CAPÍTULO EXTRA

2.3K 241 24
                                    

AQUELE HALLOWEEN 

RAFAEL


Meu super-herói preferido sempre foi o Batman, talvez pelo fato de ele ser apenas um humano querendo fazer o bem para as pessoas. Ele não tem nenhum superpoder, apenas inteligência. E muito dinheiro, claro. Quando eu era criança tinha uma fantasia do Batman que eu adorava e até usei ela, todo orgulhoso, no aniversário do Caio. O Batman sempre foi meu favorito, por isso eu escolhi ser ele na festa de Halloween dessa noite.

Não era a minha primeira vez nessa boate. Já tinha vindo outras vezes desde que terminei com a Kelly e decidi que nada mais me faria voltar para o armário. Perdi coisas demais por causa dele, sofri demais também. Finalmente eu era livre para ser eu mesmo. Pena que no caminho em direção a essa liberdade acabei perdendo a pessoa que eu mais amava...

Mas eu não vim aqui hoje para ficar me lamentando. Eu vim para me divertir, dançar e, quem sabe, ficar com alguém interessante. Eu vim para viver.

Gostei da decoração da festa, e a iluminação meio fraca dava um clima legal ao lugar. Logo quando cheguei bebi um pouco e em seguida fui dançar. Dancei, dancei, dancei... De repente percebi que estava com calor, pois a fantasia, toda preta e colada, cobria meu corpo inteiro e quase todo o rosto. Resolvi fazer uma pausa, então me afastei da pista de dança e fiquei recostado na parede. Passei os olhos por aquela pequena multidão de pessoas fantasiadas.

Foi quando o vi, próximo ao bar. Meu coração começou a bater mais rápido e uma onda, como um choque, percorreu todo o meu corpo.

No início não acreditei muito no que os meus olhos estavam vendo, mas logo me convenci de que era real. Ele estava lá, vestido de vampiro. Usava uma roupa preta e uma capa, e os olhos estavam bem marcados com um delineador preto. O contraste fazia a pele branca parecer ainda mais branca e os olhos negros ainda mais negros. Não conseguia tirar os olhos dele. Ao seu lado estava Guilherme, o cabelo ruivo com uma tiara de conchas, uma blusa branca e uma calça cheia de lantejoulas que pareciam escamas brilhantes. Foi ele quem me viu primeiro. Fiquei um pouco nervoso me perguntando se ele havia me reconhecido. Então ele falou alguma coisa no ouvido de Caio e apontou para mim. Meu coração ficou ainda mais enlouquecido.

Sorri para ele e ele sorriu de volta. E ficamos assim por um bom tempo, mantendo os olhos fixos um no outro. Guilherme havia se afastado, então criei coragem e me aproximei. Peguei sua mão e o levei até a pista de dança. Enquanto dançávamos percebi que ele não fazia ideia de que era eu. Era melhor assim. Aproveitei a oportunidade de estar perto dele de novo, ainda que só por um momento, de sentir seu cheiro e ver seu sorriso lindo. Olhei bem para ele, principalmente seus olhos e sua boca. A boca tão vermelha, como a de um vampiro que acabara de se alimentar. Eu não resisti e o beijei.

Ah, aqueles lábios... exatamente como eu lembrava. A mesma maciez e doçura. Me entreguei àquele beijo de corpo e alma, tentando aplacar um pouco da saudade que me atormentava há quase um ano. Então senti o seu corpo retesar levemente e soube que ele havia me reconhecido. Fiquei apavorado. O que eu faria? Diria a ele quem eu era? Tiraria a máscara numa cena bem dramática, ao estilo novela mexicana? Qual seria a reação dele se eu fizesse isso? Eu tinha medo de descobrir. Então optei pela minha reação de sempre: fugir!

Fui em direção ao banheiro, deixando ele lá paralisado, certamente sem entender o que estava acontecendo. Entrei na cabine e sentei. Respirava com dificuldade e aquela máscara só piorava tudo, então a tirei. Ouvia as vozes das pessoas lá fora, mas mais alto que elas, ou mesmo que o som da boate, eram as batidas do meu coração. Ele parecia bater em cada canto do meu corpo. Fechei os olhos e tentei aquieta-lo. Depois de muito tempo eu estava mais calmo e conseguia pensar de forma mais clara sobre o que tinha acontecido.

No teu abraçoWhere stories live. Discover now