10 | N i g h t

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Encarei-me no espelho e alternava o olhar para a porta trancada. Eu não estava segura em casa e talvez nem mesmo fora dela.

Depois do bilhete de Kelly tudo desmoronou rápido demais. Respirei fundo várias vezes. Se aquilo acontecia comigo, acontecia porque era capaz de sustentar.

Porque eu era forte.

Mas não hoje.

Coloquei uma calça jeans, um casaco e um tênis. Assim que o horário combinado chegou, eu saltei pela janela e fui em direção a sorveteria.

A brisa gelada tocava o meu rosto enquanto eu andava apressadamente.

O barulho e as luzes da cidade me lembravam de que o mundo ainda funcionava do mesmo jeito, mesmo que eu não.

Passei por bares movimentados, lotados de pessoas, histórias, decepções, mágoas e perdas. Era como se eu absorvesse toda a energia do trajeto, tentando não prestar atenção em mim mesma.

Corria nas minhas veias, sangue tão vermelho e vivo quanto uma chama que se enchia dessa energia, das pessoas e suas vibrações.

A cidade respirava e eu podia sentí-la.

Aquelas sensações atravessavam as minha células e chegavam à minha alma.

Eu sentia tudo.

Era como se algo quisesse explodir dentro de mim, a qualquer momento.

Era como se algo quisesse explodir dentro de mim, a qualquer momento

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Cheguei à sorveteria, finalmente.

Sentei-me em um dos bancos disponíveis por perto e suspirei, aliviando-me daqueles sentimentos.

- Esperou demais? - Thomas. Sorri para ele.

- Acabei de chegar. - ele se sentou ao meu lado e tocou a minha mão. Mas logo a afastou.

- Nossa. Você está quente. - encarei-o. Eu sabia que estava. Estava fervendo por dentro. Mas não sabia o que exatamente estava acontecendo - O que rolou? Você quer conversar sobre algo?

- Muita coisa rolou. - disparei - Mas não quero falar sobre isso agora. - ele ficou confuso, mas não questionou. - Para onde você vai depois da escola?

- O que?

- Qual faculdade você quer fazer? - ele deu de ombros.

- Você sabe, quero música. Mas não sei para onde eu vou. Talvez não muito longe. - A mãe de Thomas o abandonou e ele vivia com a tia. Fazia sentido que ele não quisesse deixá-la sozinha.

- Você vai se dar muito bem. - sorri.

- E a Alice? Pra onde ela vai? - franzi as sobrancelhas. Pelo jeito que ele falou e por como eu não sabia mais responder essa pergunta.

Para onde ela vai?

- Eu não sei... - saiu como um sussurro.

- Deveria ter me dito que você não estava bem. Eu teria trazido um chocolate. - sorri e ele também. Thomas era o mais introvertido de nós mas era o mais observador e detalhista.
E ele estava cansado. Cansado de alguma coisa. Eu podia sentir quando toquei o seu ombro, a tensão perfurando a pele dele e a minha.

Alice [Completo]Where stories live. Discover now