09 | C i g a r e t t e

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  O cheiro forte do cigarro entrava pelas minhas narinas. A fumaça se contorcia no ar e a minha visão ficava comprometida.

Não questionei Jack, mesmo quando ele acabara de acusar meu pai de assassinato. Não questionei um homem que eu mal conhecia de acusar o meu pai.

O assassinato da minha própria mãe.

Depois de tudo, ele não tinha motivos para mentir para mim. Não tinha porque ele dizer uma coisa dessas sem fundamento.

Mas o meu pai,
ele mentiu todos os dias por dezessete anos.

Senti a mão de Beatrice deslizar pelo meu ombro, suavemente.

- Alice eu... Sinto muito. - falou com a voz vacilando, quase num murmúrio.

- Porque? - voltei a encarar Jack. - Porque ele fez isso? - demorou-se me analisando.

Percebi que as lágrimas escorriam pelas minhas bochechas, sem freio.

Jack deu outra tragada em seu cigarro.

- Você não é só uma garota comum, Alice. - continuou - Nunca foi. Qualquer um mataria para ter os mesmos poderes que você. Eu não conheço sua história completamente, não deveria sequer estar aqui, agora. Mas você é um ímã. - sorriu - Seu pai, tem os motivos dele. Os quais, infelizmente, eu desconheço e não poderei ajudá-la. - suspirou - Entretanto, você é poderosa demais. Já é motivo suficiente.

- O que eu sou? - as palavras saíram falhas - É por minha culpa que minha mãe morreu?

- Se você não a assassinou não é sua culpa. - balançou os ombros, como se fosse óbvio. - Você é uma Hadria. - endureceu o olhar - Esta não é a sua casa, essa dimensão, esse mundo, não lhe pertence. - suspirou.

- Conte-nos tudo. - sentei-me ao seu lado. - Por favor, Jack. Só você pode me salvar. - implorei. Ele assistiu minhas lágrimas caírem e percorrerem o meu pescoço, até molharem a minha blusa.

Outro trago.

- Há muito tempo, haviam dois reinos naquele mundo. Os Cartheres e os Hadria. Eles possuíam uma convivência muito boa e tranquila, se ensinavam e se ajudavam muito. Mas, eles possuíam uma diferença. Os Hadrias aprendiam e controlavam a sua magia com muito mais intensidade e com muita facilidade. Os Cartheres demoravam muito para sair do lugar e muitas vezes ficavam restritos a uma habilidade simples por toda sua vida. As bruxas originais visitavam a dimensão uma vez no ano, para ensinar novas coisas e averiguar o desenvolvimento deles. Os Hadrias eram os preferidos, "os seres perfeitos". Dominavam o fogo, o calor, as luzes, e tudo que pudesse imaginar. Os Cartheres tinham dificuldade em uma nada complexa brincadeira com as cores que compunham a luz. Elas não escondiam a decepção ao vê-los tão fracos e sem nenhuma evolução.

- O que são as bruxas originais? - perguntou Bea.

- Elas cuidavam da proteção da dimensão. Para que nenhum humano entrasse, para que nenhum de nós saísse. Criaram os portais, e cuidavam para que nós usássemos a nossa magia para o bem. Sempre em favor do equilibro do nosso mundo e do mundo humano. - suspirou - Entretanto, nem tudo ficou tranquilo desse jeito. Alguns Cartheres não suportavam mais serem comparados com os Hadrias, serem inferiores desde o momento em que nasciam. Um grupo de revoltosos azuis invadiu o reino dos Hadrias e matou uma camponesa, por pura ira. Mas foi assim que eles viram a rosa azul no braço deles se distorcer, perder pétalas e tornar-se roxa. Eles adquiriram grande parte do conhecimento daqueles que eles mataram. A magia também se tornava roxeada, as vezes negra. Eles correram para avisar os outros. Houve um massacre naquela noite. Os Cartheres dominaram a dimensão, com todos, ou a maioria dos Hadrias mortos. Eles ainda controlam por lá, desde então. Ainda controlam este mundo. Procurando por Hadrias que podem ter fugido...

Alice [Completo]Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin