capítulo- 42

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Ele se levanta num pulo, quase quebrando o pescoço para identificar onde está:

- Calma, está tudo bem- fala com a voz doce a garota que tinha acabado de me estapear.

Ela o senta na cama novamente e ele relaxa:

- O quê aconteceu?

- Encontramos você na sala quando os guardas...- começo.

Então seu olhar toma uma fúria tão grande que me afasto:

- Já me lembrei do ocorrido.

- Então você pode nos explicar o que aconteceu?

Ele conta, Prescoot está recrutando mais guardas, agora que o baile vai acontecer, eles tem a chance perfeita:

- O que eles querem?

- Vocês- eles responde confirmando meus medos.

- Então eu vou cancelar tudo...

- Não- falo traindo todos os meus princípios- nós também podemos armar uma emboscada.

Todos me encaram:

- Ela vai aparecer aqui, vai ser a chance perfeita.

- Mas estamos visivelmente em menor número- comenta Will.

- Eu posso resolver isso- fala Sarah- posso trazer um pouco do meu exército.

A encaro boquiaberto:

- Sério?

- Claro- ela fala se virando- mas quem é Ela, e por que vocês a temem tanto?

Observo os presentes que conhecem a história:

- Se tudo acontecer como o planejado- respondo- você vai descobrir muito em breve.

Ando pelos corredores descendo até o jardim, chego até uma árvore grande e de troncos retorcidos, balanço as cimitarras nas mãos girando-as, e começo a descontar a raiva, de tudo, de mim por não conseguir confiar nas pessoas e afasta-las, das pessoas em quê eu confiava e agora se aliaram ao meu inimigo, mas principalmente dela por estar envenenando a mente dessas pessoas, faço um corte profundo no tronco:

"Não tenha tanta raiva de mim, eu gosto tanto de você"

Fala uma voz doce em minha cabeça:

" Em pouco tempo vamos nos ver novamente"

Sinto seus braços gelados me envolverem, e sua respiração no meu pescoço, fico incapaz de me mexer, hipnotizado, mas o gosto do seu beijo venenoso me traz de volta a realidade, dou um golpe onde ela deveria está mas corto apenas o ar, limpo a boca com a mão para expulsar o gosto doce e doentio e ouço uma risada ecoar em minha cabeça.

Continuo no jardim deitado na grama,  começo a lembrar de quando eu ficava horas aqui, com meus amigos, os únicos que eu realmente considerava, lembro deles tentando me ensinar a usar essas cimitarras, ergo o cabo que tem quatro pedras pequenas incrustadas, uma verde, outra amarela, roxa e negra, Will, Tibério, Caio e Poe, giro a arma nas mãos, o céu agora está colorido, em tons de laranja, rosa, azul e Roxo:

- Você gosta daqui não é?- pergunta se aproximando.

Inclino a cabeça para trás, mas já conheço a voz:

- Quando olho assim- explico- dá pra ver todas as cores do céu.

- Sério?

- Vem aqui ver.

Ela chega e se deita ao meu lado na grama, aponto para cima, as estrelas começam a surgir, viro o rosto para ver sua reação e sorrio, ela está com a mão sobre a boca, e os olhos cinza tempestade estão marejados:

- Céus- fala tirando as mãos do rosto- é lindo.

Concordo com a cabeça, ela passa as mãos pelo meu pescoço e descansa a cabeça em meu ombro, abraço sua cintura:

- Você tem par para o baile?- pergunto.

Ela levanta a cabeça para me olhar e a balança negativamente:

- Quem desse lugar iria querer me levar?

Concordo e ela me dá um tapa nas costas rindo:

- Então você está livre?

- Uhum.

- Quer ir comigo?- pergunto surpreendendo a mim mesmo.

- Sim.

Volto para o quarto depois de um tempo, meu peito dói, mas ignoro, tomo um banho para tirar a grama do corpo, e deito na cama encarando o teto, falta pouco tempo, fecho os olhos e durmo com tanta facilidade que sei que algo está errado.

Estou num salão enorme, completamente branco, rodeado de pessoas sem rosto, como se fossem feitas de máscaras, seus trajes de gala chamuscados, dançando no ritmo de uma música que não consigo escutar, vejo Sarah, ela está usando um vestido branco revestido de flores azuis que parecem derreter no tecido, usa uma máscara de cristal, ela se aproxima, pega minha mão e começamos a dançar pelo salão de fantasmas, então vejo ela, usando seu vestido prateado ostentando seus cabelos brancos, derrepente sinto algo perfurando meu corpo, todo o salão para, olho para baixo, vejo uma lança de gelo trespassado em meu corpo e no de Sarah, ambos caímos de joelhos, agora posso ver seus rosto, lágrimas silenciosas escorrem por ele, cristalizando quando tocam sua pele, adornando seu rosto de jóias...

Acordo gritando, apertando o peito, sentindo como se alguém tivesse esmagado meu coração.

1- Crônicas Elementares - Água E FogoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora