TRINTA E OITO

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  — Como é que é?!

Eu falei desde o começo que essa volta repentina da Jess não me cheirava bem. E não falo só do perfume extremamente adocicado dela, mas sim do real motivo. Minha mente estava prestes a transbordar com a quantidade de perguntas que a rodeavam agora. Quem queria nos separar? Como sabiam que eu tenho que me casar com o Guilherme? E, porque diabos, a Jess se meteu nessa história? 

Fragoso parecia ter visto um fantasma, enquanto eu tentava não surtar. 

Mentira, já estava surtando.

— Você saiu da casa da mãe Joana para vir se meter entre mim e o Guilherm... Ei! — sim, eu mesma me interrompi — Você não é publicitária? O que quer dizer com "fui contratada"? Virou garota de programa? Isca?  

Jess deu de ombros, como se realmente não estivesse ligando muito.

  — Prima, gosto de novidades. E a quantidade de dinheiro que me ofereceram se igualava a uns dois anos de trabalho árduo. — ergueu as sobrancelhas, como se isso justificasse. — E sem papinhos sobre honra. Eu sabia que você trabalhava no Imperium, por isso vim para cá —  olhou para mim, depois para o Gui — só não sabia que, além de ser a Superintendente, você era a dita cuja de quem eu teria que roubá-lo. 

Céus, como ela trata isso com uma naturalidade dessas? Parece que está me contando que vai comprar umas coisas e só! E por que estou tão agoniada? Eu não decidi nada ainda! Apesar que... Ah, não vou perder o Fragoso.

E falando nele...

— Qual foi o investidor? Sócio?— a voz dele estava absurdamente grossa e não me pareceu muito contente quando a Jessyca começou a rir.

 É, acho que a baladinha de comemoração foi por água baixo. 

— Como tem tanta certeza? — ela cruzou os braços — Só me disseram que você tem um contrato milionário que o obriga a se casar com uma garota específic... — Jess fica boquiaberta, me encarando —  É você? — apontou para mim, surpresa. — Ele tem que se casar com você em menos de um ano ou perde todos os bens? 

Suspirei. 

Falando assim, fica bem mais sério do quê aparenta. 

Mas é realmente isso, estou com a vida do Fragoso nas minhas mãos.

— Sim. — massageio minhas têmporas. 

— Como você fez isso? — ela realmente está admirada? 

Revirei os olhos.

— O nome de quem te contratou. — Guilherme ignorou toda a ceninha, soltando o cinto e se virando. Os olhos estavam mais claros que o normal, iluminados pela luz da rua. — Jessyca, fale por favor. 

  Jess me fitou.

  — O que te garante que não foi a Joyce que me contratou para se livrar da responsabilidade? Até porquê, — me encarou de cima a baixo — minha prima pode ter mudado, mas uma coisa que me lembro bem é que ela sempre odiou a ideia de se casar com alguém... 

Fitei tudo aquilo com a mais completa cara de ultraje. 

Aquilo era idiotice!

Ainda bem que o Fragoso está rindo...

Ei, porque ele está rindo?

— Senhorita, vou te dizer uma única vez — respirou fundo, ainda soltando umas risadinhas — A Joyce não faria isso, porque é mulher o suficiente para dizer na minha cara que a última coisa que quer é casar comigo. E outra...— coçou a garganta —  Eu não sou adepto a ameaças, até não gosto de fazê-las... Mas, pelo que vê, é o único jeito de sobreviver nesse meio — coçou a barba de um jeito sexy —  Então, já que falou sobre "garantia" — fez aspas no ar — me diga quem é o seu contratante, pois eu garanto que não sou um inimigo que você vai querer ter. 

Não fiquei surpresa, estava acostumada a escutá-lo, porém confesso que toda vez que vejo isso de perto, meu corpo se manifesta e é impossível não ficar fixada na cena. E, óbvio, me diz a mulher que não ficaria molhada ao ver esse pedaço de homem agir tão... Ah, é inexplicável.

Jess balançou a cabeça e sorriu. 

  — Dobre a quantia e nós conversamos. 

Ele a olha e sorri.

— Eu sabia — me olhou de soslaio e eu contive a minha vontade de bufar — Eu triplico.

Ela assoviou, se virando para mim. 

  — Joy, você tirou a sorte grande... — disse, olhando descaradamente para ele — Ele sabe que você nunca beijou? — novamente, vemos aqui uma tentativa de me colocar para trás. 

Já ia abrir a boca quando a voz do Fragoso soou:

— Não só sei, como não dou a mínima — fez a maior cara entediada — E é um atrativo a mais, saber que ela vai compartilhar várias primeiras vezes comigo e... — ele destrancou as portas — Isso não lhe diz respeito. Acho que já deu a sua hora. Da próxima vez que nos falarmos, estarei com meus advogados. 

Jess riu.

— E eu estarei com meu corpo, só com uma lingerie debaixo de um sobretudo... — desceu do carro — Ou melhor... Sem nada. — piscou e se virou, entrando no meu antigo prédio. 

Bufei. 

Ela conseguia ser a verdadeira femme fatale só com uma frase. 

Guilherme revirou os olhos, trancando as portas e dando partida no carro.

Suspirei.

— Acho que já sabíamos que isso ia acontecer... 

Ele deu um soco no volante. 

— Droga! —  xingou — Tem alguém querendo roubar o que meu pai deixou para mim! E tudo que consegui erguer depois com o meu suor! — reclamou, a testa vincada com a raiva, a veia do pescoço saltada e o rosto avermelhado — E o pior é tentar destruir isso que temos e que já é complicado por si só! 

Pouso, sem pensar, a mão na coxa dele, numa tentativa de tranquilizá-lo. 

— Guilherme. — chamei.  

Ele solta o ar.

— Joyce, isso não é uma boa hora para surtar. —  suavizou a voz, lançando-me um olhar mais tranquilo. — Minha cabeça está muito cheia, por favor... 

Escorrego um pouco mais a mão e ele ergue as sobrancelhas. 

Vamos para a casa, Fragoso — sussurrei — Sei de um jeito de esvaziar a sua mente.  

O Sabor Dos Seus Lábios - As Whiter'sWhere stories live. Discover now