01 | T a t t o

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Torta de maçã.
Acordei com o cheiro da minha sobremesa favorita entrando pelas minhas narinas, como se estivesse fazendo um carinho frouxo para que eu acordasse. Pisquei lento. Mesmo que essa fosse a minha comida favorita, implicava que Martha estava em casa, e que provavelmente Sophia também.
E isso era bem pior do que um inofensivo despertador.

Levantei, por falta de opção, já que minhas aulas começavam as oito e meia, e já eram pouco mais de sete.
Desci as escadas nem um pouco animada, mas, com o estômago dando cambalhotas de fome.
Quanto mais me aproximava da cozinha, mais o cheiro de canela e maçã se alastravam e mais água na boca me dava. Martha podia ser uma víbora, mas com toda certeza tinha mãos maravilhosas para fazer um delicioso prato.

Sophia me encarou de cima a baixo com um ar de reprovação, e um sorriso que anunciava que eu estava ridícula no seu ponto de vista. Papai estava sentado na cadeira ao lado dela e tirou os olhos do notebook para me cumprimentar com um sorriso.

- Bom dia minha filha! - sorri de volta para ele, sentando ao seu lado.

- Bom dia, pai.

- Onde estão seus modos? - minha cabeça doeu ao ouvir a voz de Martha. Soava como um ruído muito agressivo aos meus ouvidos àquela hora da manhã - Tem mais gente na casa.

- Sério? Você adotou um cachorrinho, papai? - ele segurou a risada enquanto eu via o rosto de Sophia se contorcendo de relance.

- Aqui está. - ela quase jogou a torta sobre a nossa mesa de vidro. Os pratos já estavam posicionados e ela se sentou ao lado de Sophia, um pouco frustrada, já que todos os lugares ao lado do meu pai estavam ocupados.

- Foi muita gentileza sua, querida. - ele falou enquanto ela cortava os pedaços da torta. Martha sorriu confiante ao ouvir aquilo e colocou os pedaços gentilmente para nós desta vez.

- Obrigada, querido. - ela se sentou novamente. Nós começamos a comer, e de fato, estava maravilhosa.

Torta de maçã sempre me lembraria a infância, quando papai e eu tentávamos fazê-las sozinhos e sempre falhávamos. Até que um dia ela saiu melhor do que o esperado. Essa não foi a mais gostosa que já comi na vida, porque eu me alimentava realmente era da diversão daqueles dias em que fracassamos. Mas com certeza é a sobremesa mais especial de todas.

Sempre fomos só eu e ele.

Minha mãe, ainda segundo meu pai, morreu em um acidente de carro. Ela estava sozinha e à trabalho em outra cidade bem distante daqui. Ele disse que ela viajava sempre para muito longe, e como a empresa precisava dele, nunca podia acompanhá-la.
Infelizmente meus avós paternos também não estão mais entre nós e meu pai nunca teve contato com os maternos. Então, desde que me entendo por Alice, ele foi meu herói e minha principal - e única - referência para tudo.
Compareceu às cerimônias do dia das mães, ajudou-me na escola, assistia filmes comigo aos finais de semana, íamos ao parque, ensinou-me a falar, a andar, e conversou com a minha professora do primário para que ela me auxiliasse com tudo aquilo que somente mulheres ensinam para outras mulheres.

Ele sempre fez tudo por mim.

Minha vida nunca foi nem de longe perto de ruim e uma mãe nunca me fez falta de fato. Papai tem um ótimo emprego e nossa casa é maravilhosa, estudo em um ótimo colégio e tenho bons amigos. As coisas só ficaram menos boas quando ele começou a namorar a Martha.

No começo ela era gentil e tentava me agradar. Mas de repente, em uma de suas vindas, essa garota loira que eu apresentei como Sophia anteriormente, começou a aparecer. Era a filha dela. E nunca mais, desde então, eu tive um dia de paz quando elas vêm para cá.

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