capítulo-35

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Ando pelo jardim no raiar do dia, o sol ainda começa a nascer, pelo menos esta noite eu consegui dormir, continuo andando e vejo dois olhos vermelhos pelas plantas, o farfalhar de folhas revela um lobo albino, Always, me abaixo para ficar do seu tamanho e toco seu focinho:

- Então você finalmente apareceu- falo inclinando a cabeça para perto- sua dona vai ficar feliz em te ver.

Seus olhos vermelhos brilham e ela se vira de volta para o jardim, parando e me observando, e depois se embrenha em meio as árvores, a sigo, tomando cuidado para não bater a cara nos galhos.
vejo uma pequena lagoa em que a loba parece beber água, então ela volta até mim com o focinho brilhando com gotas cristalinas, e o encosta em minha perna, sinto a pressão de algo, e me abaixo novamente para verificar, presso por uma corrente que parece ser feita de cipós, está um pingente de cristal, mas sei que não é isso, é como se fosse água cristalizada, não que eu entendesse de jóias mas essa em si, era linda:

- Você achou isso no lago?- pergunto segurando o colar com cuidado nas mãos.

Ela apenas me encara e eu acaricio o topo de sua cabeça:

- Vem, vamos voltar pra lá.

Guardo o colar no bolso do sobretudo,  para uma ocasião futura e volto pelo caminho em que vim.

Ouço risos e gritos estridentes vindos da arena e apresso um pouco o passo:

- Você está com medo de perder Will?- ouço alguém desdenhar.

- Querida, só não quero machucar você.

Ouço mais vaias e assobios, quando finalmente chego na arena vejo uma pequena multidão de guardas reunidos num círculo, todos estão com suas fardas, exeto meu irmão que está usando apenas a calça e uma blusa marrom, Sarah que está com uma blusa azul claro e uma jaqueta por cima o zíper apenas meio fechado, e calça preta, Mirella veste uma camiseta verde e calça e está no meio do círculo de frente para Will, em posição de batalha, Poe está no meio dos dois:

- O que está acontecendo?- falo tocando de leve no ombro de Sarah, que está um pouco mais atrás observando atentamente.

Ela se reseta para trás e vira-se rapidamente ficando de frente para mim, quase colando o rosto em meu peito pela diferença de altura:

- Hum- responde se afastando- resolvemos brincar um pouco.

- Entendo- falo me virando para frente tendo a visão meio bloqueada, mas, ainda sim boa- ele não tinha tomado uma flechada nas costas?

- Ele acordou bem melhor- comenta se perdendo em pensamentos- quando falaram sobre o treinamento, Mirella disse que ele não aguentava, ele é igualzinho a você, não suporta provocação.

- Eu?- falo indignado.

- Viu?, já está armando suas barreiras.

Abro a boca para argumentar mas percebo ser inútil, ela já se desconcentrou totalmente de mim, queria poder fazer isso com essa mesma facilidade:

- Quem estiver de pé depois de cinco minutos vence!- diz Poe iniciando o conflito.

Mirella foi inteligente, quando Will baixou a guarda pela primeira vez ela deu um chute na área onde a flecha foi cravada, e ele solta um gemido de dor, mas em seguida segura a perna dela e a lança no chão, demora pouco tempo e ela já está de pé novamente, eles continuam nisso desferindo socos e chutes, até que ela dá um soco em seu queixo quê o desequilibra o fazendo cair no chão, ele tenta se levantar, mas recebe outro chute nas costas e fica no chão, dou de ombros para a cena, levando em conta que somos "amigos" uma parte mim quer ir ajuda-lo, mas é bem pequena, se levar em conta que ele nunca nem sequer moveu um dedo para me ajudar enquanto eu apanhava, então permaneço no lugar, mas a própria Mirella passa os braços por seus ombros e o ajuda a levantar, o levando para fora do campo, no momento em que eles saem, todos começam a rir e se empurrar, e eu me afasto um pouco passando os braços pra frente do corpo:

- Essa foi rápida!- gritou alguém de dentro da multidão.

Mais gritos e vaias, sinto minhas mãos tremendo e agarro as mangas com força, tudo isso me trouxe de volta para um tempo em quê eu me sentia a vontade aqui... não me sinto mais:

- Quem é o próximo?- grita meu irmão do meio da arena.

Vejo uma mancha de cabelos azuis se mover até o centro da quadra, e alguns risinhos se espalharem, baixos, talvez pela demonstração anterior:

- Alguém tem a coragem de lutar com essa bela dama?- desdenha.

Curvo a boca num risinho de deboche, pobre alma, ela desata as adagas do cinto, e as gira nas mãos, move o peso de uma perna para a outra, resisto ao impulso de me oferecer, quero ver o desempenho dela com outra pessoa, a parte de trás da multidão se agita e sai dela uma pessoa da qual me recordo bem... bem demais.

1- Crônicas Elementares - Água E FogoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora