdade, já faziam dias que eles não se viam.

— Boa noite. - disse Rafael com um sorriso tímido no rosto.

"Rafael nunca foi tímido", pensou Caio "então isso quer dizer que ele continua esquisito".

— Rafael! - disse Miranda. - O Caio disse que você não viria hoje.

— Pois é, eu resolvi dar uma passadinha bem rápida. É que eu precisava falar com o Caio. - olhou para ele. - Você pode vir comigo um instante?

Caio levantou da cadeira tão rápido que quase tropeçou. Foram para a sala.

— Feliz Natal! - disse Rafael.

— Obrigado. Feliz Natal para você também.

— Eu vim aqui porque eu queria te dizer que eu vou viajar depois de amanhã. Eu vou para a casa do tio Fábio, com o vô, a mãe e o pai. Todos os anos eles vão, como você sabe, e eu imaginei que seria bom eu ir também dessa vez, afinal já faz um tempão que eu não vou lá. - parecia um pouco desconfortável. - Eu volto em umas três ou quatro semanas. Então... não vai dar certo o que a gente tinha combinado para o réveillon. Tudo bem?

— Claro. - disse Caio, triste. - Eu entendo, tudo bem.

— Eu... eu também queria te entregar isso. - disse mostrando um pacote que trazia na mão. - É um presente. Eu comprei já faz um tempo e ia te entregar quando estivesse perto do natal, mas... - baixou os olhos, respirou fundo. - Enfim, eu comprei para você, porque você gosta de natal e também gosta de romances. - e sorriu. - Espero que você goste.

Caio pegou o pacote e abriu. Era um livro com doze contos românticos de natal, com o título "O presente do meu grande amor". Claro que Rafael havia comprado antes de saber o que Caio sentia por ele. "Que irônico.", pensou.

— Obrigado. Com certeza eu vou gostar. Como você disse, eu adoro o natal. - e sorriu.

Ficaram se olhando durante um tempo sem falar nada, até que Rafael quebrou o silêncio.

— Caio, eu... eu também queria dizer... - então parou.

Em seguida, empurrou Caio na parede e o beijou.

Não foi um beijo leve, como o do outro dia. Foi um beijo demorado, intenso e cheio de vontade. Como se ele ansiasse por aquele beijo e não conseguisse mais se conter. Caio sentiu seu coração explodir com a urgência com que seus lábios se tocavam, pareciam querer se fundir, fazer parte um do outro. Depois de um tempo Rafael simplesmente se afastou, ofegante.

— Tchau. - e saiu pela porta.

Caio ficou parado, atônito, totalmente sem ar e sem chão. Ainda não tinha conseguido processar aquilo, só sabia que tinha sido bom. Levou a mão aos lábios e sorriu.

Depois de um tempo conseguiu andar e foi direto para o quarto.

***

No dia seguinte Caio tentou ligar para Rafael, mas ele não atendeu, tampouco respondeu as mensagens que ele enviou. Caio estava muito confuso, primeiro Rafael disse que não sentia nada mais que amizade por ele e que eles deveriam esquecer o que aconteceu. Então começa a agir estranho e se afasta. Em seguida aparece de repente e lhe dá um beijo que, para Caio, não parecia de alguém "que não sente nada". Depois não atende suas ligações. Pensou novamente no beijo e uma onda de excitação percorreu todo o seu corpo. Rafael era um mistério cada vez maior para ele. Caio queria poder saber o que ele pensava.

Ligou para Lili para lhe desejar um feliz natal e também para falar sobre o que aconteceu. Passaram o restante da manhã conversando. Então foi almoçar com a família. Em seguida foram para a sala e trocaram os presentes. Já era uma tradição. Passaram a tarde toda conversando e contando histórias de natal. Alberto, especialmente, sempre tinha ótimas histórias. Caio se deixou distrair pelas histórias do avô e pelo calor do momento em família e por um instante pôde esquecer essa confusão que estava em sua cabeça.

No fim da tarde, teve vontade de ir na casa de Rafael, mas não teve coragem, então voltou para o quarto e foi ler o livro que havia ganhado dele.

Caio decidiu que esperaria Rafael retornar da viagem para ver o que faria.    


No teu abraçoWhere stories live. Discover now